Desci até o estacionamento com as mãos vazias, eu não consegui comprar nada, não consegui pensar nas compras quando a vi. O suor frio escorria pelo meu rosto, minha garganta estava seca, minha cabeça latejava de dor. Esfreguei as minhas mãos no rosto várias vezes enquanto andava em passos ligeiros pelo estacionamento, mas que merda! Por que agora? Justo quando eu finalmente estava aceitando a ideia de que eu era um filho da puta os olhos dela apareceram? Parei na fachada do mercado, observei os meus dedos tremendos, chacoalhando de forma impaciente, os mandei parar, mas eles me ignoraram, não obedeciam ao meu comando. Apoiei as minhas mãos no joelho coberto pelo jeans surrado, inclinei o corpo. Inspira, respira falei para mim mesmo enquanto tentava controlar a minha respiração, mas a minha vista estava turva, um borrão cinzento ocupou os meus olhos. Um barulho estridente de buzina atrás de mim me despertou dos meus devaneios, endireitei-me no mesmo instante e girei nos calcanhares e encarei a luz alta do farol vindo na minha direção, imediatamente estreitei os olhos e levei uma mão acima das minhas sobrancelhas.— Que merda! — gritei e então o motorista parou de buzinar e desligou o carro, a luz foi se partindo e eu finalmente conseguia enxergar.
— Ei cara! Que demora! — a voz de Luiz gritou dentro de um Jeep branco.
Eu havia me esquecido completamente dele. Forcei os meus pés a andar e entrei no carro, bati a porta com força.
— Porra, Max — ele reclamou com ambas as mãos no volante. Luiz era um cara legal, mas idiota na maioria das vezes, encarei os seus dreads, ele parecia furioso. — Fiquei horas esperando você, o que aconteceu, velho? Cadê as suas compras? Cadê as cervejas que era pra você comprar?
Ele olhou para mim procurando as minhas sacolas, franziu o cenho, sua pele negra se enrugou levemente.
— Cadê a porra da cerveja, Max? — inquiriu com uma sobrancelha arqueada, a voz estridente.
Dei de ombros e fixei os meus olhos na rua deserta que nos cercava.
— Max, não podemos chegar na festa sem cerveja.
— Eu não vou mais nessa festa — minha voz estava rouca, sem entonação. O que tinha acabado de acontecer? O que eu fiz com aquela garota? Ela perdeu a porra de uma perna por minha causa, e eu estava há uma hora atrás mais preocupado em ir a uma festa idiota, ao invés de apodrecer de remorso e culpa.
— Que merda aconteceu com você? — Luiz perguntou, ele sabia que algo estava errado comigo, éramos velhos amigos e ele conseguia farejar as minhas mentiras e angústias. — Você viu uma das suas ex no mercado?
Quem dera, foi bem pior.
Ele ficou esperando eu falar, mas eu o ignorei totalmente com o cotovelo apoiado no peitoril da janela do carro, os meus olhos fixos em algum ponto da rua. Luiz balançou a cabeça irritado e socou o volante bufando baixinho.
—Vou lá comprar a merda da nossa cerveja — ele disse com raiva, trinquei os dentes, que se dane a cerveja! — Fique aqui, já volto.
Ele puxou o freio de mão e deixou o carro ali mesmo em local proibido e saiu pisando duro no chão de cimento do estacionamento. Suspirei alto e descansei a cabeça no batente da porta. A perna dela sendo arremessada foi a primeira imagem que surgiu na minha cabeça quando eu fechei os meus olhos.
O ódio se espalhou pelas minhas veias, minha respiração estava rápida, meu coração martelava em meu peito o fazendo subir e descer lentamente. A raiva que eu sentia por mim mesmo fora tão grande que eu me estapeei ali mesmo, dei vários socos no meu rosto até a minha pele arder só parei de me bater quando eu vi a silhueta do meu passado passar por mim. Ela caminhou até o fim do estacionamento com uma bolsa pendurada em seus ombros. Não pensei duas vezes, saí do carro e a segui.
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Até amanhã girls and boys ♥
Instagram: michelebatista1
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Ainda Não Acabou
ChickLitNatasha não sabe, mas foi Max quem destruiu os seus sonhos. Foi ele quem arruinou a sua vida e a condenou a viver uma vida vazia, sem perspectiva e sem um futuro. Agora Max terá a chance de consertar um grande erro do passado, e Natasha terá a chanc...