Capítulo 18

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É bastante curioso, hipocritamente horroroso, como o ser humano se sobrevaloriza a cima de todas as outras espécies existentes no nosso planeta. Achamos que temos o direito de obter o que não nos pertence e querermos aquilo que não nos foi destinado. 

Estas pessoas querem envolver-se com alguém do mesmo sexo, querendo desta forma obter algo que a eles não lhes pode pertencer. A lei natural defende o envolvimento entre sexos opostos e é assim que tem de ser. 

 - Larga-me monstro. Não vou engolir nada do que me derem. Vocês são uns idiotas sem princípios nenhuns. - grita alto uma voz forte masculina. 

- Quem vai ter o privilégio de disparar contra este paspalho? - diz ainda mais alto o meu pai segurando a mesma arma que matou a rapariga na mão.

- É melhor não ser o Peter. Ainda desmaia para ai. - diz um dos guardas mais ou menos da minha idade. A sala enche-se de risos, incluindo o meu pai. 

Uma sensação de raiva percorre o meu corpo. Sinto as minhas veias ganharem um pouco mais de volume sendo elas percorridas por uma energia eletrizante. Os meus olhos enchem-se de rancor e fúria tornando os meus braços fortes e firmes. 

Caminho até ao meu pai e logo depois agarro na arma que por ele até agora era agarrada. Mantenho-me em silêncio. 

 O meu olhar encontra-se apenas fixado no jovem que se encontra mesmo à minha frente. Finto os seus olhos com toda a força que encontro em mim. 

- Peter? Que estás a fazer. - pergunta-me o jovem no qual tenho agora a arma apontada. 

Todos me parecem conhecer, mas eu não conheço ninguém. Talvez já tenha trabalhado aqui.

- Peter porra! Sou eu o Jhon. - sussurra-me baixinho. 

Após a insistência dele analiso cuidadosamente o rosto dele vendo cada traço do seu rosto. A sua cara não me é estranha, mas não tenho qualquer memória de uma vivência com ele. É me um completo estranho. 

- Peter, imploro-te! Este não és tu. - grita mais uma vez. 

Seguro a arma firme. 

- Peter! Não! - berra uma voz feminina vinda da fileira onde estão posicionadas as enfermeiras. 

Um tiro invade o silêncio presente na sala e interrompe o suspense que nela estava instalado. O corpo do rapaz que há minha frente se encontrava, está agora caído no chão, completamente sem vida. Uma poça de sangue percorre a linha da sua cabeça. 

- Jhon, Jhon, Jhon!! Acorda! Por favor, meu amigo acorda.- insiste a enfermeira Eva que se encontra agora ajoelhado ao lado do cadáver de Jhon. 

- Retirem-na da sala imediatamente! - grita o diretor. 

Dois guardas musculados agarram Eva levando-a para fora da sala. O meu olhar cruza-se durante um breve segundo com o dela, desencontrando-se logo depois. 

Caminho para longe daquele cenário. 

- Estás bem? - pergunta-me o meu pai. 

- Quem é o próximo? - digo num tom de voz grosso. 

O meu pai manda-me um sorriso, abraçando-me logo de seguida. 

- Este é o meu filho. - aperta o abraço. 

**

A sala encontra-se agora dividida em dois grupos. O grupo dos que aceitaram tomar o comprimido, e o outro onde se encontram as pessoas que não aceitaram a cura. Neste último grupo estão cerca de quinze pessoas. 

Dirijo-me até lá. 

- Esta é a vossa última oportunidade. A última oportunidade de serem curados. 

- Prefiro morrer ao ver as minhas memórias apagadas. - diz um dos rapazes aprisionados. 

- Como te chamas? - questiono-o diretamente. 

- Gayle. - responde-me secamente. 

- Então que a tua vontade seja feita. - digo na sua direção disparando contra ele. 

- Podem levar o corpo. -grito na direção dos guardas. 

Preparo-me para apontar a arma na direção de uma outra jovem, no entanto o meu pai detém-me. 

 - Vai descansar. Foram muitas emoções para hoje. - declara tranquilamente. 

Dou-lhe a arma saindo da sala onde todos os doentes se encontram. 

**

Encontro-me no escritório diretivo. Encontro-me sozinho. Não se ouve ninguém no corredor. Na parede estão fixados quadros com frases contra a Síndrome de Homoslor. 

"Para uma gereção futura, esta tem de ser curada"

 " Não servem para nada os homossexuais, derrubem-nos!" 

São alguns exemplos. 

As paredes do escritório tremem com uma violência que não consigo descrever. Todos os objetos situados em cima da secretária abanam e alguns chegam mesmo a cair no chão. Ouve-se uma explosão. 

" Alerta. Todas as unidades de defesa devem dirigir-se imediatamente à praça central.  Alerta, isto não é um exercício."

As sirenes nos corredores disparam e as luzes vermelhas do alarme,  situadas nos corredores , ligam-se. 

Abro uma das gavetas da secretária e retiro da mesma uma arma quase maior que a minha mão. 

Caminho em direção à saída do escritório, as minhas pernas começam a tremer e a minha frequência cardíaca aumenta progressivamente. O som de um violento tiroteio atormenta os meus ouvidos, o ruído vem de um corredor próximo ao sítio onde me encontro agora. 

Acelero o movimento dos meus pés, ando agora com toda a rapidez que consigo. Aproximo-me da esquina que divide o corredor onde estou do corredor onde a troca de tiros está a acontecer. 

- MÃOS NO AR! - grito violentamente virando a esquina.  No chão encontram-se vários corpos de guardas.

Encontram-se à minha frente dois jovens, um rapaz e uma rapariga, equipados com um colete onde está estampado o símbolo da paz seguido da palavra "Forças Rebeldes".  

Um dos jovens aponta um objeto na minha direção, que nunca antes tinha visto na minha vida, assemelha-se a um tipo de scanner. 

" Peter Andrew, 18 anos capturado há cerca de dois meses e dez dias". Lê a rapariga olhando para o ecrã. 

- Peter, estás a salvo. Podes baixar a arma. - diz a mesma rapariga. 

Estar a ser salvo do quê? Do que estará ela a falar? O único pensamento que me vem à cabeça é de que inventaram esta história para se poderem salvar. 

Sem pensar duas vezes, segurando a arma firmemente, disparo contra a rapariga e o rapaz e ambos caem completamente inanimados no chão segundos depois. 

Friamente, caminho até aos seus corpos retirando-lhes as armas posicionadas nos bolsos de trás das calças de cada um.  Antes de me conseguir movimentar ouço uma voz feminina que ecoa à minha frente. 

- Peter!! O que pensas que estás a fazer? 

- Identifiquem-se.- digo levantando-me enquanto aponto a arma na direção da mulher com o rosto ligeiramente enrugado que se encontra à minha frente. 

- Sou eu, a tua mãe! Não me reconheces? - grita desesperadamente. 

- M..Mã...Mãe? - deixo cair a arma no chão. 

O violento som do tiroteio é agora substituído por um silêncio atormentador. 



Executado Por Ter NascidoOnde histórias criam vida. Descubra agora