ELA

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Voltei, e desta vez é pra ficar. Então convide as amigas e amigos para ler com vocês ;)


Achei que ela fosse morrer.

Meu coração se despedaçou com a possibilidade de perdê-la. Era dramático. Era. Mas era real. Meu medo de perder a minha irmã era maior do que o medo de perder a mim mesma. Eu já havia me perdido tantas vezes. Estava sempre me perdendo por entre a vastidão obscura da vida. Por entre as nuvens grossas e assombrosas de uma tempestade. Eu havia morrido e agora repousava silenciosamente no limbo da solidão. Ela me engolia para o mais profundo abismo. Eu já estava acostumado com as sombras. Com o coração apertado. Com a dor. Mas em um segundo meu coração se apertou ainda mais com hipótese de perder Tália. Eu poderia viver sem mim, mas não poderia viver sem ela. Era terrível a sensação de dependência que eu sentia, mas ao mesmo tempo era a única coisa que me segurava. Tália era o meu porto seguro. Era ela quem segurava as minhas mãos impedindo-me de cair nas profundezas gélidas da minha mente. Ela permitia que eu descansasse em seus braços como uma criança que repousa tranquilamente no colo de sua mãe. Nós tínhamos um laço. Eu sentia isso. E lamentava não ser tão presente na vida dela como ela era na minha. Era uma péssima irmã, mas ainda sim eu a amava.

Então quando corri para o hospital sentindo a garganta seca, o suor escorrendo pela minha pele ensopando minha roupa e o medo se alastrando por todos os meus poros, eu fiz uma coisa que eu não fazia a muito tempo: rezei baixinho implorando para que o universo e quem quer que seja que o governasse cuidasse de Tália. Eu não suportaria vê-la sofrer. Estranho, porque ela suportou durante todos esses anos o meu sofrimento, tentando ser forte, buscando em si mesma uma força que eu sabia que eu nunca teria. Tália era forte e corajosa. Eu não. Tália poderia viver sem mim. Eu não. Tália conseguia seguir em frente sempre. Eu jamais faria algo assim.

Victor estranhamente me seguiu. Eu não queria vê-lo, mas quando cheguei no hospital ali estava ele parado com cara de quem lamentava muito a minha vida desgraçada. Ele achava que poderia me salvar. Que eu era uma garotinha como aquelas dos quadrinhos que necessitava de um herói para se salvar. Ele pensava mesmo que poderia ser o meu herói. O homem que entraria na minha vida e que me salvaria de todos os problemas. Que expulsaria o mal. Que nunca deixaria com que algum vilão mandado pelo vida me destruísse. Eu olhava para ele e sentia seus olhos dizendo-me que eu precisava dele. Mas eu não precisava. Eu não queria ser salva. Eu queria alguém que assim como eu entendesse o que é estar na merda. Que segurasse a minha mão e que lutasse comigo contra os infortúnios da vida. Era por isso que eu desejava por Max. Ele carregava em seus olhos uma tristeza igual a minha. Ele parecia me entender de uma maneira surreal. Chacoalhei a cabeça. O que eu estava pensando? Minha irmã em um hospital e eu pensando em Max? Logo em Max que com certeza não precisava de mim e que certamente estava nos braços da loira de perna comprida. Eu precisava esquecê-lo, mas arrancá-lo dos meus pensamentos seria doloroso. Seria como tirar a força cada fio de cabelo da minha cabeça. Era difícil, mas eu sabia que era necessário. Seria melhor começar logo antes que as coisas piorassem.

— Victor — eu disse me aproximando dele na recepção. — O que faz aqui?

— Vim ver a sua irmã. Sou amigo do noivo dela. Ele precisa de mim — ele disse sem jeito, mas depois firmou a voz para tentar soar como se não se importasse comigo.

— Eu gostaria que você fosse embora — falei, de um jeito duro.

— Natasha...não precisa agir dessa maneira. Não somos crianças. Eu já entendi que você não quer conversar comigo.

Os seus olhos estavam marejados. Ele queria que eu sentisse pena dele. Mas eu não conseguia. Fiquei ainda mais irritada.

— O que você quer, Victor? — perguntei mal humorada. — Eu estou bem sem você. Fiquei anos sem você. Não vai ser agora que eu vou precisar de você.

Ainda Não AcabouOnde histórias criam vida. Descubra agora