Lampéi

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     -Será que preciso te dar um nome? –Perguntei a mim mesma, enquanto observava o elefante vagando em meu grande aposento.

     Não era apenas a sua cor que o fazia ser diferente dos demais seres de tromba, seu tamanho também era bem peculiar, alcançava a minha cintura. Geralmente os elefantes adultos atingiriam meus joelhos.

     Me levantei da cama e caminhei até o guarda-roupa –Este era o dia em que Hefesto retornaria, com a lança– logo, um curto vestido prateado me chamou a atenção, ele também havia sido um presente das Horas, séculos atrás.

     O elefante bramiu ao meu lado, me encarando.

     -Isso foi um sim ou um não para o vestido prateado? –Sorri para ele.

     Mais um bramido, exatamente igual ao anterior.

     -Vou considerar como um sim. –Fui com ele até a frente do espelho, e o coloquei sobre mim.

     Acho que está bom!

     Me virei para ver o elefante que estava atrás de mim, observando o meu reflexo no espelho, ajoelhei no cristal do chão e o mimei com um carinho na tromba.

     -Você se parece com Ganesha. –Murmurei. –Mas seu nome não poderia ser este, pois todos do Olimpo, inclusive minha mãe, perceberiam que eu conheço o deus hindu. Talvez seja melhor eu te chamar de Gana! É a junção do meu nome com o dele.

     Ele abraçou meu braço com sua tromba, acredito que como um gesto de concordância. Desse modo, notei que uma de suas presas era bem menor do que a outra.

     -Você deve ser um elefante muito especial. –Sugeri.

     Assim que já estava de pé, comecei a sentir um forte odor de peixes, que impregnou todo o aposento. Me vesti o mais rápido que pude e corri sozinha até o salão, de onde o cheio era mais forte.

     -O fedor conseguiu chegar em seu aposento? –Perguntou Harmonia, próxima às escadas, tapando o nariz.

     -Sim, de onde ele vem? –Procurei por todos os cantos algo que justificasse o mal cheiro.

     -Desconfio que seja Poseidon, chegando no Monte Olimpo. –Enunciou Afrodite na mesa, abanando seu rosto com um comprido leque roxo.

     Fui até a ventana para ter visão ao mar, quando percebi que de fato o deus dos mares estava a vinda, montado em uma de suas criaturas marinhas.

     -Você acertou, Afrodite.

     -Espero que ele não fique por muito tempo, seu cheiro marinho me dá náuseas.

     O rei dos oceanos era muito belo por seus longos cabelos amarelos e pele azul clara, mas fedia como atum e isso era uma desvantagem para ele, pois nunca conseguia uma esposa que o amasse por muito tempo.

     -Partirei para fora do Olimpo! –Harmonia logo flutuou. –Sinto que discórdia vem por aí. –Ela saiu voando para fora da abertura.

     Me sentei em um dos tronos.

     -Mamãe está fora, então acho que ela não saberá que Poseidon esteve aqui.

     -Espero que sim. –Ela tornou a abanar o leque mais rápido. –O cheiro está ficando forte!

     Uma gigantesca onda repentina adentrou o salão pela ventana, dando forma a um homem forte que segurava um tridente.

     -Eis que estou em terra firme! –Poseidon respirou fundo, como se não inalasse o ar há um bom tempo, depois olhou para o quartzo, onde alguns peixes se debatiam. –E parece que não sou só eu. –Ele os lançou de volta para o mar e continuou. –Onde está Zeus?

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora