Capítulo 3

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Defuntos everywhere, narrado por Koko


Me escorei no corrimão das escadas, entediado, não queria mais fazer a presença de bom filho, minha mãe achava importante, mas todos ali sabiam que se eu pudesse cair fora com toda a grana e com a empresa dela eu faria. Não odeio minha mãe, mas não a vejo como tal, desde criança ela me tratou como um acessório, nunca escutei palavras sinceras vindo dela. Meu pai era o único que me aquecia o coração, e nem era tanto assim, mas sempre que ele me chamava de "filhão" ou "campeão" eu sabia que não era da boca pra fora, já minha mãe...

Quando eles se separaram meu mundo veio abaixo, nunca tive uma família de verdade, mas com a saída do meu pai, Madalena ficou mil vezes mais fria. Queria ter ido com papai, mas quando pedi para ele me levar ele disse, e eu ainda lembro, depois de todos esses anos: "louco, só pode, por que iria com um velho quebrado que nem eu? Fique com a a sua mãe e tenha uma vida boa, não se preocupe, eu ainda aparecerei".

Desci as escadas e senti dedos longos e gelados em meu pulso, quando me virei senti minha alma sendo sugada, era Alma, sócia de minha mãe, tinha a mesma idade que ela, mas parecia mil anos mais jovem por conta de todos tratamentos estéticos.

Minha história com ela era um tanto nojenta, meus amigos acham graça e me zoam por causa disso. Alma me conhece desde pia, ela era uma das amigas da minha mãe que eu mais gostava, vivia me paparicando, dando presentes e tal, e quando eu cresci não foi diferente, ainda gostava muito dela, mas de um jeito diferente... Não preciso falar mais nada... Uma vez fui na casa dela entregar umas papeladas e lá estava ela, em sua camisola de seda, eu era jovem e até um camelo comendo capim me excitava, então fizemos, e repetimos mais algumas vezes, até eu fazer 21 e descobrir o que a palavra "hímem" significava.

- O que quer, querida?

- Senti tanto sua falta, sabia, meu pequeno Koko.

Ela chegou perto de meu ouvido e sussurrou meu nome. Afastei-me de leve, não queria ser desagradável, até porque não a odiava, mas também não queria mais nada com a mulher.

- Gostaria de saber se ainda vai ir até minha mansão me visitar.

Sorri com um pouco de nojo, não vou mentir, eu tinha merda na cabeça quando mais novo.

- Alma, se me permitir eu gostaria de conversar com o futuro herdeiro disso tudo. - Uma voz grossa e rouca se aproximou, não consegui a reconhecer, mas a agradeci com todo o meu coração.

Alma fez uma leve reverência com a cabeça e se dispersou no mar de defunto.

- Ora, se não é Kaio, bem, você não me conhece, mas eu já o conheço a muito tempo, garoto.

Franzi o cenho, o dono da voz parecia ter uns 40 anos, era bonitão e bem apessoado.

- Quem é você? - Perguntei com pressa.

- Ah, vejo que já se conheceram, não é mesmo?

Minha mãe vinha com duas taças de champagne nas mãos.

- Por que deveríamos? - Perguntei, já cansado de fazer perguntas e não ter respostas.

Minha mãe sorriu, nunca havia visto todos os seus dentes perfeitamente brancos e enfileirados como naquele momento, parecia feliz de verdade.

- Kaio, meu nome é Gilberto, sou, bem, o namorado de sua mãe...

Ele estendeu a mão para mim, mas a única coisa que pude fazer foi abrir um sorriso engraçado e surpreso para minha mãe.

- Dona Madalena, quem diria, estou surpreso.

Minha mãe se fez sorridente, de orelha a orelha, tentei ser legal com ela, mas estava borbulhando por dentro, como poderia ter trocado meu pai dessa forma?

- Obrigada, querido.

Apertei a mão do meu novo "papai" e aproveitei para soltar uma verdade em forma de piada, passivo-agressivo, como sempre:

- Vou sugar tudo que você tem, assim como faço com ela... ESTOU BRINCANDO! Deveriam ter visto o rosto de vocês, hi-lá-ri-o.

Saí caminhando, feliz com o meu ato, como sempre.

Desci o segundo lance de escadas, e agora estava no meio dos velhos, não sabia direito o que eu faria, estava com raiva e entediado, o que é uma péssima combinação.

Peguei uma taça de champagne e tirei o meu cantil cheio de vodca do meu terno, em um longo gole tomei tudo, e assim virei a taça junto, quanto mais bêbado melhor.

Eu já estava na minha milésima taça, minha cabeça zunia, meus olhos embargados dançavam pelo salão, até que dei um passo maior que a perna e cai no chão, no meio de todos.

Levantei e todos me olhavam, senti meu rosto esquentar e meu estômago embrulhar violentamente, ainda zonzo corri até o banheiro.

O banheiro era gigantesco como um quarto, só que com cabines e fedor de mijo. Arrastei os pés até a pia e ali marquei meu território, vomitei tudo o que eu tinha pra vomitar, vomitei com nojo do meu próprio vômito, e daí vomitei porque eu estava vomitando, ou seja, odeio vomitar.

- Nojento.

Escutei uma voz masculina, normalzinha, falando em minha direção, virei meu rosto ainda baixado ao nível da pia para o rapaz.

- Ah, é você.

- O quer dizer com isso?

Limpei minha boca e abri a torneira no último.

- Te vi recusando o petit gateau, eu tinha te confundido com os zumbis lá da festa, com esse teu terninho desbotado e tal...

- Desbotado!? É novo, é dessa cor mesmo...

- Tanto faz, então, como é teu nome? - Perguntei passando a mão em meus cabelos e tentando ao máximo mostrar uma postura ereta, querendo ou não, teria que ser ele a vítima da noite.

Koko & DanOnde histórias criam vida. Descubra agora