É bastante curioso, hipocritamente horroroso, como o ser humano se sobrevaloriza a cima de todas as outras espécies existentes no nosso planeta. Achamos que temos o direito de obter o que não nos pertence e querermos aquilo que não nos foi destinado.
Estas pessoas querem envolver-se com alguém do mesmo sexo, querendo desta forma obter algo que a eles não lhes pode pertencer. A lei natural defende o envolvimento entre sexos opostos e é assim que tem de ser.
- Larga-me monstro. Não vou engolir nada do que me derem. Vocês são uns idiotas sem princípios nenhuns. - grita alto uma voz forte masculina.
- Quem vai ter o privilégio de disparar contra este paspalho? - diz ainda mais alto o meu pai segurando a mesma arma que matou a rapariga na mão.
- É melhor não ser o Peter. Ainda desmaia para ai. - diz um dos guardas mais ou menos da minha idade. A sala enche-se de risos, incluindo o meu pai.
Uma sensação de raiva percorre o meu corpo. Sinto as minhas veias ganharem um pouco mais de volume sendo elas percorridas por uma energia eletrizante. Os meus olhos enchem-se de rancor e fúria tornando os meus braços fortes e firmes.
Caminho até ao meu pai e logo depois agarro na arma que por ele até agora era agarrada. Mantenho-me em silêncio.
O meu olhar encontra-se apenas fixado no jovem que se encontra mesmo à minha frente. Finto os seus olhos com toda a força que encontro em mim.
- Peter? Que estás a fazer. - pergunta-me o jovem no qual tenho agora a arma apontada.
Todos me parecem conhecer, mas eu não conheço ninguém. Talvez já tenha trabalhado aqui.
- Peter porra! Sou eu o Jhon. - sussurra-me baixinho.
Após a insistência dele analiso cuidadosamente o rosto dele vendo cada traço do seu rosto. A sua cara não me é estranha, mas não tenho qualquer memória de uma vivência com ele. É me um completo estranho.
- Peter, imploro-te! Este não és tu. - grita mais uma vez.
Seguro a arma firme.
- Peter! Não! - berra uma voz feminina vinda da fileira onde estão posicionadas as enfermeiras.
Um tiro invade o silêncio presente na sala e interrompe o suspense que nela estava instalado. O corpo do rapaz que há minha frente se encontrava, está agora caído no chão, completamente sem vida. Uma poça de sangue percorre a linha da sua cabeça.
- Jhon, Jhon, Jhon!! Acorda! Por favor, meu amigo acorda.- insiste a enfermeira Eva que se encontra agora ajoelhado ao lado do cadáver de Jhon.
- Retirem-na da sala imediatamente! - grita o diretor.
Dois guardas musculados agarram Eva levando-a para fora da sala. O meu olhar cruza-se durante um breve segundo com o dela, desencontrando-se logo depois.
Caminho para longe daquele cenário.
- Estás bem? - pergunta-me o meu pai.
- Quem é o próximo? - digo num tom de voz grosso.
O meu pai manda-me um sorriso, abraçando-me logo de seguida.
- Este é o meu filho. - aperta o abraço.
**
A sala encontra-se agora dividida em dois grupos. O grupo dos que aceitaram tomar o comprimido, e o outro onde se encontram as pessoas que não aceitaram a cura. Neste último grupo estão cerca de quinze pessoas.
Dirijo-me até lá.
- Esta é a vossa última oportunidade. A última oportunidade de serem curados.
- Prefiro morrer ao ver as minhas memórias apagadas. - diz um dos rapazes aprisionados.
- Como te chamas? - questiono-o diretamente.
- Gayle. - responde-me secamente.
- Então que a tua vontade seja feita. - digo na sua direção disparando contra ele.
- Podem levar o corpo. -grito na direção dos guardas.
Preparo-me para apontar a arma na direção de uma outra jovem, no entanto o meu pai detém-me.
- Vai descansar. Foram muitas emoções para hoje. - declara tranquilamente.
Dou-lhe a arma saindo da sala onde todos os doentes se encontram.
**
Encontro-me no escritório diretivo. Encontro-me sozinho. Não se ouve ninguém no corredor. Na parede estão fixados quadros com frases contra a Síndrome de Homoslor.
"Para uma gereção futura, esta tem de ser curada"
" Não servem para nada os homossexuais, derrubem-nos!"
São alguns exemplos.
As paredes do escritório tremem com uma violência que não consigo descrever. Todos os objetos situados em cima da secretária abanam e alguns chegam mesmo a cair no chão. Ouve-se uma explosão.
" Alerta. Todas as unidades de defesa devem dirigir-se imediatamente à praça central. Alerta, isto não é um exercício."
As sirenes nos corredores disparam e as luzes vermelhas do alarme, situadas nos corredores , ligam-se.
Abro uma das gavetas da secretária e retiro da mesma uma arma quase maior que a minha mão.
Caminho em direção à saída do escritório, as minhas pernas começam a tremer e a minha frequência cardíaca aumenta progressivamente. O som de um violento tiroteio atormenta os meus ouvidos, o ruído vem de um corredor próximo ao sítio onde me encontro agora.
Acelero o movimento dos meus pés, ando agora com toda a rapidez que consigo. Aproximo-me da esquina que divide o corredor onde estou do corredor onde a troca de tiros está a acontecer.
- MÃOS NO AR! - grito violentamente virando a esquina. No chão encontram-se vários corpos de guardas.
Encontram-se à minha frente dois jovens, um rapaz e uma rapariga, equipados com um colete onde está estampado o símbolo da paz seguido da palavra "Forças Rebeldes".
Um dos jovens aponta um objeto na minha direção, que nunca antes tinha visto na minha vida, assemelha-se a um tipo de scanner.
" Peter Andrew, 18 anos capturado há cerca de dois meses e dez dias". Lê a rapariga olhando para o ecrã.
- Peter, estás a salvo. Podes baixar a arma. - diz a mesma rapariga.
Estar a ser salvo do quê? Do que estará ela a falar? O único pensamento que me vem à cabeça é de que inventaram esta história para se poderem salvar.
Sem pensar duas vezes, segurando a arma firmemente, disparo contra a rapariga e o rapaz e ambos caem completamente inanimados no chão segundos depois.
Friamente, caminho até aos seus corpos retirando-lhes as armas posicionadas nos bolsos de trás das calças de cada um. Antes de me conseguir movimentar ouço uma voz feminina que ecoa à minha frente.
- Peter!! O que pensas que estás a fazer?
- Identifiquem-se.- digo levantando-me enquanto aponto a arma na direção da mulher com o rosto ligeiramente enrugado que se encontra à minha frente.
- Sou eu, a tua mãe! Não me reconheces? - grita desesperadamente.
- M..Mã...Mãe? - deixo cair a arma no chão.
O violento som do tiroteio é agora substituído por um silêncio atormentador.
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Executado Por Ter Nascido
Fiksi IlmiahChamo-me Peter e estamos em 2060, o futuro tão imaginado por todos. O futuro era descrito como algo positivo, grandioso, descrito um futuro em que iria existir uma geração que iria aceitar toda a comunidade lgbt, todos teriam os mesmos direitos, to...