Menopausa, narrado por Koko
Ele parecia bravo e confuso, o pneu do carro havia furado. Chutava o pneu de seu carro como se ele fosse magicamente consertar sozinho. Ele soltou o step e pegou uma caixa de ferramentas, parecia não saber o que fazer dali pra frente.
Achei a cena toda engraçada, as caretas que fazia, parecia que estava prestes a chorar de raiva.
Peguei o celular e procurei em minha agenda seu número e disquei. Mas nada, o número que ele havia me dado estava desligado, pensei que talvez ele tivesse desligado o celular, até que vi ele tirando um telefone do bolso e digitando.
Fiquei puto, como pode, um merdinha daqueles me deu esse fora, não iria deixar barato, assim que chegasse em casa falaria com minha mãe pra que ela demitisse esse bosta.
Quando cheguei em casa subi as escadas batendo os pés, entrei na sala de jantar, onde fazíamos todas as nossas refeições e abri as grandes portas com um empurrão.
- EU VOU MATAR AQUELE MOLEQUE! - Minha mãe gritou, apoiada à mesa com as duas mãos, sua cabeça caia sobre os ombros.
A mesa, que era grande, estava completa com homens e mulheres engravatados, apenas um lugar estava vazio, o da ponta, supus ser o meu.
- Mãe, o que houve?
Gilberto levou e botou as mãos atrás das costas, e estava pronto para falar algo, então o interrompi.
- Gilberto, você é minha mãe? Bom, é mais bonito que ela, mas não é, então me poupe de sua voz.
Gilberto sentou-se com o rosto queimando, o vermelho era mais forte que meu cinto Prada novo.
- Mãe?
Ela virou o rosto em minha direção e só então percebeu minha presença.
- Querido, coma, o café está na mesa.
- Me diga o que está acontecendo. Que muleque é esse?
Na hora eu havia até esquecido Daniel, aquilo parecia mais importante do que um funcionário inútil.
- O bosta do dono da AgroMel, pendejo de mierda!
Ri, fazia anos que não escutava minha mãe falar em espanhol, ainda mais xingamentos.
- Que isso? - perguntei, ingênuo.
- AgroMel é nossa concorrente, na verdade, eles estão, ou estavam… - ela fez uma longa pausa - falindo, acontece que quando mudamos nosso ramo para cosméticos, tiramos todas las basuras que eles chamam de produtos das prateleiras.
- Ok, mas ainda não entendi o problema.
Minha mãe se sentou e tomou um gole de seu café. Parecia exausta. Sua assistente começou a falar em seu lugar.
- Acontece que por muito tempo fomos nós que enchemos as prateleiras de todas as lojas possíveis, bom, até o momento, sua mãe foi convocada a comparecer em uma reunião junto ao dono da AgroMel, parece que o shopping principal da cidade quer dar uma “mudada”, quer tirar metade de nossos produtos para dar espaço a AgroMel.
- ¿Qué hacemos ahora?
Minha mãe deu de ombros, como se fosse óbvia a resposta.
- Gilberto e eu iremos até essa reunião idiota, e veremos.
Fiz um sinal de pare com a mão, fechei os olhos e tentei me por em postura de um adulto.
- Los dos están casados? ¿Se aman? - perguntei à minha mãe, que parecia surpresa.
- No, por que a pergunta?
- Não, por que levar o filho para uma reunião sobre o futuro da empresa que um dia será dele? Leva el novio, certo?
Madalena revirou os olhos.
- Hijo, claro que tu vai junto, ¿Creyó qué? Que eu ia te deixar em casa coçando o saco enquanto eu resolvo tudo sozinha, já está na hora de se envolver nos assuntos da empresa.
Mas é claro que a velha iria dar uma de mãe exemplar, cheio de gente na sala, ela já estava pronta para o showzinho.
- Muy bien, mama.
Mais tarde fui até o escritório de minha mãe, resolver o assunto sobre o funcionário novo, quando entrei vi alguns de seus funcionários novos, achei que veria Daniel, mas ele não estava.
- Com licença, mãe, quero demitir alguém.
Minha mãe esboçou um sorriso desconfortável e arregalou os olhos.
- El amor de mi vida, estamos en una reunión, sea menos mimado?
- Mamá, hablando en su lengua materna para no pasar vergüenza en la mejilla de los demás, que linda.
Ela sorriu amavelmente para os funcionários que pareciam confusos com a língua que talvez eles nem sabiam que existia.
- De quem se trata?
- Bom, Daniel, ele disse que é novo na empresa, mas vi que faltou à reunião, o demita, já, por favor.
Madalena parecia confusa, e uma das moças que estavam a frente de sua mesa respondeu.
- Não temos nenhum Daniel novo na empresa.
Agora era minha vez de ficar confuso.
- Como não? Ele compareceu até a festa de aniversário da minha mãe. Tem certeza que não está esquecendo, Madalena?
- Como eu esqueceria dos meus próprios funcionários?
- Yo no se, está demasiado vieja.
A garota que havia respondido alguns minutos atrás riu, parecia que sabia espanhol muito bem.
- Kaio, saia, por favor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Koko & Dan
RomanceO que você faria se fosse um membro importante de uma grande empresa e também apenas um jovem tentando decifrar os grandes "porquês da vida"? Se não soube responder essa pergunta, Koko e Dan muito menos. Dois jovens no mundo dos negócios que precisa...