Boston

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Passado

Katniss

"...I think I'll go to Boston,
I think that I'm just tired
I think I need a new town, to leave this all behind
I think I need a sunrise, I'm tired of the sunset
I hear it's nice in the summer some snow would be nice... oh yeah..."

Augustana

***

– Senhorita Everdeen, sinto muito, mas não podemos mais esperar, temos que te levar para a ala cirúrgica e realizar uma cesariana. - Diz a médica muito jovem ao meu lado, a olho de forma firme enquanto sinto uma nova contração queimar em meus ossos, dilacerando mais um pouquinho da minha vontade de não gritar.

Estou em trabalho de parto a quase doze horas. Doze horas! Longas, longas horas e minha filha simplesmente não quer nascer. Quer dizer, ela até quer nascer, ou eu não sentiria tanta dor, mas ela não tem abertura suficiente para sair do meu corpo. De acordo com a minha obstetra, eu não tenho um dilatamento adequado e não dilatei os centímetros requeridos para um parto normal.

Estou cansada, estou muito, muito cansada. Nunca pensei que ter um filho fosse tão ruim, essa é a pior dor física que já senti na vida. Parece que está me rasgando por dentro em vários pedacinhos, dilacerando tudo o que sou. É absurdo, eu sei bem. Entretanto, não sei como descrever o que sinto agora, não quando estou com tanta dor que mal consigo respirar. As contrações foram ficando mais constantes, e mais demoradas em ir embora, minha vontade é de fazer toda a força do mundo para forçar a minha filha a nascer de uma vez por todas, mas não posso fazer isso, não se quero que minha menina sobreviva ao parto.

De acordo com a obstetra que está ajudando no meu parto, o meu bebê não está se movimentando pelo canal do parto porque o meu colo do útero parou de dilatar. Nem me pergunte o que significa isso, não faço a mínima ideia do porque isso aconteceu comigo, meu próprio corpo está me sabotando de modo muito injusto. Quer dizer, mulheres são feitas para darem a luz. Então, por que não consigo tirar essa criança do meu corpo?

– Entenda Senhorita Everdeen, você já está muito cansada e já esperamos tento suficiente longo para o dilatamento vaginal, isso não vai acontecer nesse estágio e o seu bebê pode começar a passar por sofrimento fetal, ou seja, falta de oxigênio no cérebro que acarretaria em milhares de complicações mais para frente, além de que poderia morrer se esperarmos mais tempo. - A obstetra me diz com firmeza, sei que estou sofrendo, mas realmente queria ter um parto normal.

Minha mãe teve parto normal, isso não deveria ser genético e eu também teria parto normal? Não é assim que funciona? Estou tão confusa, tão, tão cansada. Se a obstetra me deixasse dormir só alguns minutos ou se as contrações parassem apenas alguns minutos para que eu pudesse descansar, isso seria muito melhor. Eu seria mais feliz assim.

Espera um pouco. O meu bebê está sofrendo dentro de mim? Por eu não ter espaço suficiente para fazê-la sair em segurança de dentro do meu corpo? Eu escutei direito? Estou tão cansada que tudo isso parece um sonho, um sonho muito ruim e doloroso.

– Pode fazer. - Ouço minha voz dizer. - Faça o que quiser, apenas salve o meu bebê. Minha menina não pode sofrer, não pode.

– Faça Katniss, você consegue, já está quase acabando. - Johanna me diz de muito perto. Eu tinha direito de ter um acompanhante no parto da minha filha e escolhi chamar a Johanna. Primeiramente porque ela me mataria se não a escolhesse, segundo porque realmente confio nela e se algo acontecer comigo quero que ela fique com minha filha, que procure o pai dela e que entrega a minha menina a ele.

Amarras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora