All You Never Say

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Passado

Katniss

"...Are you uncertain?
Or just scared to drop you guard?
Have you been broken?
Are you afraid to show your heart?
Life can be unkind
But only sometimes
You're giving up before you start..."

Birdy

***

– Calma, passarinho, não chora. Mamãe está aqui por você, mamãe chegou para te proteger. - Digo a minha filha chorona, ela estava tão desesperadamente sozinha e triste, tão suja de comida e com febre que estou a um passo de ter um colapso nervoso. Beijo os cabelos escuros da minha filha e a aperto mais em meu peito, quero que ela sinta que existe alguém no mundo por ela, quero que perceba que não vou mais me afastar dela.

Minha Elika está com um ano e seis meses agora, é a garotinha mais linda que eu já vi, com os maiores olhos azuis de Panem, culpo e ao mesmo tempo agradeço o pai dela por isso. Ela é tão bonita, tão delicada e esperta e não merece sofrer o que passou hoje.

Se Johanna estivesse aqui, nada disso teria acontecido, minha filha nunca estaria nessa situação de completo abandono, eu estava trabalhando e não sabia que minha menina estava passando por isso. Mas, a culpa de tudo isso não é da minha Elika, ela é um bebê. A culpa é da minha mãe.

Ela tinha que surtar logo essa semana, tinha que se desligar justamente agora? Eu preciso dela, preciso de sua ajuda e novamente não posso contar com ela. Novamente ela me abandona com uma criança nos braços para que me vire com ela.

No passado foi minha irmã Primrose, logo após a morte do meu pai, minha mãe entrou em um quadro profundo de depressão e apenas não conseguia fazer nada, foi quando eu aos doze anos de idade tive que tomar as rédeas da situação financeira da minha casa e sair para a floresta para caçar e provar a minha irmã pequena.

Agora é minha filha que passa isso e Elika é muito mais jovem do que Prim era, na época. Elika é um bebê. Não pode se virar sozinha, não faz nada sem ajuda de um adulto. Ela começou a andar a pouco tempo, já fala algumas palavras, entretanto isso não a qualifica como alguém independente. Ela é mais frágil do que Prim foi e minha mãe que prometeu me ajudar, novamente se mostra uma completa inútil.

Estou com tanta raiva agora que grossas lágrimas escorrem por meu rosto, quero gritar de frustração, quero bater fortemente no rosto da mulher que me pôs no mundo, eu realmente não entendo o que existe de errado com ela, mas não posso suportar pensar que ela negligenciou a minha filha por todos esses dias.

Viver no Distrito Quatro não está sendo nada do que acreditei que seria, isso aqui parece um pesadelo terrível, me arrependo muito de ter vindo para cá, queria sair correndo de volta para o Sete, queria ter Johanna aqui para me ajudar, ela é madrinha de minha filha e jamais permitiria que alguém maltratasse a minha menina como a minha mãe indiretamente fez.

Lentamente trato de enxugar as grossas lágrimas que insistem em cair dos meus olhos e ao segurar a minha filha nos braços vou para a cama e a deito muito lentamente sobre o seu trocador, tiro a sua calça de moletom totalmente infestada de um cheiro ruim e me assusto com o que vejo, a frauda descartável que minha filha usa transbordou, o que não é um caso assombroso, mas dessa vez não foi a única vez que transbordou, minha mãe não a tinha trocado por, pelo menos, duas vezes e o cocô estava melando tudo por dentro. O xixi também tinha transbordado para fora da frauda superlotada o que certamente fez um meleca grudenta, pastosa e incrivelmente mal cheirosa.

Amarras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora