Sem conseguir inspirar nem mais um átomo de oxigénio fico completamente imobilizado sem sequer pestanejar os olhos.
" Corre ou morres" pensava eu para mim mesmo. Uma grande dose de coragem e excitação percorre agora as minhas veias e assim que ouço o som do elevador que indica que o mesmo chegou meto-me dentro do mesmo carregando no botão do piso um. Assim que as portas se fecham consigo visualizar o rosto feminino que chamou por mim segundos antes de eu entrar no elevador.
Respiro de alívio e o nó que tinha na barriga rapidamente se desfaz. Consegui safar-me. Mas para me manter completamente seguro tenho de abandonar este hospital o mais rápido que puder.
Assim que o elevador chega ao primeiro piso as portas abrem-se. Caminho rapidamente para fora do elevador. Encontro-me com a cabeça baixada para ninguém me reconhecer, sem me aperceber embato contra um peito mas mesmo assim não levanto a cabeça para ver de quem se trata.
- Peço imensas desculpas.- murmuro.
Depois de pedir desculpas tento recomeçar o meu rápido andamento mas um puxão no meu braço evita com que eu consiga executar o meu próximo movimento. Levanto a cabeça, olho para trás pelo ombro e os meus olhos encontram o mesmo rosto feminino que me tinha chamado. Fico em choque.
- Ainda não te deram alta. - exclama a mulher com um rosto um pouco enrugado.
- Vocês nunca me irão dar alta, o que eu tenho não tem cura possível. - retorno.
- Como assim?
- Sou gay. Sou um monstro aos vossos olhos.
- Cala-te! Não digas isso assim! Vem acompanha-me.- ordena-me puxando-me pelo braço.
O nó que há poucos momentos se tinha desfeito rapidamente volta a compor-se dentro do meu corpo. Sinto-me nervoso e curtas pingas de suor começam a escorrer-me pela cabeça. Vou voltar para o quarto e irei ser denunciado. Não há volta a dar. Acabou.
- Posso fazer um último telefonema antes de morrer? - questiono-a.
A mesma mulher severa que me puxou pelo braço agora parece-me alguém que está realmente assustada e triste. Não consigo reconhecer o corredor onde estamos, é escuro e apenas tem 4 pequenas janelas que iluminam vagamente o sítio onde nos encontramos.
Metros mais à frente a figura feminina puxa-me para dentro de uma sala cuja a porta tem estampada um sinal que diz " lavandaria". Entramos e ela tranca a porta de seguida.
- Vais ouvir-me com muita atenção Peter. - olha-me seriamente.- Tens noção que pessoas como tu, quando apanhadas, nunca sobrevivem?
- Seria bastante inocente se não o entendesse. -respondo-lhe.
- Há dois anos, num dia que parecia completamente igual aos outros, em que o sol estava tapado por algumas nuvens e os pássaros cantavam num tom baixo, uma dezena de polícias bateram à porta e perguntaram pelo meu filho, Paul. Eu disse-lhes que estava no quarto dele no andar de cima e acho que foi a pior decisão que tomei na minha vida. - cai-lhe uma pequena lágrima que escorre rapidamente pelo seu rosto. - Eles subiram sem pedir licença, pegaram em Paul e apenas disseram.
" O seu filho tem Síndrome de Homoslor. Não se preocupe. Ele não irá sofrer mais. "
Ainda perguntei se o podia acompanhar mas negaram-me o meu pedido. Meses depois recebi uma carta que declarava a morte de Paul. A justificação foi que o mesmo não tinha aguentado o tratamento. Foi o pior dia da minha vida. - completa escorrendo-lhe agora várias lágrimas pelo rosto. - Prometi a mim mesma que a partir daquele dia não ia deixar nem mais um jovem morrer por causa deste governo. Não é justo!
- Lamento muito doutora.- digo com um ar triste.
- Amber por favor. - pede-me.
- Lamento muito...Amber. - repito abraçando-a.
O abraço dura poucos segundos sendo rapidamente interrompido pela voz de Amber.
- Eu vou inserir no sistema que te deram alta, vais conseguir sair daqui sem levantar suspeitas, mas não podes contar a ninguém, mas mesmo ninguém o que és. O mundo vai mudar, algo em grande está prestes a acontecer. Agora vai te embora. Sê feliz e não te deixes apanhar. - finaliza Amber saindo da Lavandaria.
Deixo que alguns minutos passem até sair também da Lavandaria.
**
" Estou em casa, vem cá ter" mando para a minha mãe. Encontro-me ainda com algumas lágrimas de suor espalhadas pelo meu rosto devido ao nervosismo que não consigo parar de sentir. Levo o meu olhar ao relógio pendurado na sala e deslizo de seguida o olhar para a janela ao lado que reflete o escuro da intensa noite que se faz sentir no exterior.
Ouço o barulho da porta de casa a abrir, a minha mãe chegou.
- Peter! - grita euforicamente ela.
- Sou eu. - digo-lhe com um sorriso.
- Não me tinham dito que terias alta hoje. - diz-me.
- Pois, mas não estava programado. Melhorei muito nas últimas horas então acabaram por me deixar ir. - gargalho falsamente.
- Ainda bem meu amor.
- Se não te importas vou subir para o meu quarto, estou muito cansado. - digo-lhe.
- Claro. Vai descansar. Amanhã já vais para a escola, por isso vê se descansas bem.
- Não te preocupes.- tranquilizo-a.
Despeço-me dela com um beijo na testa e subo as escadas para ir para o andar onde se encontra o meu quarto.
Já no quarto sento-me na cama descalçando-me. Ligo o computador que está à minha direita posicionando-o no meu colo. Deslizo o rato para ver se Eva, Evan e John estão online. Vejo que estão e ligo para eles.
Assim que atendem Eva pergunta confusa:
- Já estás em casa?
- Já. - ligo a câmara. - Cheguei à poucos minutos.-explico.
- Podias ter avisado, íamos la buscar-te. - repudia Evan.
- Não deu tempo, desculpem. - tento disfarçar. - Amanhã já me podem vir buscar, sinto-me suficientemente forte para ir às aulas.
- Ainda bem. - diz Jhon.
- Eu vou deitar-me. Tenho de descansar. Durmam todos bem. Vejo-vos amanhã.- despeço-me desligando o computador de seguida.
Visto o pijama, ponho os cobertores na cama e assim que está tudo pronto desligo a luz. Sinto-me novamente seguro, sinto-me fora de perigo, finalmente descansado. Mas não me posso esquecer do que sou e do que me pode acontecer. Amber foi bastante clara no que disse.
" Quanto tempo estarei eu seguro?" é o ultimo pensamento que me vem à cabeça antes de fechar os olhos e cair num sono profundo.
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Executado Por Ter Nascido
Ficção CientíficaChamo-me Peter e estamos em 2060, o futuro tão imaginado por todos. O futuro era descrito como algo positivo, grandioso, descrito um futuro em que iria existir uma geração que iria aceitar toda a comunidade lgbt, todos teriam os mesmos direitos, to...