Capítulo 12

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Chuva fraca e luz verde, narrado por Dan

Fiquei o encarando, sem acreditar.

- Ótima piada - falei. Só podia ser uma.

- Ah, eu temo que não seja uma piada.

- Você é bom em jogar.

Tentava disfarçar a minha indignação. Ele ainda estava me chantageando, não podia esquecer.

- Me diga uma coisa que eu não sei.

- Sua mãe sabe? - perguntei.

- Não é da sua conta, Daniel. Aliás, sempre me perguntei porque você foi me dizer seu nome verdadeiro, sabe, na festa lá em casa.

- Não é da sua conta.

Ele fingiu uma risada, como se estivesse atuando em alguma série de TV. Bom, para esse garoto a vida deve ser como um teatro... e ele acha que pode decidir o papel de cada um.

- Cuidado, Daniel. Não agiria assim se fosse você. Ainda não esqueci do número falso.

- Eu também não agiria, mas você tá me forçando. Não controlo pessoas, se você não sabe. É mais inocente do que eu pensava.

Sonhe, garoto. Nick jamais teria qualquer tipo de relação com você. Ou pelo menos assim esperava.

Kaio parecia um pouco perturbado; sua sobrancelha direita tremia.

- Você gosta dele - falou Kaio, com olhos semicerrados. - Que bonitinho. Eu também gostei dele. Acho que o único gosto bom que você tem é quando se trata de homens porque essas roupas...

Com certeza ele tinha prática em provocar as pessoas. Devia ter aprendido torturando seus empregados quando era mais novo.

- Qual seria sua reação se nos flagrasse cometendo o grande ato carnal? - continuou - Se nos flagrasse fodendo? Não vou mentir, eu riria muito.

Era a gota d'água. De repente, a raiva tomou conta de mim. A vontade de dar um soco no rosto dele surgiu e cheguei a cerrar os punhos mas não fiz nada.

- Não vai me adiantar ficar fantasiando com um menino mimado acostumado a ter tudo o que quer. - Ele ficou mais perturbado. - E tenho uma novidade para você: Nick não é um objeto que você pode comprar. Além do mais que nunca ficaria contigo.

Dei as costas para Kaio.

Será que estava fazendo bem em dizer aquelas coisas? As mesmas palavras que falei com tanto prazer poderiam me destruir.

***

- Quem era ele? - perguntou Nick, depois de muito tempo em silêncio.

Estava dirigindo, de volta ao prédio. O leve tamborilar da chuva na lataria do carro era inquietante. Minhas mãos estavam tensas ao volante e podia sentir o olhar de Nick sobre elas.

- Ahn? Quem? - Tudo que eu podia fazer era tentar desviar do assunto. O que foi inútil, é claro.

Ele fez um estalo com a língua no céu da boca.

- O garoto no estacionamento. Quer dizer, eu vi ele na reunião. O filho de Madalena. Por que tava conversando com ele?

Suspirei.

- Não precisa contar se não quiser - falou, e senti um certo ressentimento em sua voz. Olhei de canto de olho e ele agora se concentrava na rua. - Pensei que tinha me chamado para ir junto porque eu era importante de alguma maneira. Mas se você sente que não pode confiar em mim, não precisa se incomodar em me convidar.

Eu me senti culpado e mais alguma coisa. O que era? Vasculhei profundamente. Estava com a impressão de que ele estava com ciúmes. Não, não é verdade, Dan. Cai na real. Pode ser que ele apenas esteja desconfiado de que eu esteja negociando com a Hoja e que seu emprego esteja em risco. É, isso é lógico. Só pode ser.

- Eu não planejo vender a empresa, se é que tá pensando, ainda mais para aqueles arrogantes...

- Não era isso que eu tava pensando - me interrompeu abruptamente, se virando com uma expressão séria.

Do que ele estaria duvidando, então? ...Será?

Sinal vermelho. Quando eu parei o carro, fitei seu olhar. Nossos rostos estavam a pouco mais de trinta centímetros e nenhum piscava.

- Eu... eu... - gaguejou. - Eu só quero saber se... Eu não sei. - Sorriu, mas era triste - Não sei porque estou cuidando da sua vida. O sinal está verde.

Mesmo ele apontando para o semáforo, eu não avançava. Mesmo com as buzinas.

- Dan. O sinal tá verde - falou, mas seu olhar voltou a se fixar no meu. Apenas sua boca se mexia.

- Eu sei.

A garoa molhava o teto sobre nós.

- Dan... - ele disse. A distância agora era menos de trinta centímetros.

- O que? - sussurrei. Não dava atenção para as buzinas nem para nada.

- Eu só quero saber se...

Já estávamos trocando o ar da respiração.

- Se... - incentivei.

- Se você tem alguém especial na tua vida.

Tem.

Assenti, e foi suave, diferente de meu coração, que estava batendo incontrolavelmente. Ele sorriu de novo, parecia hesitar mais.

- Quem?

Era a hora, tinha certeza.

Aproxime-se.

Então eu fiz.

E, depois de tanto tempo, consegui saber o gosto dos lábios de Nick.

Koko & DanOnde histórias criam vida. Descubra agora