Lana, a filha de Palas Atena

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     A infância, com toda a certeza, foi a melhor fase da minha vida. O palácio costumava ser mais interessante, onde eu corria por todos lugares e nunca me perdia. Mesmo sendo a morada de deuses sérios, como Zeus, nunca deixei de me divertir, e isso significava pular sobre as escadas, pregar peças em algumas deidades, ir escondida às festas do Dionísio, e gargalhar pelos cantos.

     Atena sempre foi uma mãe impassível e séria, que nunca deixou me faltar nada, principalmente a educação e sabedoria. Acredito que seu caráter severo seja dessa forma, em razão dela já ter nascido adulta e esperta, assim, nunca possuído ingenuidade, nem a chance de ser criança.

     Me lembro perfeitamente de um dia, o qual minha mãe tinha acabado de voltar para o Olimpo, após um pacífico combate de tropas contra Ares, o deus da guerra. Eu lia um exemplar sobre navegação, que pertencia a uma estante de livros do aposento dela, ele me deixava entediada sobre as escadas da grande abertura do salão. As minhas pequenas mãos se perdiam em meio àquelas infinitas páginas. Apesar dos livros de Atena possuírem escritas com vocábulos difíceis, nunca foi um problema compreende-los.

     -Olá, Lana! –Ouvi a deusa exclamar, após pisar o chão, parecia estar de bom humor.

     -Olá, mamãe! –Abri um grande sorriso.

     Atena costumava ficar até dias fora do Olimpo, graças às suas exaustivas tarefas. A ausência dela colaborava para que minha saudade aumentasse drasticamente.

     -O que está folheando? –A deusa colocou seus itens sobre o quartzo, se sentou ao lado e pegou todo o meu cabelo, com intenção de fazer uma trança.

     -Viagem marítima dois. –Virei-me à ela, expondo o tédio em minha face. –É a continuação de um outro livro sobre navegação. Nele, existem diversos tipos de monstros marinhos e sereias, que foram catalogados pelo tripulante de um navio chamado Oceans.

     -E está aprendendo muito?

     Parei para pensar. O livro em si era cheio de informações, mas não tinha nenhuma aventura que pudesse torna-lo um pouco mais interessante, isso me fazia cansar facilmente da leitura.

     -Ele tem muito conhecimento, mas me deixa entediada.

     -Por quê? –Ela jogou a trança já pronta em meu ombro.

     -Ele não tem nenhuma aventura, é um pouco chato. –Soltei da minha boca, a sinceridade infantil não me deixava mentir.

     Atena tirou o elmo dourado da cabeça, balançou seus adoráveis cabelos ondulados e arcou a sobrancelha, pronta para me dar alguma lição de moral.

     -Todos os livros da minha estante foram escritos por mim, milhões de mortais dariam a vida por esse conhecimento armazenado em folhas de papel! Para deixá-los ainda mais agradáveis, criei personagens que contam as histórias, como o tripulante do navio Oceans. –Definitivamente acabei com o bom humor dela.

     -Entendi. –Entortei o sorriso e abaixei a cabeça, arrependida de ter criticado o livro.

     -Você já alcançou o capítulo que fala sobre as hidras? –Ela me viu silenciada e tentou recuperar a conversa –Ele é divertido.

     -Não. –Comecei a revirar o livro, procurando pelo título, até que não encontrei nada. –O que é hidra?

     -A hidra é um dragão de cinco cabeças que não cospe fogo, mas que possui um hálito venenoso para os mortais. –Ela abriu bem os olhos e aí pude ver em suas pupilas, que ilusionavam tudo o que ela quisesse, um monstro horrendo que habitava as profundezas dos mares. –Herácles, meu meio-irmão, derrotou a Hidra de Lerna, mãe de muitas iguais a ela.

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora