Harmonia, a deusa da paz

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     -Por que não me contaram sobre os deuses hindus? –Foquei nas duas deusas, enquanto viajávamos.

     -Não contamos para evitar um desentendimento entre você e Atena, mas não adiantou. –Harmonia respondeu, enquanto observava o mar.

     -Então não teve sentido me levarem para Madras, se queriam me esconder isso.

     -Você precisava ver a cultura indiana com seus próprios olhos. –Afrodite se concentrou em seus dedos, que massageavam a pele de Malákia.

     -Bom... Acho que foi a melhor coisa que fizeram por mim. –Escorei-me na parede azul-celeste da concha, pus a lança no colo e coloquei os cabelos sobre os ombros. Não disse mais nada depois disso.

     Ficamos em silêncio por algum tempo, até que Afrodite avistou uma pequena ilha, entre o céu azulado e a imensidão do mar. Ela era rochosa, possuía um vilarejo, e sua praia era banhada por águas cristalinas. Não dava para ver bem o lugar, mas parecia ser habitado por humanos.

     -Precisamos ir até aquela ilha! –A deusa fez uma expressão de espanto quando olhou para ela.

     -Por quê? –Harmonia esticou as mãos em cima das sobrancelhas e tentou ver melhor o que estava no horizonte.

     -Sinto que há uma discórdia entre os homens que moram nela. Não falo de discórdia humana, mas sim, de discórdia divina!

     -O que isso quer dizer? –Perguntei.

     -Acredito que tenha algum deus perverso manipulando esses mortais. –Afrodite afundou ainda mais os dedos em Malákia e a concha se dirigiu à ilha.

     Mamãe havia confiado em Harmonia, para que a viagem fosse pacífica, então o que adiantaria se a deusa da beleza nos levasse para uma ilha, onde houvessem conflitos? Não seria uma boa ideia, mas, achei que seria melhor ajudarmos os humanos, se realmente um deus perverso fosse o responsável pelas desavenças.

     Chegamos de imediato na costa da ilha e nossos corpos encolheram, como eu já esperava que acontecesse. A concha aterrissou delicadamente na areia, então descemos. Foi muito bom não atingirmos a praia, como aconteceu em Madras.

     Em nossa volta, diversos homens batalhavam entre si, quase que até a morte. Alguns lutavam com espadas e facas, outros lutavam com as mãos e os pés, eram muitos os que caíam no chão. À vista disso, Afrodite caminhou até uma certa proximidade deles, com um olhar de desgosto em vê-los guerreando, e beijou uma de suas mãos, para lançar uma grande nuvem rosa sobre eles. No mesmo instante em que respiraram ela, os mortais pararam de se confrontar, jogaram suas armas no chão e passaram a se abraçar e se oscular.

     -Eu odeio discórdia! –A deusa aplaudiu a si mesma e riu. –Milos é lugar para amor.

     De repente, uma sinistra risada manifestou-se, próxima a uma rocha. A graça era de Éris, a deusa do caos, que não continha sua gargalhada. Seu visual era inconfundível: cabelos vermelho-escuro, olhos da cor do fogo, pele pálida, e roupas pretas provocantes.

     -Ora, ora... –Ela deu passos à frente. –Quem diria? A deusa do amor por aqui. Veio acabar com a minha diversão?

     -Isso não é diversão para ninguém, Éris! –Afrodite arcou a sobrancelha e cruzou os braços. –Só para você, que gosta de causar infelicidade nas vidas alheias.

     -Tem razão! –Na palma de sua mão surgiu uma pequena fumaça negra, a qual relampejava como um céu chuvoso. –Eu amo causar infelicidade!

     Éris atacou a fumaça sobre a cabeça dos mortais, que expandiu seu tamanho e cobriu a nuvem rosa. Portanto, a concórdia teve fim e outra guerra começou. A deusa da beleza fitou Éris com muito ódio, e repetiu a ação de lançar o beijo pelos ares. A paz retornou.

A deusa do nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora