" Peter, hoje é o teu primeiro dia de aulas portanto tens de portar bem está bem?Ouve tudo o que os professores disserem."
Uma memória de eu em criança vem-me à cabeça. A minha mãe estava nessa memória e também se encontra agora à minha frente.
Corro na direção dela abraçando-a com toda a força que encontro em mim. Como me consegui esquecer de um rosto tão dócil e bonito como o dela?
- Desc..Desculpa.- gaguejo na direção dela.
Agora para mim tudo faz sentido. Relembro-me da minha mãe, de Eva, de Evan e ... de Jhon. Eu matei Jhon.
A minha mãe afasta-se alguns metros para o meu lado esquerdo e atrás dela encontra-se a suposta pessoa que tudo isto criou. Evan.
O seu rosto continua a ser o mais belo, alguma vez por mim visto. Os seus olhos ganharam um tom verde ainda mais intenso e o seu rosto parece mais rejuvenescido tirando uma pequena cicatriz que tem na extremidade superior direita da sua testa.
Embora isto tudo, não me posso esquecer do que me fez, é por causa de Evan que passei os piores dois meses da minha vida.
- Olá Evan - profiro baixo.
Mesmo assim não consigo evitá-lo e odeio-me por causa disso.
Sem proferir uma resposta Evan limita-se a acenar com uma expressão de vergonha fixada na sua cara.
- Peter. As autoridades obrigaram-no a denunciar-te, ameaçaram a família dele. - justifica a minha mãe.
Não comento. Não consigo raciocinar neste momento é muita coisa a acontecer ao mesmo tempo.
- Temos de ir imediatamente antes que sejamos neutralizados. - ordena a minha mãe.
Quando se preparam para abandonar o edifício interrompo-os.
- Ainda há uma pessoa que tenho de salvar. A Eva. - digo.
- A Eva está aqui? - pergunta Evan eufórico.
Aceno com a cabeça.
- Porque haverias de a querer salvar? - pergunta confusa a minha mãe.
- Ela não é tão culpada como Evan e no entanto Evan está vivo. Acho que ela merece o mesmo. - proclamo friamente.
A minha mãe estende-me um comunicador.
- Vamos comunicar através deste aparelho. Instalámos vários explosivos que se encontram espalhados pelo edifício prontos a explodir dentro de dez minutos. Irei avisar-te quando faltar um minuto. Quando faltar apenas sessenta segundos tens de estar cá fora. Percebeste? - explica-me ela.
- Entendido. - digo correndo na direção oposta deles.
O meu principal objetivo agora é encontrar Eva. "Pensa Peter, para onde a poderiam levar?"
Encontro-me na entrada principal do edifício. À minha frente encontram-se três caminhos diferentes que vão dar a áreas específicas do hospital.
Intuitivamente, sigo pelo caminho que se encontra à minha frente que vai dar à cantina. Ouço alguém a gritar por ajuda.
Bingo! Vejo Eva que se encontra presa, com a mão esquerda atada a uma das mesas situadas no refeitório. Ando na direção dela fazendo-lhe um sinal para se manter em silêncio.
- Sete minutos restantes Peter. - avisa-me a minha mãe através do transmissor.
Desato a mão de Eva e a mesma encontra-se agora completamente livre.
- Tu agora és mesmo o Peter, tipo Peter? - pergunta Eva sussurrando.
- Sim. Não te preocupes. - sussurro num tom igualmente baixo.
Dois guardas entram no refeitório. Escondo-nos debaixo da mesa. Tenho de controlar a minha respiração para que a mesma não nos denuncie.
Ponho a mão no meu bolso de trás com o objetivo de pegar na minha arma, mas a mesma não se encontra comigo. Deixei-a cair quando vi a minha mãe.
- Merda! - digo batendo com a mão nas minhas calças.
Eva olha para mim assustada mas não profere uma única palavra.
Olho em volta. Vejo que atrás de nós encontra-se uma divisão de vidro que divide o refeitório de um corredor. Se conseguirmos partir o vidro passamos ilesos para o outro lado.
- Peter, tens 5 minutos. - soa no comunicador denunciando-nos.
- Quem está ai? Acusem-se. - ordena um dos guardas que se aproxima cada vez mais de nós.
- AGORA! - agarro o braço de Eva, e com toda a força que tenho mando-me contra o vidro levando Eva comigo.
O vidro cede e encontramos-nos do outro lado. Os guardas começam a disparar na nossa direção.
Levanto-me e Eva imita-me. Começamos a correr até ao fim do corredor e por milagre nenhum dos tiros nos atinge.
Não se ouve agora nem mais um tiro e nem sinal dos guardas.
Continuamos a correr. Vejo uma porta que se encontra semi-aberta. Entro na mesma e indico para Eva me seguir. Assim que entramos tranco a porta.
Encontramos-nos numa espécie de dispensa. O cheiro é horrível e há algumas moscas a voar sobre os nossos pés.
Eva tira do seu bolso um telemóvel e liga a lanterna no mesmo. Prepara-se para gritar mas tapo-lhe a boca para que não faça barulho. Estamos a pisar corpos mortos, alguns encontram-se já em estado de decomposição e isso justifica o cheiro nojento que se faz sentir. Há no meio destes corpos, cadáveres de simples crianças.
É o cenário mais horroroso que alguma vez presenciei.
- Tens a certeza de que eles vieram por aqui? -pergunta alguém do outro lado da porta.
- Sim. Vamos continuar a procurar. - responde outro alguém.
Assim que o corredor fica novamente em silêncio abro a porta.
- Peter. Falta um minuto. Onde raio estás? - pergunta desesperadamente.
- A caminho. - digo convicto.
Abandona-mos aquele cenário terrível e corremos agora na direção da saída.
- 30 segundos. - avisa a minha mãe.
Estamos numa parte do edifico completamente iluminada. É a luz proveniente da saída.
- PETER. VAMOS! - grita Eva.
- 20 segundos.
Lado a lado percorremos com toda a velocidade a distância que nos separa da saída.
- SOCORRO! - grita a voz de uma criança.
Levo o meu olhar ao sítio de onde a voz veio. É uma menina pequena, ferida na perna.
- Eva continua a correr. - grito desviando a minha rota para os sítio onde a menina está.
- Vai ficar tudo bem meu anjo. - digo beijando-lhe a testa.
- PETER! QUERO-TE JÁ AQUI FORA. 10 SEGUNDOS
Começo a correr. A minha velocidade não é a mesma pois estou com um peso maior.
- Cinco segundos
Estou quase a chegar à saída. Já sinto o ar fresco.
- Três!
Não paro de correr.
- Dois.
- Um.
Começo a sentir a pele dos meus pés quente. Estou a queimar-me.
-PETER!!!! - ouve-se desesperadamente através do transmissor.
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Executado Por Ter Nascido
Science FictionChamo-me Peter e estamos em 2060, o futuro tão imaginado por todos. O futuro era descrito como algo positivo, grandioso, descrito um futuro em que iria existir uma geração que iria aceitar toda a comunidade lgbt, todos teriam os mesmos direitos, to...