Capítulo I - Espelho

299 22 13
                                    

Ruas de Londres, Inglaterra. 08:15AM

      “Beleza... Como eu começo isso? Nunca fiz nada parecido, nunca fiz nem um diário. Bom, melhor irmos do começo então!
      Bom dia! Ou seria boa noite? Boa tarde? Tá, não interessa. Meu nome é Samantha Walker Jones, se você é de Londres então éee, sou filha do dono daquela montadora multinacional Walnes Motors (sempre falei pro meu pai que era um péssimo nome mas ele só ignorou, dizia que quando eu fosse herdar tudo eu nem ligaria pro nome, aiai).
      No momento estou extremamente atrasada para a aula e acho que meu pai tomou umas três multas por excesso de velocidade nesse meio tempo

      — Tem certeza que essas multas valem a pena pelo meu ensino na Regent? – Falo pregada no banco do carro enquanto ele cortava um ônibus
      — Eu prefiro pagar essas multas do que ter que ir numa reunião com a diretora do seu colégio – Meu pai responde cortando mais dois carros pela esquerda e o outro pela direita.
      — Isso tudo é medo de escutar que sua filha é uma ótima aluna, além de atenciosa com os professores e companheiros de classe?
      — E por chegar atrasada pela oitava vez em uma semana...
      — Mas uma semana só tem sete dias! Isso nem faz sentido – Ele se vira sério pra mim — Aah, era uma gracinha pra falar que eu sempre chego atrasada. Entendi, entendi. Tá melhorando nas metáforas
      — Eu nunca sei quando você está zoando comigo. Bem, de qualquer forma, chegamos!
      Eu me viro para a janela do carro e realmente tínhamos chegado — Mas o que? A última vez que olhei por essa janela ainda estávamos na ponte do Tâmisa! Anotar aqui no caderno seu recorde: dez minutos mais rápido que da última vez. Já pode ser piloto do FeDex! Se carros voassem, é claro!
      — E você vai ser uma desempregada linda se continuar esquecendo de ligar seu despertador na noite anterior – Ele fala com um sorriso irônico enquanto saio do carro
      — Hahaha, to morrendo de rir, James
      — Quando te acordei hoje ainda me chamava de pai, parece que o James aqui vai ter que te acordar quinze minutos mais cedo...
      — Tchaau paizinho!
James dá um sorriso — Tenha um bom e divertido dia de aula meu amorzinho! – Ele me beija na testa — Bye, bye!

      Regent High School... Minha arqui-inimiga. Toda vez que passo por esses portões eu juro escutar um trovão tipo aqueles que aparecem atrás de castelos mal assombrados. Talvez porque eu e meu subconsciente sabemos que vai ser um pesadelo mal-assombrado.
      Tem até a Guardiã da Chave das portas do castelo, senhora Holt, que sempre me enche o saco para entrar SÓ porque eu estou uns vinte minutos atrasada. O mundo é injusto.
      Meu dia inteiro pode ser resumido em aulas chatas, fofocas com Star (minha melhor amiga, Souphia Stark) e toda a equipe de babacas tirando serviço plantão 24/7 no posto de: TRUPE DE CUZÕES, que eu, dentre TODAS as outras, foi agraciada para ser infernizada até após a morte por ser a “riquinha esnobe e inteligente”, sendo que praticamente todo mundo nesse buraco de fim de mundo vive uns quinze níveis acima do “viver bem”. Babacas.
      O intervalo é um dos únicos momentos em que eu posso ter, pelo menos, vinte minutos de paz e tranquilidade. Um momento em que posso desenhar e voltar a ser eu mesma e não me segurar para socar uns narizes (inclusive, sim, eu tenho desenhos de mim socando a cara de alguns da trupe). Geralmente Souphia está comigo no intervalo falando de homem enquanto eu a ignoro totalmente desenhando, porém hoje ela foi chamada até a quadra. Provavelmente porque ela seja a atleta fodastica da Regent, e eu não tenho com quem conversar desde o ano passado que fui transferida para cá então... IT’S DRAWNING TIME!
      Ultimamente ando tenho sonhos estranhos durante a noite (quando eu não venho pro colégio virada), sonhos em que me encontro num campo de flores cujo sua base era azul e à medida que vai subindo ela vai avermelhando. Nunca tinha visto nenhuma flor desse tipo. Resolvi então desenhar esse campo florido comigo nele e uma sombra de alguém que está comigo. E desenhando uma sombra, ironicamente sinto alguém atrás de mim... Um frio me sobe a espinha.

      — Mas olha só se não é a garota prodígio Samantha! – Casey diz me tirando o caderno da mão — E olha isso! Que belo desenho você tem aqui, esse é seu namorado imaginário? Hahaha
      — Casey, me devolve isso! Não tem graça
      — Que fofa você querendo viver um conto de fadas, por que não pede pro papai comprar a Disney para você?
      —Eu disse pra me devolver! – Quando avanço para tomar o caderno da mão dela, Casey se vira muito mais rápido que eu e me joga contra os armários do corredor
      — Ou o que, Samantinha? Vai me bater? Ou vai pedir pro papai vir falar com a diretoria? HEIN? – A loira desfere um soco contra os armários fazendo um barulho alto ecoar pelos corredores — Hmpf, foi o que pensei... Não ache que todo mundo é seu servente

      O sinal toca e ela me solta. — Salva pelo sino... Até a próxima, Pequena Sams – Casey joga meu caderno no lixo e vai embora rumo às salas dando risada.
      Estava segurando bem até agora, mas quando ela sai eu escorrego minhas costas pela porta daquele armário até sentar no chão e começar a chorar deixando pingos caírem na cerâmica branca dos corredores. Peguei meu caderno na lixeira depois de me levantar e fui ao banheiro feminino ainda com lágrimas escorrendo pelo rosto e a maquiagem toda borrada. Limpei tudo com papel higiênico e logo o ódio por Casey Ridley fez meu sangue borbulhar de novo, e olhar aquela garota fraca pelo reflexo do espelho me deixava ainda mais puta ainda. Uma fagulha e como reação para descarregar toda a minha raiva soltei um grito alto, fechei os olhos e soquei o espelho.
      Só esperei, ainda de olhos fechados, a dor dos pedaços de vidro dentro da minha mão chegar e... Nada?... Estava sentindo literalmente nada... Abri os meus olhos com desconfiança e minha visão estava azulada o que parecia um efeito de desvio cromático. Ignorando isso, quando olho para a minha mão ela estava dentro do espelho
      — Mas o-o QUE?? – A retiro rapidamente assustada. Meu braço estava tremendo e minha cabeça doía um pouco.

      O minha visão tinha voltado ao normal. A porta do banheiro se abriu de repente e Souphia apareceu DO NADA correndo e foi me abraçar — Sam!! Você está bem? Ouvi seu grito e entrei correndo

      — Você não... viu aquilo, né?... – Sophi parecia confusa por um segundo
      — Bem... eu fiquei sabendo da sua briga com a desgraçada da Casey mas... Não... Não cheguei a tempo de ver...
       Eu até tinha esquecido do motivo que queria que o espelho fosse a cara da Casey. — ... Não, não era isso... – Toco novamente nele de forma suave, e como eu já esperava... Era apenas um espelho comum
      — Sam, você está bem?
      — *suspiro*. Sim, eu estou... Vamos voltar para a sala, com certeza não quero perder a aula de História Moderna hoje – Falo em tom irônico.

      O acontecimento no espelho não saía da minha cabeça... Aquela sensação de mergulhar minha mão num rio sem me molhar não ia sumir tão facilmente... Tinha sido tão real, real demais para ser a realidade.

      Hoje, sendo a sexta que estava sendo, não desanimei porque o final de semana vai FINALMENTE começar e eu posso esquecer um pouco de toda merda que eu passo aqui com livros, videogame e desenhos! Está na hora de dar uma relaxada e sumir com a Casey de perto de mim. “Adeus, vaca!”

The Legend of Saron (processo de reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora