Capítulo 4

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Sem conseguir inspirar nem mais um átomo de oxigénio fico completamente imobilizado sem sequer pestanejar os olhos. 

" Corre ou morres" pensava eu para mim mesmo. Uma grande dose de coragem e excitação percorre agora as minhas veias e assim que ouço o som do elevador que indica que o mesmo chegou meto-me dentro do mesmo carregando no botão do piso um.  Assim que as portas se fecham consigo visualizar o rosto feminino que chamou por mim segundos antes de eu entrar no elevador. 

Respiro de alívio e o nó que tinha na barriga rapidamente se desfaz. Consegui safar-me. Mas para me manter completamente seguro tenho de abandonar este hospital o mais rápido que puder. 

Assim que o elevador chega ao primeiro piso as portas abrem-se. Caminho rapidamente para fora do elevador. Encontro-me com a cabeça baixada para ninguém me reconhecer, sem me aperceber embato contra um peito mas mesmo assim não levanto a cabeça para ver de quem se trata. 

- Peço imensas desculpas.- murmuro. 

Depois de pedir desculpas tento recomeçar o meu rápido andamento mas um puxão no meu braço evita com que eu consiga executar o meu próximo movimento. Levanto a cabeça, olho para trás pelo ombro e os meus olhos encontram o mesmo rosto feminino que me tinha chamado. Fico em choque. 

- Ainda não te deram alta. - exclama a mulher com um rosto um pouco enrugado. 

- Vocês nunca me irão dar alta, o que eu tenho não tem cura possível. - retorno. 

- Como assim? 

- Sou gay. Sou um monstro aos vossos olhos.

- Cala-te! Não digas isso assim! Vem acompanha-me.- ordena-me puxando-me pelo braço. 

O nó que há poucos momentos se tinha desfeito rapidamente volta a compor-se dentro do meu corpo. Sinto-me nervoso e curtas pingas de suor começam a escorrer-me pela cabeça. Vou voltar para o quarto e irei ser denunciado. Não há volta a dar. Acabou.

- Posso fazer um último telefonema antes de morrer? - questiono-a. 

A mesma mulher severa que me puxou pelo braço agora parece-me alguém que está realmente assustada e triste. Não consigo reconhecer o corredor onde estamos, é escuro e apenas tem 4 pequenas janelas que iluminam vagamente o sítio onde nos encontramos. 

Metros mais à frente a figura feminina puxa-me para dentro de uma sala cuja a porta tem estampada um sinal que diz " lavandaria". Entramos e ela tranca a porta de seguida. 

- Vais ouvir-me com muita atenção Peter. - olha-me seriamente.- Tens noção que pessoas como tu, quando apanhadas, nunca sobrevivem? 

- Seria bastante inocente se não o entendesse. -respondo-lhe. 

- Há dois anos, num dia que parecia completamente igual aos outros, em que o sol estava tapado por algumas nuvens e os pássaros cantavam num tom baixo, uma dezena de polícias bateram à porta e perguntaram pelo meu filho, Paul. Eu disse-lhes que estava no quarto dele no andar de cima e acho que foi a pior decisão que tomei na minha vida. - cai-lhe uma pequena lágrima que escorre rapidamente pelo seu rosto. - Eles subiram sem pedir licença,  pegaram em Paul e apenas disseram. 

" O seu filho tem Síndrome de Homoslor. Não se preocupe. Ele não irá sofrer mais. " 

Ainda perguntei se o podia acompanhar mas negaram-me o meu pedido. Meses depois recebi uma carta que declarava a morte de Paul. A justificação foi que o mesmo não tinha aguentado o tratamento. Foi  o pior dia da minha vida. - completa escorrendo-lhe agora várias lágrimas pelo rosto. - Prometi a mim mesma que a partir daquele dia não ia deixar nem mais um jovem morrer por causa deste governo. Não é justo! 

- Lamento muito doutora.- digo com um ar triste. 

- Amber por favor. - pede-me. 

- Lamento muito...Amber. - repito abraçando-a. 

O abraço dura poucos segundos sendo rapidamente interrompido pela voz de Amber. 

- Eu vou inserir no sistema que te deram alta, vais conseguir sair daqui sem levantar suspeitas, mas não podes contar a ninguém, mas mesmo ninguém o que és. O mundo vai mudar, algo em grande está prestes a acontecer. Agora vai te embora. Sê feliz e não te deixes apanhar. - finaliza Amber saindo da Lavandaria. 

Deixo que alguns minutos passem até sair também da Lavandaria. 

                                               **

" Estou em casa, vem cá ter" mando para a minha mãe. Encontro-me ainda com algumas lágrimas de suor espalhadas pelo meu rosto devido ao nervosismo que não consigo parar de sentir. Levo o meu olhar ao relógio pendurado na sala e deslizo de seguida o olhar para a janela ao lado que reflete o escuro da intensa noite que se faz sentir no exterior. 

Ouço o barulho da porta de casa a abrir, a minha mãe chegou. 

- Peter! - grita euforicamente ela. 

- Sou eu. - digo-lhe com um sorriso. 

 - Não me tinham dito que terias alta hoje. - diz-me. 

- Pois, mas não estava programado. Melhorei muito nas últimas horas então acabaram por me deixar ir. - gargalho falsamente. 

- Ainda bem meu amor. 

- Se não te importas vou subir para o meu quarto, estou muito cansado. - digo-lhe. 

- Claro. Vai descansar. Amanhã já vais para a escola, por isso vê se descansas bem.

- Não te preocupes.- tranquilizo-a. 

Despeço-me dela com um beijo na testa e subo as escadas para ir para o andar onde se encontra o meu quarto. 

Já no quarto sento-me na cama descalçando-me. Ligo o computador que está à minha direita posicionando-o no meu colo. Deslizo o rato para ver se Eva, Evan e John estão online. Vejo que estão e ligo para eles. 

Assim que atendem Eva pergunta confusa:

- Já estás em casa? 

- Já. - ligo a câmara. - Cheguei à poucos minutos.-explico. 

- Podias ter avisado, íamos la buscar-te. - repudia Evan. 

- Não deu tempo, desculpem. - tento disfarçar. - Amanhã já me podem vir buscar, sinto-me suficientemente forte para ir às aulas. 

- Ainda bem. - diz Jhon. 

- Eu vou deitar-me. Tenho de descansar. Durmam todos bem. Vejo-vos amanhã.- despeço-me desligando o computador de seguida. 

Visto o pijama, ponho os cobertores na cama e assim que está tudo pronto desligo a luz. Sinto-me novamente seguro, sinto-me fora de perigo, finalmente descansado. Mas não me posso esquecer do que sou e do que me pode acontecer. Amber foi bastante clara no que disse. 

" Quanto tempo estarei eu seguro?" é o ultimo pensamento que me vem à cabeça antes de fechar os olhos e cair num sono profundo. 

Executado Por Ter NascidoOnde histórias criam vida. Descubra agora