Capítulo 16

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Meus dias estão sendo turbulentos e devastadores. Tenho agradecido intimamente por poder contar com a ajuda de Dorah para refazer a mala de Ollay. Pensei sinceramente que um dia faria isto com a intenção de levá-la para casa, aliviada e feliz.

Dorah me lança olhares fixos, ora de lamentação, ora de estímulo.

— Ela gostava deste suéter. — eu ergo o tecido no ar e sorrio, recebendo um beijo em meus cabelos.

— Sim, gostava.

— Eu procurei trazer as roupas mais confortáveis — digo enxugando minhas lágrimas insistentes.

— E ela insistia em me pedir para cuidar exatamente das peças que você separou.

Suas palavras provocam em mim mais lagrimas, e choro um choro convulsivo na camiseta simples de algodão, extravasando toda minha emoção por te perdido minha madrinha. Cheguei a tempo de ouvi-la pedir para que eu fosse feliz.

Faz duas semanas que organizei o velório de Ollay. Por motivos legais, ainda permaneço na cidade porque preciso resolver pendências como a venda da casa onde por anos morei com minha mãe e madrinha. Atendo ao desejo de Ollay em vender a casa e doar uma parte do dinheiro á clinica de hemoterapia que por tantos anos, a tratou com tanto cuidado. Outra parte foi presente para Dorah, nossa vizinha que cuidou de nós e da própria casa que foi nosso canto por anos, sem nunca pedir nada em troca. Tudo foi descrito exatamente em contrato, combinado com o único advogado da cidade.

Na clínica, deixei meus sinceros agradecimentos pelo tempo que cuidaram com carinho da mãe que me batizara, mas foi o abraço de Dorah que indicou que eu precisava deixar St. James.

— Precisa voltar, querida.

Concluo que cuidei de tudo como deveria ser, como ela me pediu algumas vezes. E que agora devo cumprir com seu desejo mais insistente: que eu cuide de mim.

— Eu sei.

— Há duas semanas está aqui — ela me observa cravando os olhos nos meus. — Têm se mostrado fiel á sua madrinha, resolveu tudo como uma mulher adulta que é e eu digo que já basta.

Sinto a ternura em seu abraço e suspiro, ciente de que Dorah tem razão. Assim como Ollay. Minha vida é importante e neste momento, eu preciso cuidar de mim como nunca.

— Eu fiz por amor.

— Apenas isso?

Ela me encara com olhos que me conhecem. Apesar de nunca ter sido mãe, assim como Ollay, ela não teve a mesma sorte de ter ao lado crianças e vê-las crescer. Mesmo assim, sempre existiu um instinto materno em suas ações.

— Como assim?

— Beatrice, querida, — ela segura minha mão e captura meu olhar novamente — quando Ollay disse que precisava voltar era para que resolvesse sua vida. E quando ela se foi, pediu que fosse feliz. Você é jovem, bonita e inteligente. Sei que sabe o que tem a fazer quando voltar para casa.

Eu hesito um instante, perdida em suas palavras.

— Leu minha carta?

— Não — ela nega com um sorriso — mas nem precisaria. Está apaixonada e isso é quase evidente...

— Tão evidente assim?

— Fica claro quando o amor nos toma.

— É, mas não há chances.

— Quem falou em chances? — Dorah continua com seu olhar intenso, queimando-me. — O amor não precisa de chances. E isso sua madrinha já disse uma vez...

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