Capítulo 10

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A reunião, narrado por Dan

Na mesma manhã, pouco antes do almoço, tive uma reunião com os acionistas da empresa, que não estavam nada contentes com o rumo que ela estava tendo. Tentei contornar algumas questões mas a verdade é que não estava prestando muita atenção neles. Estava pensando em Nick.

Apertei o botão do elevador. Segurava uma rosquinha açucarada mordida na mão direita e esse era o meu almoço do dia. Não tinha vontade de me sentar para comer todo um prato com arroz, feijão e etc. Tinha comprado a rosquinha na lanchonete que havia no mesmo prédio.

As portas do elevador se abriram então entrei, mas muito rápido. Tão rápido que tropecei e quase caí. Ouvi uma risada atrás. Era Ty.

- Você conhece o ditado, não é? Devagar se vai longe.

Ty também segurava seu almoço em uma das mãos, um pastel.

- Às vezes, não temos tempo para ir devagar - respondi, amargo.

- Eita - deu uma mordida em seu pastel. - Vou tomar cuidado para você não me bater. O que houve? - Ele entrou no elevador junto comigo e então as portas se fecharam.

- Nada.

- Ah, então foi grosseiro com teu irmão só pelo prazer?

Terminei de comer minha rosquinha dando uma última dentada.

- Para de frescura. Se continuar assim, nem te levo na reunião.

- Como se tudo que eu fizesse precisasse da sua aprovação, irmão. - E riu. - Só estarão os executivos e representantes do shopping?

- No email não informaram exatamente como seria ou quem estaria.

- E que horas termina?

- Não faço a mínima ideia. Só sei que começa lá pelas nove. - Ty estava fazendo perguntas demais, então era minha vez de querer saber: - Por quê?

- Amanhã eu prometi a Marcelle e às crianças que íamos no parque, logo pela manhã. Quero ver se vou ter uma boa noite de sono.

- E, por falar neles, como estão meus sobrinhos?

- Bem... Estão muito energéticos ultimamente.

Dei uma curta risada.

- É, crianças são assim.

Ty também terminou seu almoço.

- Quando vai ter as suas?

Quando as portas se abriram no andar seis, olhei para Ty, sabendo que era uma piada, então ele começou a gargalhar.

- Calma, irmãozinho. Sei que não gosta de crianças - falou, enquanto caminhávamos de volta à sede.

- Eu gosto de crianças. Só não gosto da ideia de ter que cuidar delas.

- Ha.

***

Eu estava de pé, meu braço junto ao corpo. Tamborilava os dedos na minha coxa nervosamente.

Estava no estacionamento coberto, abaixo de todo o prédio, perto de meu carro. Para minha alegria, Nick aceitou a carona que tinha oferecido. E agora estava ali, o esperando. Meu estômago se revirava e não era por causa da rosquinha de mais cedo. Como era aquele sentimento mesmo? Borboletas no estômago, alguma coisa assim? Coloquei minha mão em forma de concha sobre minha boca e verifiquei se estava com mau hálito.

Vi ele chegar, saindo de trás de um carro. Ele acenou para mim, ao longe. Meus dedos pararam de tamborilar e começaram a tremer levemente. Teria uns poucos minutos com apenas nós dois no carro.

***

- ...daí troquei de curso. Não tava mais aguentando aqueles professores metidos do antigo. Eles queriam fazer parecer que sabiam tudo no mundo.

De alguma forma, o assunto tinha chegado a sua vida acadêmica. Para mim, o que ele falava não fazia tanta diferença, desde que estivesse falando. O poente já se aproximava e pincelava o céu com uma paleta de belas cores, misturando laranja com amarelo, vermelho com púrpura.

- Então você decidiu trocar? - perguntei.

- Exato. Mas dessa vez ia decidir algo que tinha mais a ver comigo.

Virei uma esquina e já conseguia avistar o shopping. Ty já devia estar lá, nos esperando.

- Meu amigo queria que eu entrasse em gastronomia, junto com ele - Nick riu. - Não consigo nem mesmo fazer um ovo frito direito.

Também ri, mais por ele estar rindo.

***

Depois de estacionar o carro e tudo mais, encontramos Ty, que nos aguardava um pouco ansioso. Ficava coçando sua barba a cada dez segundos. Eu tive que aceitar que também estava com certa ansiedade.

Caminhávamos no bloco do shopping que não era permitido para os clientes entrarem. De repente, um homem de terno nos avistou pelos corredores e foi até nós.

- Senhores, posso ajudar?

- Sim, temos uma reunião marcada...

- Ah, sim. Vocês devem ser da AgroMel, suponho?

- Somos - respondi.

- Me sigam, por favor.

Subimos uma escada e passamos por vários corredorezinhos até chegar às enormes portas de carvalho com detalhes que pareciam ser feitos de prata. Era a sala de reuniões.

- Podem entrar, estão esperando por vocês.

Foi meu irmão quem abriu a porta para entrarmos no enorme salão. O soalho, assim como as paredes, eram feitos de madeira. Pinturas de animais selvagens, como onças e guepardos, estavam decorando a sala. Havia até mesmo uma cabeça de tigre como ornamento, que parecia ser muito real, com seus olhos negros me encarando.

Meu olhar bateu na grandiosa mesa circular, que ocupava quase todo o recinto, e em quem sentava nela. Eram nove pessoas no total. Sete eram totalmente desconhecidas para mim. Mas havia duas em que travei ao olhar.

Madalena e seu filho estavam lá.

Koko & DanOnde histórias criam vida. Descubra agora