*HELENA*
- Obrigada, tio Fernando. - Digo, ao chegarmos na frente da minha casa. Eu me viro para lhe dar um beijo de despedida no rosto, como todos dos dias.
- Espera, vou entrar com você hoje, para tomar um copo de água.
- Tudo bem.Entrei em casa e ele entrou atrás, fechando a porta. Fui direto para a cozinha pegar a água.
- O que você costuma fazer quando chega da escola? - Fernando pergunta, quando lhe entrego o copo com água.
- Ah, eu faço algum lanche e como, depois jogo um pouco de vídeo game, assisto TV, brinco no meu quarto. Quando dá uma 15hs a mamãe chega e depois o papai.Inocente, dei a ele todas as informações que ele queria e nem precisou pedir.
- Posso almoçar com você hoje? - Ele puxa uma cadeira da mesa e se senta.
- Mas eu não sei fazer almoço, só lanches simples.
-Tudo bem, eu te ajudo a fazer os lanches. - Ele sorri.
- Mas o senhor não vai trabalhar?
- Posso chegar um pouco mais tarde hoje.
- Tudo bem. - Essa era sempre a minha frase final.
- Ok. - Fernando puxa as mangas do blaser preto pra cima e se levanta. - Me fala onde estão os ingredientes, vai lá tirar a roupa da escola e depois desce para me ajudar. - Diz sorrindo e eu mostro que tudo está na geladeira.Subo para o meu quarto no andar de cima e fecho a porta, mas sem a trancar. Tirei o uniforme e coloquei um shorts e uma regata. Estava guardando o uniforme no closet quando ouço batidas na porta e antes que eu abrisse ou dissesse que poderia abrir, Fernando surge entre ela.
- Vim te buscar. - Ele entra no quarto.
- Mas eu já ia descer.
- Sabe Helena, eu andei reparando que você está muito linda. Uma mocinha realmente linda. - Ele fecha a porta e caminha em minha direção.
- Obrigada. - Disparo, sem entender.
- Seus olhos azuis, seu cabelo loiro, suas curvas começando a se destacar.A partir daquele segundo, o medo foi a minha companhia mais infeliz que eu tive que caminhar lado a lado, todos os dias, durante muito tempo.
- O que o senhor quer? - Perguntei, mesmo com medo da resposta, enquanto me afastava, dando passos para trás.
- Você. Eu quero você!Fernando dá um pulo pra frente e me segura. Eu tento me soltar, correr dali, mas não consigo. Me sinto literalmente tão pequena diante daquela situação.
Ele me beija e aquilo é tão nojento que mordo seu lábio inferior com força e sou surpreendida com um forte tapa no rosto. O susto me faz ficar paralisada.
- Não faça mais isso! - Ele grita - Você não vai se machucar se fizer tudo o que eu mandar.
Fernando me joga na cama e sobe em cima de mim. Ele tira o blaser, depois a camisa social de baixo. Vê-lo quase nu me faz sair do transe e começo a me desesperar.
- Você vai gostar, Helena. Tenho certeza que vai, todo mundo gosta.
Tentava chuta-lo, mas minhas pernas estavam presas embaixo dele. Fico ainda mais assustada quando ele tira algemas de dentro do bolso da calça. Meus olhos se arregalam e as lágrimas começaram a cair violentamente.
- Já que você não quer parar quieta, vou ter que usá-las em você.
- Não, por favor, tio. Eu imploro, não faça isso comigo, tira isso de mim. - Peço em meio aos soluços.
- É mais excitante, você vai gostar, te garanto.Ele puxa meu braço e fecha a primeira algema na cabeceira da cama e faz o mesmo com o outro braço.
Fernando subiu minha regata e tirou meu shorts. Suas mãos e sua boca percorreram meu corpo da maneira mais suja possível. Seus olhos vieram de encontro aos meus e em seus lábios um sorriso horrível.
Sem saber como ele havia tirado as calças, me desesperei ainda mais ao ver que ele estava completamente nu. E assim, com um único movimento bruto que ele fez, consumiu o ato que eu mais temia.
Gritei de dor e logo sua mão veio em direção a minha boca. Ele abafou o meu grito naquele momento, mas a minha alma nunca mais parou de gritar.
Olhei pro lado, na intenção de dirigir meus sentidos para outra coisa, para fugir de tudo aquilo, de toda aquela dor. Olhei fixamente para uma boneca que havia deixado na minha penteadeira. Fiquei olhando para ela o tempo todo, enquanto Fernando permanecia com a mão em minha boca.
- Tá gostando? - Ele sussurra em meu ouvido.
Não respondi, eu só conseguia chorar.
- Diz que está! Diz que sim! - Ele grita e faz com mais força.
Eu rapidamente balanço a cabeça em sinal de "sim". Fechei meus olhos, porque aquela dor estava insuportável. Fechamos os olhos para não ver, na esperança de um dia não lembrar daquela cena. Pura ilusão. Ela fica viva todos os dias na nossa mente, como um parasita impregnado nas nossas lembranças.
Fernando para de repente e joga o peso do seu corpo em cima do meu. Choro ainda mais de alívio. Ele se vira, ficando do meu lado na cama. Tira as algemas de mim e eu descanso meus braços em cima da barriga. Não conseguia me mexer, cada músculo do meu corpo doía.
- Você nunca vai contar isso a alguém, sabe por que? - Ele começou a falar, deitado do meu lado. - Ninguém iria acreditar, crianças mentem o tempo todo. Seu pai não acreditaria em você, sua mãe não acreditaria em você, porque eles confiam em mim e ninguém confia em crianças. Além do mais, eu poderia usar aquela arma - Ele aponta para a arma que está presa na calça jogada no chão. - Em você, no seu pai, na sua mãe, em qualquer um que se atrevesse acabar com a minha vida, eu acabo com a de vocês primeiro.
Permaneci calada, olhando para cima.
- Deixa eu ir, que a sua mãe já deve estar chegando. E você não vai querer descobrir o que eu posso fazer com você, se eu descobrir que está dando pistas para os seus pais descobrirem. Ninguém acreditaria em você, Heleninha. Você iria acabar sendo uma decepção para toda a nossa família.
Fernando coloca a roupa, volta para me dar um beijo nos lábios e sai do quarto, deixando a porta aberta. Ouço seus passos descendo a escada e em seguida a batida na porta.
Como é possível toda uma vida ser destruída, por conta de um acontecimento de no máximo 1h?
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DEGUSTAÇÃO | Eu morri naquele dia
Non-FictionO mundo está tão cheio de maldades, que às vezes dá medo até pisar os pés na rua. Mas o que fazer quando a maldade está dentro da sua própria casa? Era pra ser um dia comum, como qualquer outro. Helena não imaginava que teria sua inocência brutalm...