Suspiro chocado comigo mesmo. Sinto uma extrema necessidade de contar á Coe sobre minha vida, sobre a relação fria com minha mãe e principalmente, com as mulheres com quem convivi. Essa necessidade lateja em mim de modo incômodo e de repente, me vejo abrindo a boca para falar de Andrea.
— Eu ainda era jovem quando notei a ausência de Andrea. Minha mãe — eu começo em tom seco, testando a sensação que as palavras causam ao saírem de minha boca.
Sinto-me tenso, algo me esquenta, uma espécie de calor parece aquecer meu peito. As lembranças de meu passado mais jovem dançam livres em minha mente.
— Quando criança, eu passei a me acostumar com suas desculpas, suas faltas nos jogos, nas apresentações, enfim, para mim era o trabalho o culpado pelas ausências. Eu não queria admitir, mas me incomodava com sua falta de carinho ou apenas seu apoio materno.
Ela compreenderia se eu revelasse minha vergonha em declarar que sentia falta de minha mãe, nos momentos mais importantes de minha vida? Bem, eu sei que é generosa, certamente que sim. Mas, principalmente porque é normal um jovem sentir falta do carinho de sua mãe.
— Por várias vezes, eu perguntei sobre seus motivos de não comparecer nas corridas, os nas reuniões da escola... Ou no dia em que ganhei o prêmio no Kart. O pior é que quando eu fazia isso, quando eu perguntava sobre esses motivos, eu sentia que estava fazendo papel de bobo.
É mais difícil assistir ao silêncio de Coe, enquanto conto para ela sobre minha vida sem graça e ridícula. Mas estou disposto a acabar com esse aperto em meu peito, algo que me fere e feriu por todo aquele tempo.
— Ela sempre conseguia fazer com que eu me sentisse um tolo — tento sorrir, mas o que consigo é um curvar na boca.
— Carl, você não precisa me contar isso. — ela me diz em tom suave. Seu rosto delicado, transparecendo toda a emoção que sente.
— Por favor... — eu peço mais firme, virando-me de costas para ela. — Não faça isso de novo.
Ela solta um som da garganta e compreendo que aceita que eu continue.
— Apesar de ter um pai sempre disposto á me suprir desse tipo de ausência, Mr. Joe não me deixou saber sobre o tipo de relação que compartilhava com minha mãe. Ele não poderia imaginar como foi terrível me esconder aquilo.
— Por quê?
Engulo seco antes de continuar. Eu tenho em minha mente, todos os detalhes daquela cena. Um misto de nojo e aversão me toma. Permaneço de costas para ela, ciente de que revelar isso será doloroso ainda.
— Um dia, eu cheguei em casa mais cedo — começo em tom neutro, sentindo a emoção embargar minha garganta. — Estava chovendo muito e eu peguei um táxi. Recusei o motorista que sempre me buscava porque queria sair da rotina daquele dia. Bom, eu c-cheguei em casa e...
— Carl...
Coe me chama porque não consigo terminar a frase. Sei que deixo longos segundos de silêncio no ambiente.
— Eu vi minha mãe e Cross... na cama. No quarto dela e do meu pai. Aquilo para mim foi um choque Coe, eu... — engulo mais uma vez a emoção de colocar em palavras o choque que tive ao flagrar o momento sexual que nunca mais saiu de minha cabeça.
— Carl, eu sinto muito.
— Eu os vi... na cama do meu pai! Ele faziam sexo e... Meu deus! — exclamo um urro curto e sofrido, sem nem conseguir completar a frase corretamente.
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