Gaia, a mãe primordial

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     Essa havia sido a atitude mais séria que tomei ao longo da minha vida, deixar o Monte Olimpo nunca esteve em meus planos, mas foi preciso. Ver o dia nascer com a dança de Hemera e Apolo, e acabando com o despertar de Dísis, não tinha mais graça.

     A aspiração por ser livre aumentava a cada batida do meu coração, espero que tudo ocorra bem no palácio sem mim. Atena não me seguiu depois que passei por aquele corredor, talvez estivesse conformada com minha ida, as lágrimas que caíram de seu rosto em seguida, causaram dor em meu peito.

     Muitas coisas estavam em meus planos agora: descobrir minha representação na natureza, explorar o mundo e os mortais, conhecer Ganesha e principalmente os outros deuses.

     Para onde eu iria a partir de agora? Tantos destinos! Mas como eu não sei voar, tudo se limita a apenas andar pela Grécia.

     O jardim das Horas era um paraíso na qual eu habitaria se pudesse, as deusas me pediram para permanecer quando passei por lá, mas não era o melhor lugar, ficava muito perto do Olimpo.

     O sol iluminava bem a floresta naquela tarde, parei de caminhar e me sentei sobre o solo, pensei que Gana poderia estar exausto depois de andar muito.

     -Desculpa, às vezes me esqueço de que você é um ser mortal.

     Ele bramiu normalmente, parecia não estar nada cansado.

     Coloquei a lança no colo e peguei a ambrósia, que havia colhido no jardim, justamente para curar o corte no meu polegar. Pensei em oferece-la ao elefante, mas me lembrei de que ela tornava os seres imortais. A ambrósia poderia matar aquele que a roubasse, mas se uma divindade a oferecesse, o tornaria eterno.

     -Acho que você não quer viver para sempre. –Mordisquei o fruto macio. –Não é legal, nem uma dádiva, é uma maldição.

     O corte sumiu rapidamente, junto com a dor, mas o sangue que havia escorrido permaneceu. Aquela cor dourada me trouxe mais uma incerteza, pois nem mesmo a deusa da riqueza, Tique, tinha o sangue semelhante a ouro.

     Deusa do ouro, eu poderia ser? Acho que não!

     Logo, tornei a caminhar, sem saber para onde ia, até que o som de águas correntes tomou o silêncio da minha direção. Atravessei a mata procurando por um rio, já que Gana poderia estar com sede, e me intimidei ao ver que uma moça se banhava num riacho.

     -Olá?! –Exclamei, para que ela pudesse saber que eu estava ali.

     -Ah! –Ela berrou, ao espantar-se com a minha voz, e escondeu o corpo nu com seu gigantesco cabelo castanho dourado.

     -Perdão! Eu estava à procura de um rio e não imaginei que haveria alguém aqui.

     -Não tem problema. –Ela se acalmou.

     -Você é uma ninfa? –Indaguei.

     -Somos metade ninfa e metade deus. –Respondeu, no plural, com sua voz baixa e tremula.

     Imediatamente, me lembrei da história sobre um deus que era amado intensamente por uma ninfa. O desejo dela por ele era tão exagerado que quando o abraçou, no momento em que passeava pelo rio, se fundiram em um só corpo intersexual, hibrido de homem e mulher.

     -Como você se chama? –Perguntei, na esperança dela ser essa combinação extraordinária de ninfa e deus.

     -Hermafrodito. –Como eu imaginei, a fusão do filho de Hermes e Afrodite com a ninfa Salmacis. –E você?

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora