Sensação de Dejà Vu

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Era quase fim do ano, acreditava que faltava apenas alguns dias, mas mesmo assim ainda tínhamos aula na academia na parte da manhã, mesmo que a escola nos liberasse a tarde para nos organizarmos para as festas de fim de ano. O natal já havia passado havia pouco mais que 3 dias e a academia estava quase vazia. Vou explicar melhor a situação.

A partir do dia 22, os alunos eram liberados para passar o natal e o ano novo com os parentes, se quisessem é claro, no entanto, por que eu voltaria para Seattle? Silena iria passar o natal e o ano novo com a família de família de Charles, seu namorado. Papai me arrastaria para alguma festa de sorrir-e-acenar.

Eles eram a única família que eu tinha... Preferi permanecer na escola com aulas a mais, dormir na academia, passar as festas aqui e quem sabe a queima de fogos na Baía de San Francisco fosse interessante? Talvez seja até mais empolgante em Paris que só tem a Torre Eiffel brilhando e sem ninguém expressando nitidamente felicidade pelo novo ano.

Continuei a andar até o atalho de uns atrás que encontrei até chegar no bosque. Cada passo era uma tortura, pois eu ainda mancava e meu tornozelo ainda inchava, mas segundo minhas contas restava apenas mais 2 dias de dor, com sorte na virada do ano eu não sentiria mais nada.

Analisei o pequeno bosque que apenas eu sabia da existência. O pequeno riacho lambia preguiçoso a terra suja de folhas caídas, o sol brilhava e mesmo que estivesse um pouco mais frio que nas outras estações a temperatura não ia a menos que 18 graus aqui na Califórnia o que pra mim era uma total surpresa. Do outro lado do país, onde fui criada, já devia estar a três metros abaixo de gelo e neve.

Eu realmente gostei de passar o natal sem toda aquela neve que me fazia usar tantos casacos que eu mal conseguia olhar um palmo a minha frente. Sentei-me à beira da árvore, meu pé enfaixado permanecia em cima da minha bolsa para que de algum jeito ficasse alto e menos dolorido, não sei o porquê mais sempre funcionava. Meus fones de ouvido estavam encaixados em minha orelha e sussurravam a voz dos Beatles cantando Let It Be.

Um ponto ficou focado por mim, não que fosse interessante, eu apenas queria observar o ponto da minha consciência através dele. Lembrei de quando eu tinha apenas 3 ou 4 anos, algo esfaqueou meu peito ao me lembrar da cena. Poderia ser a mil anos atrás, mas ainda doeria com o fogo de mil cálices de vingança.

Era quase meia-noite, eu havia pedido uma Barbie da praia que era bronzeada e vinha com óculos de sol e prancha de surfe. Mamãe sempre sorria toda vez que eu lhe respondia que queria aquilo de natal.

Ela havia saído ontem a tarde, me abraçara e dizia que voltaria no outro dia para que abríssemos meu presente juntas. E eu sorrira, esperava por isso a meses.

Papai havia ido busca-la no aeroporto e dissera para que eu ficasse em casa e me arrumasse junto com Silena. Já fazia tempo demais que ele havia saído, mas eu pensara que nada de ruim pudesse vir a acontecer, era inocente demais para achar isso porque minha irmã havia dito que no natal nada de ruim acontece, e eu acreditei.

Com um barulhinho baixo ouvi papai chegar, mas ele estava... sozinho? Não entendi aquilo, mamãe ia brincar de esconder agora? A gente tinha que abrir os presentes! Eu queria a minha Barbie da praia! Papai vinha tentando esconder seu rosto e eu apenas pensava que era uma de suas brincadeiras, tentei tirar as mãos que cobriam seu rosto feliz de quando saíra, mas quando enfim consegui me livrar delas, ele me puxou para perto dele e me abraçou forte. Algo molhado manchava meu lindo vestidinho verde que mamãe dissera uma vez que ficava lindo em mim.

Eu mal podia respirar, mas ele não me largava e as gotas não paravam de molhar minha roupa nova.

– Me abrace, Pipes. – ele pediu – Apenas me abrace e tudo ficará bem.

A Second Change For UsOnde histórias criam vida. Descubra agora