Eydam
– Não!
Me sento de uma vez na cama.
Minha camiseta está molhada de suor e minha respiração acelerada.
É normal que eu tenha pesadelos, más tem piorado nas últimas três semanas.
Meu cabelos está maior e sempre fica caindo nos meus olhos, como agora. Com uma mão o jogo para trás e enxugo o suor do rosto.
O quarto está escuro e a cama também está molhada, só que o que realmente me incomoda é a dor no lado direito do meu peito. No coração.
Toda vez que eu acordo sinto essa dor e ela só desaparece meia hora depois.
Olho para o relógio na cabeceira da minha cama. Ainda são três da manhã, o que significa que perdi as duas últimas horas de sono que me restavam.
Respiro fundo e saio da cama.
Eu saí da casa dos meus pais na cidade, agora moro em um chalé alugado na vila.
A Mary me ajuda como pode, mas faz um mês que passei a trabalhar para conseguir me sustentar, o que foi motivo de briga entre eu e ela já que o meu trabalho não é "seguro".
Todos os dias saio para correr as quatro da manhã, não faria nenhuma diferença sair uma hora mais cedo.
Assim que saio do banho, visto o meu uniforme de treino, e vou para a rua.
Há essa hora da manhã não tem ninguém na rua, principalmente quando está chovendo, o que é melhor para mim.
Ultimamente tenho me mantido mais distante das pessoas. Tenho medo de perder o controle e machucar alguém.
Comecei a mudar no dia que eu praticamente fugi da Lira, naquela mesma noite eu tive minha primeira crise.
Estava dormindo quando ele veio falar comigo.
O lugar era quente como o inferno, mas não me incomodava tanto quanto deveria.
Quando ele apareceu não entendi direito o que dizia, pensei que tudo não passava de mais um jogo da Lua, más então aconteceu, não sei como começou mas me lembro de sentir todo o meu corpo em chamas antes de eu explodir. Literalmente.
Uma explosão de energia que me jogou longe, mas não fez nada com ele.
– Não pode mais fugir – ele me disse quando eu tentava me levantar mas estava cansado demais – É hora de acordar.
– Do que você está falando? – minha voz saiu quase como um sussurro.
– Você sabe – levantei o rosto para olha-lo – Você sempre soube.
Não entendi no dia, pensava que ele estava ficando louco. Até que quatro dias depois eu tive outra crise, mais leve desta vez. Minha mão se acendeu com uma luz alaranjada que logo se tornou fogo.
Eu estava na casa da Mary e a coitada quase teve um ataque do coração quando viu suas cortinas em chamas.
Tentei lhe explicar que eu não era normal, que eu era diferente do que eu pensei. Que eu era outra coisa, algo que eu não sabia o que era e que ainda não poderia falar.
Foi depois disso que eu o procurei. Ele me treinou por pouco tempo, só até eu aprende a me controlar e não surta já que às vezes eu começava a tremer por conta da carga.
Depois eu fui embora, abandonei a casa da minha família e aluguei esse chalé, tentei me afastar de Mary mas não consegui e tentei parar de pensar nela.
Mas não funcionou. Tudo piorou.
Foi como se descobrir que eu tinha os poderes do Sol tivesse trago as memórias dela a tona, mesmo que poucas.
Nos meus sonhos ela estava viva, diferente, mas viva.
Tudo o que eu mais queria.
🕉️
– Chegou cedo rapaz – Aldus me cumprimentou assim que eu cheguei na arena – Madrugou outra vez?
– Talvez.
Eu não estava muito afim de conversa e ele percebeu, pois não falou nada enquanto vestia seu uniforme e eu calçava as botas a prova de fogo.
– Quem eu tenho que treinar hoje?
– Um jovem garoto do campo, Joe. Ele não é muito bom no controle, mas é forte – assenti – Ele pode ser uma boa opção para você extravasar.
Aldus sabia sobre mim e me ajudava a extravasar sem machucar ninguém quando a coisa ficava pesada de mais.
– Talvez.
Andei até a arena e logo na entrada estavam quatro jovens, três garotos e uma garota. Alguns deles pareciam ser até mais velhos do que eu.– Joe? – um garoto magrelo e franzino se levantou hesitante. Parecia ter no máximo dezoito anos, e me lembrou meu irmão. Droga. – Venha comigo.
Ele me seguiu até o centro de combate, e fez uma pequena chama surgir por entre seus dedos, para se distrair.
– O que você sabe fazer? – ele me olhou assustado, com medo de apanhar – Preciso saber se quiser ficar.
Quase que na mesma hora, seus punhos foram tomados pelo fogo.
– Me ataque – seu rosto empalideceu – Vamos, me ataque!
Então ele fez. Me mostrou a fome do seu fogo e me deixou extravasar.
Quando terminamos, ele já controlava com mais facilidade e seu ataque melhorara quatro pontos.
– Muito bom – ele sorriu – Amanhã vamos treinar a defesa.
– Okay – me despedi e comecei a ir para o vestiário – Treinador?
Me virei.
– Como consegue fazer isso?
– Isso o que?
Ele fez sinal para as minhas mãos. Abaixei a cabeça e olhe para as minhas mãos.
Elas estavam parecendo brasa de carvão, nem acesas e nem apagadas.
Esfreguei minhas mãos uma na outra para apagar.
– É involuntário – expliquei – Isso acontece quando o fogo está muito forte.
– Entendi – ele assentiu e se despediu.
O observei se afastar e só depois de ele desaparecer que eu corri para o vestiário e depois para casa.
Na soleira da porta estava um pequeno envelope, com meu nome na etiqueta.
Abri o envelope e tirei um pequeno papel lá de dentro.
Eram apenas poucas palavras, mas foram o suficiente.
Obrigado.
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Memórias - A Única Herdeira 2 (PAUSADO)
FantasyOnde há luz, sempre haverá escuridão. Um sacrifício foi feito, e como tudo na vida, também terá uma consequência. Memórias esquecidas, um passado a ser lembrado, um sentimento inevitável. A vida de Lira irá se transformar em um pesadelo. Um amor p...