Capítulo 14

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Fico surpreso por alguém saber o meu nome neste hospital, especialmente um rapaz aqui internado. Fico confuso tentando perceber de quem se trata. 

- Não me estás a reconhecer? - pergunta-me o rapaz. 

Assim que escuto a sua voz novamente consigo perceber que a mesma me é muito familiar. Alargo a minha visão até aos seus pés vendo que os mesmo são pequenos. E eu apenas conhecia uma pessoa com os pés tão pequenos. Jhon. Mas Jhon não podia ser pois o mesmo já tinha morrido. 

- Sou eu o John, parvo! - diz vindo na minha direção parando à minha frente. 

Assim que a distância entre as nossas faces diminui consigo realmente perceber que se trata efetivamente de Jhon. 

JHON ESTAVA VIVO! 

- Jho..Jhoo..Jhon?! - questiono com precaução. - Como é que estás vivo? - lanço uma segunda pergunta. 

Relembro-me rapidamente do momento em que Jhon estava a ser transportado para dentro da ambulância ter visto um movimento da sua mão, afinal não tinha sido impressão minha. 

- Eu sobrevivi ao acidente. Lembro-me vagamente do que aconteceu mas sei que quando cheguei ao hospital descobriram que eu era homossexual e desde então encontro-me aqui. - esclarece. 

- Tu és... gay? - pergunto. 

- Sim sou, mas nunca tive coragem suficiente para me assumir. Então e tu que estás aqui a fazer? - questiona-me franzindo a sobrancelha. 

- Bem, parece que estamos no mesmo campeonato. - digo-lhe sorridente. 

Sem dizer mais nada encosto o meu corpo ao dele abraçando-o com toda a força que encontro em mim. Saber que Jhon afinal se encontra vivo e bem de saúde enche o meu coração de felicidade e alegria, sentimentos que há muito já não sentia. 

- Peter, o meu dia é amanhã. - diz-me Jhon. 

- Dia do quê? - remato. 

- O dia em que me vão matar. Eles reservam cada dia para um grupo de pessoas e amanhã chegará a minha vez. - diz ele num tom grave. 

É estranho estar a falar tanto com Jhon visto que o mesmo quase não falava. 

- Não te preocupes, vou arranjar uma solução. Venho buscar-te amanhã de manhã aqui ao quarto, até lá coopera com tudo o que te disserem ou ordenarem. 

Jhon limita-se a concordar abanando a cabeça afirmativamente.

Ao prepara-me para sair do quarto Jhon pergunta-me: 

- O que vais fazer agora? - questiona-me ele. 

- Salvar o máximo número de pessoas possíveis. - digo. 

- Tem cuidado. - pede-me. 

- Sempre. - digo-lhe piscando o meu olho esquerdo. 

Abandono o quarto de Jhon numerado com o símbolo "1".  Retiro a chave mestra do meu bolso e abro a segunda porta. Uma rapariga de cabelos mais ou menos loiros encontra-se sentada no chão e assim que a porta se abre olha para mim. 

- Corre rápido! - ordeno-lhe. 

Assim que apanho o jeito, começo a abrir as portas uma a uma soltando o maior número de pacientes possível. 

Encontro-me agora na porta número vinte cinco. Abro a mesma e ao espreitar para dentro do quarto não se vê ninguém, apenas consigo enxergar um rasto de sangue , ainda frio, espalhado pela parede ao pé da porta. 

- Esse quarto pertencia a Anastacia. O grupo onde ela estava inserida foi executado hoje. - diz uma voz masculina atrás de mim que pertence ao grupo de pessoas que soltei. 

- Tinha quantos anos? - questiono. 

- 14 apenas. - declara. 

Um pesado nó se forma no meio do meu intestino, pensar que uma pobre jovem de apenas catorze anos foi morta deixa-me completamente arrasado. Tinha a vida inteira pela frente. Assim como todas as pessoas que aqui se encontram presas têm. 

- Sou o Peter. - apresento-me. 

- Thomas. - apresenta-se também. 

Olho para o seu rosto reconhecendo algumas covas no mesmo. Tem um rosto imune a rugas e a sua pele parece-me bastante dócil e macia. 

O corredor, onde eu e o grupo que resgatei, nos encontramos ganha agora uma tonalidade vermelha proveniente da luz do alarme fixada na parede. Um ruído incomodador cobre agora a nossa audição. 

Vejo uma tabuleta que indica a direção da saída. 

- CORRAM! - grito alto, no objetivo da minha voz se sobrepor à da sirene. 

Começo a correr rapidamente na direção da saída. Assim que chegamos à mesma, vê-se uma grade de ferro a descer começando a tapar a saída. 

Uma confusão rapidamente ali se instala. Uma dezena de guardas encontra-se agora à nossa frente. Um som ainda mais incomodador do que o ruído do alarme começa agora a pairar sobre os nossos ouvidos. O barulho vem dos tiros que os guardas começaram a disparar. 

-FUJAM FUJAM! - digo ainda mais alto. 

Corro na direção da porta onde a grade já tapa mais de metade da saída. Algumas pessoas conseguem fugir. Já não vou a tempo de fugir mas ainda me posso defender aqui dentro. 

A grade tapa agora a saída por inteiro. Ficámos dentro do edifício vinte e três pessoas, quer isto dizer que pelo menos duas pessoas conseguiram fugir. 

Os guardas continuam a disparar contra o grupo de pessoas que se encontra ao pé de mim. Um a um, assim que atingidos com um tiro, vão caindo no chão completamente inanimados derramando sangue. Estão todos a morrer e eu não posso fazer nada. 

Nota-se perfeitamente que têm ordens para não disparar contra mim pois sou um dos únicos que ainda não foi alvejados. Não é justo. Não é justo ficar imune apenas porque o meu é o diretor. 

Levo o meu olhar a uma rapariga mais ou menos da minha idade que se encontra ajoelhada no chão a chorar, suplicando para que não disparem contra ela. Dentre o grupo de pessoas que libertei, apenas nós os dois nos encontramos vivos. 

Um dos guardas prepara-se para apertar o gatilho na direção da rapariga. Não tenho tempo para pensar. Sem raciocinar nem mais um segundo grito rapidamente. 

-  BAIXA-TE! - projeto-me para a frente dela protegendo-a. 

Sinto uma bala perfurar-me mais ou menos a zona do ombro, fico imóvel no chão. A boca da rapariga move-se dizendo para mim: "obrigado" . 

Ouço mais um tiro e este atinge a rapariga a qual tentei salvar. Ela cai ao meu lado, e esta é a ultima coisa que consigo perceber antes de perder todos os meus sentidos. 

Executado Por Ter NascidoOnde histórias criam vida. Descubra agora