O Rubens estava na sua sala pensativo observando pela janela as luzes dos edifícios próximos. Haviam muitas nuvens no céu bloqueando o brilho das estrelas. O seu momento de reflexão foi interrompido com o ranger da porta.
— Todo mundo já foi embora nessa editora e você continua aqui fazendo o que meu irmão? — Dizia o Kaio todo sorridente.
"Irmão" era assim que eles se chamavam. O Jefferson Rustichelle que também era o fundador da A Editora™ tinha falecido dois anos atrás por um acidente de carro.
— Olá irmão. Você sabe que eu gosto de ficar aqui na minha sala refletindo quando todos já foram para as suas casas. — Ele segurava um copo. — Quer um pouco? — Ele apontou para a garrafa de conhaque.
— Um gole para comemorar as nossas ótimas vendas. — Ele pegou um copo e se serviu.
— Era disso que eu queria discutir contigo. — Rubens se virou e sentou em sua cadeira encarando a mesa com alguns papéis de orçamento do mês. — As vendas estão ótimas e isso eu não posso reclamar. Mas existe algo estranho irmão. As vendas se referem aos autores mortos. Eu estou preocupado com a ética desta empresa.
— Ética? — Kaio ficou confuso. — O que você está insinuando?
— Eu não quero levantar um falso testemunho, ou acusações utópicas. Eu só acho que deveríamos realizar uma investigação precisa sobre o andamento das publicações dos livros e o desenvolvimento da distribuição.
— Você está tentando dizer que a minha mulher está por trás de algum plano criminoso? — Kaio se referia a Roberta Scott.
— Como eu tinha dito anteriormente. Eu não quero levantar nenhuma acusação. Mas nós devemos pensar nesta hipótese em respeito aos nossos autores.
— Você está desrespeitando e desonrando a nossa empresa criando uma hipótese criminosa sobre uma funcionária que está fazendo de tudo para que essa editora cresça financeiramente. — Kaio se irritou com a hipótese de Rubens.
— Outra coisa que está me incomodando. — Ele tomou o último gole que tinha no copo. — Nós não criamos a A Editora™ com intuito de ficarmos rico. Você se lembra quando era um autor desconhecido e ficava frustrado porque as editoras não visavam a arte, mas sim os lucros?
O Kaio se lembrava de como era difícil na época conseguir uma publicação com uma editora renomada. E era por causa disso que ele, o Rubens e o falecido Jefferson se uniram para criar a A Editora™ com propósito de visar a arte acima de tudo.
— Rubens, naquela época não tínhamos preocupações em manter trabalhando vários funcionários para a literatura.
— Mas estamos guiando esses funcionários a trabalhar se baseando em injustiças. A Roberta Scott se negou a publicar um original incrível esses dias.
— Calma. Isso tudo é por causa de um original? — Kaio debochou. — Irmão se acalme. A empresa está crescendo. A concorrência está tremendo com os nossos materiais se tornando best-sellers. Inúmeros autores querem publicar conosco. Você quer criar um mal-estar na empresa por causa de um simples original?
— Eu quero brigar pela arte. E se o Jefferson estivesse vivo ele estaria de acordo.
— Como se a arte iria nos proteger da crise. — Kaio não bebeu o resto que estava no copo e largou na mesa do Rubens. — Se você quer o meu apoio a respeito de alguma investigação saiba que eu não estou de acordo.
Ele se levantou e foi em direção a porta.
— Kaio não se esqueça da sua raiz, e não seja tão ingrato. A cobiça sujará a sua alma artística. — Rubens tentou convencê-lo. — Volte a lembrar do propósito da A Editora™. O objetivo de ignorar os números e glorificar a arte.
— Meu irmão eu respeito você, mas não sonhe tão alto. Retorne para a realidade. — Kaio encarou o Rubens. — Porque a arte está morta.
O Kaio fechou a porta sem se despedir e o Rubens continuou sentado fitando o vazio. Ele ficou refletindo e tentando entender como o dinheiro tem tanto poder para mudar um artista criativo em um sanguessuga financeiro.
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A Editora™
General Fiction"Quanto vale a morte de um escritor para uma editora?" Essa é a pergunta que o jornalista, Lucas Duarte, quer ver respondida após cogitar, e perceber, que uma editora estaria lucrando com a morte de alguns autores renomados. Um jovem escritor chamad...