Ganesha Chaturthi

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     As alamedas de Madras encontravam-se absolutamente cheias de mortais, que por sua vez cantavam e dançavam. O som dos tambores e dos violões davam vida à cidade. Pareciam estar comemorando algo.

     Todas as casas e edifícios vistos por lá, eram repletos de figuras em homenagem à Ganesha, o homem elefante. Também haviam carroças por todos os lados que vendiam as mesmas estátuas.

     Como uma falsa divindade poderia ser tão adorada?

     Observei a multidão em minha volta, e percebi que todos tinham traços idênticos aos de Raj, Babar e Nandin. Me perguntei se eles estariam na cidade, após as outras deusas e eu termos nos despedido deles na praia.

     Eu não me sentia desconfortável em meio aos humanos, o entusiasmo e a alegria que debandavam me lembrava às festas do Monte Olimpo. Contudo, aquela figura de tromba e orelhas grandes me deixava incômoda, como se ela estivesse tomando a adoração de minha mãe.

     Quase todos os indianos estavam marcados com uma pinta vermelha no centro da testa.

     -O que são essas pintas vermelhas? –Perguntei a Afrodite.

     -É uma maquiagem que fazem para representar o terceiro olho místico dos mortais.

     -E realmente há um terceiro olho? –Indaguei, desconfiada.

     -Não importa. –Sorriu. –Venha! Vou fazer uma dessas em você! –Ela me guiou até uma bacia de tinta desamparada na rua, distanciando-nos de Harmonia que admirava os pombos brancos.

     -Você parece adorar tudo isso. –Eu arbitrei, ao perceber que os olhos de Afrodite cintilavam todas as vezes que viam a multidão.

     -Sim, eu adoro. –Expressou, enquanto molhava seu dedo indicador na tinta vermelha e marcava um ponto, no centro da minha testa. A cor rapidamente se secou.

     Vislumbrei novamente a multidão, que era inquieta e barulhenta.

     -Há sempre festas por aqui?!

     -Isso não é bem uma festa. É uma comemoração que fazem todos os anos em celebração ao aniversário de Ganesha. –Ela também se marcou com a tinta. –Acabamos vindo em um dia perfeito!

     -Acho que não deveríamos estar aqui. –Franzi a testa. –Não é errado estarmos no meio de um evento que cultuam um deus imaginário?

     -Manu, acho que você deve levar isso para o lado cultural. –Sorriu, como sempre fazia. –Tente relaxar e ser uma mortal, como eles. Prometo que irá gostar do festival!

     -Tudo bem, vou me esforçar. –Concordei, afim de tentar me divertir.

     -Deixe a energia dos humanos fluir em você! –Afrodite disse em voz alta, durante o tempo em que largava a bacia de tinta no chão e girava seu corpo conforme os mortais dançavam. –Sinta! –Ela desapareceu na multidão.

     Subitamente, o som agudo de uma corneta ecoou pelos ares.

     -Eles estão vindo! –Vozeou uma idosa ao meu lado, que vestia um sári verde.

     -Eles começaram mais cedo este ano. –Disse Harmonia, aproximando-se de mim. –Onde está a minha mãe?

     Olhei para todos os lados e não encontrei o cabelo louro de Afrodite, nem o seu véu cor-de-vinho. Ela havia sumido.

     -Eu não sei, ela começou a dançar até que entrou na multidão e dissipou.

     -Ela deve ter se entusiasmado! –Riu. –Vamos encontrá-la em breve.

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora