Capítulo 8

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Manhã seguinte, narrado por Dan

O despertador do meu celular tocava. Que torturante! Era o mesmo barulhinho repetindo-se mais e mais vezes. E eu queria aqueles cinco minutinhos para continuar dormindo. Mas não me permiti esse luxo.

Levantei-me e fui direto ao banheiro.

Enquanto me olhava no espelho e a água que eu tinha acabado de jogar em meu rosto pingava, percebi que estava com grandes olheiras. Elas aumentavam de tamanho a cada dia. Não conseguia me lembrar de quando fui dormir. A fantasia que estava tendo deve ter se misturado com o sonho em algum momento e então caí no sono.

Comecei a escovar meus dentes e verificar os emails em meu celular. Fiquei passando por todos eles, sem ler realmente, apenas dando uma olhada em quem me enviou. Até que vi algo que chamou minha atenção e abri.

Era um email enviado pela equipe de comunicação de um shopping de que eu estava esperando a resposta. Tinha os escrito uma mensagem para que fizéssemos uma parceria e que me concedessem um lugar em meio os vários varejos e lojas do Shopping Baía. No email, eles informam que um lugar tinha ficado disponível... e que queriam uma reunião comigo naquela noite. Assim que li aquilo, comecei a pular no meio do pequeno banheiro, chegando a bater em uma parede. Murmurava palavras de vitória ainda com a escova de dentes na minha boca. Talvez essa fosse a grande chance de nos restabelecermos.

Calma, calma. É só uma reunião. Mas já era um ótimo motivo para se animar. Se conseguisse colocar uma das nossas lojas num dos lugares mais frequentados da cidade. O aroma dos perfumes e sabonetes sempre chamam atenção das pessoas enquanto caminham. Poderia dar certo.

***

Cheguei no prédio comercial ainda cedo, embora tenha perdido um bom tempo por causa de um pneu furado. Mas tinha resolvido, no final. Estava perto das dez horas da manhã. O céu, percebi, quando dirigia, estava claro e sem nenhuma nuvem. Depois de estacionar o carro, peguei o elevador e esperei até chegar ao sexto de onze andares no total.

As portas se abriram e eu fui até a nossa sede, em uma das pontas do corredor. O prédio era grande em largura, o que permitia que dividíssemos o andar com mais outra empresa. Era por isso que o grande corredor tinha apenas duas portas principais, uma em cada extremidade.

A plaquinha da porta informava "AgroMel Ltda.". Abri a porta, que dava para o pequeno salão da recepção, onde encontrei Maria, sentada atrás do balcão de informações.

- Bom dia, Maria.

- Bom dia, senhor Daniel - ela desejou de volta, com um sorriso.

Foi a única recepcionista que sobrou. Tive que demitir as outras para cortar os custos da empresa.

Logo atrás do balcão, ficava a porta para outro corredor, este com os escritórios, sala reunião e banheiro. Foi esse corredor que andei até chegar ao seu fim e ao meu escritório, o do diretor.

Assim que tinha acabado de sentar em minha cadeira estofada, ouvi batidas à porta e depois ela se abrindo.

- Oii - falou ele, sorrindo como sempre.

Não sabia explicar o porquê mas também sorri.

- Olá.

- Olá - imitou ele. - Eu diria que sua noite não foi tão boa assim.

Então ele entrou, fechou a porta e ficou em pé, no meio do cômodo. Nick não era alto, mas ainda assim média uns centímetros a mais que eu. Seus cabelos eram castanho-escuros, assim como os pelos em sua barba por fazer. A barba que imaginei roçar minha orelha pela madrugada.

- Não. Pense em tudo que é bom e depois pense o contrário. Esse contrário é como foi minha noite - disse.

Ele deu um sorriso triste.

- Ty me disse o que você fez.

Naquele momento quis bater em meu irmão, que devia estar na sala ao lado.

- Ah, então ele consegue se lembrar disso, afinal. Lembrar de arrumar os papéis de seu escritório ele não consegue.

Nick riu e a cena violenta que estava imaginando há segundos desapareceu.

- Então, você está em apuros? - perguntou ele, com preocupação em sua voz.

- Nah. Tudo foi resolvido... Quase. Mas também estou tentando resolver.

- O que você quer dizer com isso?

E então, tive um certo orgulho em falar:

-Tenho uma reunião que pode mudar tudo hoje à noite... com os executivos do shopping mais movimentado da cidade.

Nick arregalou os olhos e um grande sorriso, ainda maior do que o anterior, ocupou seu rosto.

- Sério mesmo?! - indagou, sentando na cadeira em frente a minha mesa.

- Seríssimo. E tem mais. - Ele ficou esperando. - Quero que participe junto comigo.

Então o sorriso se desfez.

- Como?

- Quero que vá comigo, hoje à noite, nessa reunião. Certamente, um dos mais importantes integrantes dessa empresa tem que estar junto.

Nick riu nervosamente.

- Sou o publicitário - disse, como se isso fosse tão útil quando o vaso de planta que enfeitava minha sala.

- O melhor publicitário que há - corrigi-lo.

- Não era Ty que deveria ir com você?

- Ah, não se preocupe. Ele também vai. Mas eu realmente preciso de você lá. Você é importante para... - pensei em completar com "mim", mas então não o fiz. - Importante para a AgroMel.

Ele gostou do elogio.

- Não deveria falar as coisas da boca pra fora.

- Não estou - afirmei. - Então, o que me diz?

Encarava seus próprios pés, pensando. E então me olhou, e meu coração bateu mais forte.

- Eu nunca recusaria - falou.

Koko & DanOnde histórias criam vida. Descubra agora