Capítulo 10

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— Como ela está?

— Beatrice, não gostaria de dar esta notícia por telefone, mas vamos ter que operar Ollay.

— Quando, Dr. Quice? — Gaguejo forçando minha mente a prestar atenção nas palavras do médico hematologista, que persiste no tratamento da minha madrinha por anos.

— Ainda não tenho uma previsão exata — ele informa sensato, mas detecto preocupação em sua voz. — Peço que adiante no que puder seu trabalho e venha o quanto antes conseguir.

— Sim, vou fazer isso. — afirmo num sopro, não consigo conter o tremor em minha voz. Ele se despede com um "até breve" e eu aceno com a cabeça como se ele pudesse me ver.

Eu sinto o chão sumir de meus pés por um segundo, sou tomada por uma mistura de sensações e uma delas é a insegurança. Minhas pernas parecem gelatina e minha cabeça gira de um jeito muito louco, fazendo meu coração bater acelerado.

— Minha madrinha — murmuro minha vulnerabilidade. — Ollay será operada.

Eu sempre soube que o tratamento caro só retardaria o inevitável e era o que Ollay insistia em me dizer. Por vezes ela pediu que eu interrompesse os depósitos que garantiam seu tratamento, mas eu nunca faria aquilo. A gratidão e o amor entre nós seriam eternos e o dinheiro nunca seria fator para provar isso.

Por mais que o Dr. Quice não tivesse me dado uma previsão, eu já me imaginei dentro do avião, voando para St. James, disposta a permanecer ali o tempo que fosse necessário. Mesmo sob os protestos de Ollay. Sinto-me vulnerável demais para pensar no que fazer, minha mente está sendo consumida por problemas e lembranças relacionadas a Carl quando eu deveria estar com ela vazia apenas para me preocupar com o tratamento de Ollay.

Não por Carl, porque apesar da paixão que explodiu entre nós ele não seria empecilho, e eu jamais abriria mão de acompanhar a cirurgia de minha madrinha por ele ou por homem algum. O fato é que minha vida está virando de cabeça para baixo, era estranho pensar em Carl como um homem apaixonante e quente. Mais estranho ainda, foi ter aceitado manter um relacionamento com ele à base de paixão.

Ele nunca saberia do esforço que fiz para manter-me distante durante a discussão que tivemos. Era um bruxo. Queria me castigar porque não cedi de primeira ao romance que ele propôs. Mesmo assim, me rendi ao seu beijo apaixonante. E depois, quando voltei para casa, a única coisa que tomava meus pensamentos era o beijo que trocamos.

Agora voltando à realidade nua e crua, ajeito a ultima peça na mala e guardo a reserva da passagem que fiz por telefone até o Aeroporto de Lambert. Já fiz isto varias vezes e não teria problemas com horários, já que a viagem segue de trem a partir de St James.

De malas prontas, pego o telefone na intenção de ligar no numero privado de Cavagnalari e informar minha urgência, mas quando a senhora Tuzzi atende, já me avisa sobre uma sessão para Carl.

Apesar de termos trocado beijos enlouquecidos e afagos de paixão, eu consigo forças para manter a proximidade entre nós, no aspecto profissional, como gosto de pensar. Entretanto, sei que só consegui isto porque Carl respeitou meu desejo em manter a sessão de modo sério sem que nenhum cedesse ao desejo claro e visível de ambas as partes.

Inicio a drenagem decidida a contar a ele sobre minha viagem. Minha intenção era fazer isto no início, mas não pensei que seria tão difícil. Fui titubeando até que finalizei a massagem, sentindo uma pequena tensão partindo do corpo dele. Claro que iríamos nos beijar quando a sessão encerrar. Com a imagem do beijo em minha mente, eu respiro fundo para ganhar ar e abro a boca, aproveitando a oportunidade.

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