Madras, Índia

295 39 15
                                    

     Senti uma estranheza em meus dedos, assim que o meu pé tocou a areia. Como posso descrever? Aqueles infinitos grãos que formavam o chão da praia, eram estranhamente agradáveis. A sensação deles adentrando minhas unhas era incomum.

     -Que barulho foi esse? –Harmonia indagou, enquanto bocejava.

     -Saia da concha, Harmonia! –Exclamou Afrodite. –Precisamos devolve-la ao mar antes que os mortais a veja.

     A deusa da paz se levantou e saiu da concha aceleradamente para poder cedê-la ao oceano. Afrodite acenou para Malákia, antes dela desaparecer nas ondas.

     -Vamos para a cidade! –Continuou.

     Ao longe, alguns humanos corriam pela praia, aparentavam estar curiosos.

     -Ouviram o estrondo que a concha fez. –Harmonia suspirou.

     -Hora, o barulho não foi tão alto assim. –Afrodite desmentiu.

     -Mamãe, você deveria ter sido um pouco mais cuidadosa desta vez.

     -Certamente, serei ainda mais cautelosa na próxima. –A deusa da beleza tirou cuidadosamente seus saltos de pérolas dos pés e caminhou sem eles em direção aos mortais.

     -Vai ser como a última vez em que viemos aqui! –bufou Harmonia, no tempo em que começava a segui-la.

     -Como foi a última vez? –Perguntei, enquanto também caminhava, a encarando.

     -Foi há quase um século. Minha mãe, meu irmão Eros e eu viemos pra cá em busca de diversão, mas acabamos chamando muita atenção dos mortais. Tivemos que ir embora ás pressas... –De repente, Harmonia se calou e ficou indignada.

     Me virei para observar, haviam três mortais do sexo masculino parados em nossa frente. Todos tinham a pele amorenada, cabelos curtos e escuros e vestiam mantos brancos. Pareceriam cópias de uma só pessoa, se seus rostos não fossem diferentes uns dos outros. Estavam deslumbrados com a nossa vinda, como se fossemos diamantes nas quais eles contemplavam .

     -Namastê! –Disse o homem mais alto entre eles.

     -Namastê! –Afrodite repetiu, sorrindo delicadamente.

     -O que isso significa? –Cochichei para Harmonia.

     -É uma saudação. –Respondeu.

     -Aap kaun hain? –O mesmo mortal demandou em uma língua incompreensível por mim, enquanto olhava para nós.

     -Se concentre Lana, assim entenderá o que dizem. –Afrodite murmurou, ao perceber que eu não entendia a língua dele.

     Respirei fundo e foquei nas palavras indianas.

     -Quem são vocês?! –Ele novamente perguntou, só que dessa vez, parecia ser totalmente compreensível.

     -Sou Mainara, esta é Manu... –Afrodite disse, me apresentando. –E esta é Odara. –Harmonia.

     -Olá para todas vocês. Eu sou Raj e estes são Babar e Nandin. –Exibiu os homens ao seu lado.

     -Por que não disse nossos nomes verdadeiros? –A questionei, sem pronunciar a língua hindu.

     -Temos que manter nossa identidade em segredo. –Harmonia respondeu. –Sempre que te perguntarem... Diga que seu nome é Manu!

     Concordei com a cabeça.

     -De onde vocês são? –Nandin perguntou.

     -Somos do Norte da Índia. –Mais uma vez explicou a deusa da beleza, como se falasse por todas nós.

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora