Capítulo 2-Conversa Incômoda

380 18 7
                                    

  Joseph se mexia demais e estava suando.Tentei acordá-lo,mas ele não parava de se mexer e gemia meu nome.

-Andy-ele gemia fraco-Socorro!Socorro,Andy.

  Tentei acordá-lo novamente,mas de nada adiantou.

-Joseph!-falei um pouco mais alto e ele acordou ofegante-Ei,algum problema?-perguntei,com uma mão apoiada em seu braço

-Não.-foi sua resposta-Foi só um sonho.Só um sonho.

  Sem dizer nenhuma outra palavra ele me envolveu ,novamente,em seus braços e voltou a dormir.Eu esperava que ele estivesse bem.

*****

  Na manhã seguinte acordei Joseph e avisei que ele precisava voltar para o sofá, pois vovó já iria acordar.

  O acompanhei até a sala e,para nossa surpresa,o sofá não estava vazio.Vovó estava sentada nele com uma xícara de café na mão esquerda.

-Vovó...-comecei a dizer

-Não, Andressa!-ela respondeu,seca

-Dona Verônica...-Joseph tentou argumentar

-Já disse que não-ela respondeu,virando o rosto de modo que olhasse para mim e para Joseph-Eu pedi que vocês não fizessem isso.Mas eu sabia que em algum momento iria acontecer.Andressa,eu só quero juízo-ela parou e deu um dramático suspiro-Vocês estão se protegendo?-ela perguntou

-!-exclamei alto demais

-Tudo bem,filha.Sei que as coisas não são mais como antes,sou uma avó moderna.Claro que eu,por exemplo,esperei o casamento para me deitar com seu avô...

-É,hm,dona Verônica...-Joseph a interrompeu- Eu e a Andy estamos esperando por um momento adequado-ele disse e eu não sabia quem ali estava mais vermelho

-Ah-ela exclamou,surpresa-Então tudo bem.Vamos comer-ela disse e foi em direção a cozinha,mas parou ao ver que eu e Joseph continuamos parados e boquiabertos-Venham-ela disse e,então, nos mexemos

  Vovó tentou conversar conosco,enquanto comíamos,mas o clima tenso já estava instalado em toda casa.Eu não podia culpá-la por aquilo, afinal,ela só estava cumprindo um dos seus deveres,ela só não tinha muito jeito para lidar com esse tipo de assunto.

  Após o café Joseph afirmou que precisava ir embora e eu pedi que ele me esperasse,pois iria sair para encontrar Isa.

  De banho tomado e roupa acompanhei Joseph até a moto,que estava em frente à minha casa e,mesmo com a chuva da noite anterior,estava seca.

-Me desculpa pela minha avó-falei

-Não precisa se desculpar.Ela não está nem um pouco errada-ele afirmou

  Ficamos lá, sem dizer absolutamente nada por alguns segundos,mas ao lembrar do ocorrido na sala comecei a rir descontroladamente e ele se juntou a mim.Começamos a gargalhar e as crianças que passavam com suas bicicletas nos olhavam desconfiadas.

  De repente ele parou de rir e segurou minha cintura com força e senti sua respiração se misturar com a minha.Ele acariciou minha bochecha com às costas da mão direita e sorriu com ternura.

Sorri de volta e envolvi seu pescoço com os braços, fazendo carinho em seus cabelos negros e olhava fundo em seus olhos cinzas.

-Onde você estava nos meus dezoito anos?-ele sussurrou

  Sorri,com vergonha.Que bom que ele achava que havia ficado apenas dezoito anos sem mim e não séculos inteiros.

  Ele me beijou,com uma mão em meu pescoço e um braço em minha cintura.Toda vez que ele me beijava eu sentia que podia ficar presa naquele momento pelo resto da vida.

  Quando ele afastou os lábios dos meus estávamos ofegentes ,porém parecia que ele havia se afastado cedo demais.

  -Quer uma carona?-ele perguntou,quando sua respiração voltou ao normal

  Fiz que sim com a cabeça e subi na moto,colocando os braços ao redor de sua cintura.

  Chegamos na praça onde eu sempre encontrava Isa em 5 minutos.

Ela estava lá, sentada no balanço azul,mexendo no celular.

Isa sempre sentava no balanço azul e eu no amarelo.Coisa nossa.

  Ao ver a moto de Joseph chegando ela levantou a cabeça e sorriu para mim.

  Dei um breve beijo em Joseph e ele foi embora,não sem antes cumprimentar Isa com um aceno de cabeça.

  Ao chegar perto dela sentei no meu balanço e ela não parava de me olhar e sorrir.

-Você parece muito bem-ela afirmou

-E estou,principalmente agora que você chegou-respondi-Pena que vou embora amanhã.

-Nem me fala-ela revirou os olhos-Vou ter que arrumar minhas coisas correndo para minha viagem.

  Eu queria muito que Isa fosse para alguma faculdade perto da minha,mas a dela era um pouco mais perto da nossa cidade.Nós iríamos nos ver apenas nos feriados,quando estivéssemos de volta,para visitar a família.

-Posso te ajudar se você quiser-falei

  Ela abriu a boca para responder,mas vimos o vendedor de sorvete e parecendo duas menininhas,não resistimos e chamamos o vendedor.

-Limão?-perguntei enquanto o moço se aproximava e ela fez que sim com a cabeça

-Chocolate?-ela respondeu com outra pergunta e fiz que sim

  Ficamos algumas horas naqueles balanços,tomando picolé de limão e chocolate.Ela me perguntava como havia conhecido Joseph e me falou da viagem e de um italiano que passava as férias no mesmo hotel que ela.

  Tentei não me preocupar com a viagem do dia seguinte, mas eu sabia que ia sentir muita falta de ficar sentada,durante horas naquela praça. Eu no meu balanço amarelo e Isa no seu azul.

Cinzas de AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora