Capítulo 4

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O herdeiro de Hoja d'Oro, narrado por Dan

Eu teria ido embora se não tivesse me dado a insuportável vontade de ir ao banheiro. E agora eu desejava que o tivesse feito.

- Daniel - respondi. Achei melhor não falar mais nada.

Suspeitas, Dan. Não as levante.

- Daniel, ahn? - falou ele, esboçando um meio sorriso irônico. - Pelo menos não vou pensar que você nasceu há mais de sessenta anos.

Era um jovem impertinente. E confiante, tive que admitir.

- Qual o seu nome?

Ele se aproximou um pouco.

- Kaio, mas me chama de Koko. Todos me chamam assim.

Porra. Só fui perceber que ele era o filho da senhora Madalena naquele instante. Se antes eu já queria ter ido embora, agora eu queria nem ter aparecido ali.

- Kaio, prazer em te conhecer - falei, tentando não parecer nervoso. Estava me esgueirando para a porta quando:

- Por que a pressa, Daniel?

Kaio estava totalmente embriagado. Qualquer desculpa funcionaria.

- Tenho assuntos a tratar, Koko.

- É. Parece que todos têm. Uma senhora me convidando para visitar sua mansão, minha mãe apresentando o namorado dela... Todos têm assuntos pra tratar. Mas que vão à merda! Não quero saber de nenhum deles.

Estava muito perto da porta...

- Sabe, você me parece jovem demais. Nunca te vi em nenhuma outra das festinhas de minha mãe.

Congelei. Se ele comentasse alguma coisa, sua mãe iria a fundo? Um desconhecido em sua festa poderia ser um grande problema. E certamente havia câmeras naquela mansão. Facilmente seria reconhecido. E o plano de bisbilhotar, que já tinha dado errado, daria mais errado ainda. É isso que você ganha por querer bancar uma de espião.

- Sabe, sou um novo funcionário da empresa. Comecei semana passada.

Suor se acumulava em minha testa. Um bêbado veria isso?

- Hmm. Novo funcionário - repetiu ele, parecendo se divertir. - Escuta, senhor novo funcionário, um dia eu serei dono dessa empresa mequetrefe da minha mãe.

Mequetrefe? Essa empresa mequetrefe conseguiu roubar metade dos meus clientes. Era difícil falar a verdade, mesmo que para mim mesmo. A Hoja d'Oro se estabelecera no mercado há pouco menos de seis anos. E, na época, não pensei que seria uma ameaça a empresa de minha própria família e com certeza não ganharia das jogadas super inteligentes de marketing que meu pai sempre imaginava. Mas então chegou o dia e meu pai se fora. Os produtos da Hoja continuaram a lotar as prateleiras da própria rede de lojas, logo sendo esvaziadas pelos seus consumidores. Dezenas de linhas surgiam, com suas vendas cada vez mais perto do topo. Tive certeza de que aquela festa deveria ser para comemorar algum novo recorde de vendas.

- Sim - concordei. - E...

- E precisarei de alguém para me ajudar a comandá-la, talvez um vice-presidente - e deu seu sorriso outra vez. - Com sorte, talvez possa ser você.

Estava permanecendo tempo demais ali. E, quanto mais tempo passava, mais arriscado ficava.

- Adeus, Koko - estava prestes a me desvencilhar de tudo aquilo quando ele falou:

- Ou, se preferir, posso falar com minha mãe. Rapidinho posso fazer você ser demitido.

Ser demitido de uma empresa em que nunca trabalhei não era o pior. Eu era um intruso ali, estava invadindo. Poderia ir parar na cadeia, com certeza. Com a sua fortuna, a velha Madalena asseguraria que seus advogados fizessem eu passar uns bons meses atrás das grades.

A ideia de sair de fininho não era mais uma ideia.

- Bom, o que você quer que eu faça? - perguntei ao garoto mimado.

Ele deu uma risada e eu já me sentia arrependido.

- Existe melhor frase no mundo do que essa?

Koko & DanOnde histórias criam vida. Descubra agora