*HELENA*
Minhas mãos não paravam de tremer, tentei disfarçar colocando-as para trás, enquanto estava com Fernanda, esperando o pai dela chegar.
Quando avistei o carro, quis correr, quis chorar, quis tanta coisa, mas a única coisa que dava para fazer era entrar dentro dele, e foi o que eu fiz.
Fernanda sentou no banco da frente como sempre e deu um beijo no rosto do seu pai. Fiquei imóvel no banco de trás, escondendo minhas mãos entre as pernas, tentando controla-las.
- Cadê o beijo do tio? - Fernando se vira para me olhar.
Inclinei meu corpo pra frente devagar e lhe dei um beijo no rosto e ele deu outro no meu. Quando ele começou a dirigir, limpei disfarçadamente aquele beijo sujo do meu rosto. Imediatamente quis tomar um banho.
- Por que está tão quieta, Helena? - Fernanda me pergunta, depois de quase dez minutos que estávamos em silêncio.
- Nada.
- Sempre conversa que nem uma matraca.
- Não quero mais ser uma matraca, só isso. E você nem conversa comigo, então por que está incomodada?Fernanda se surpreende com a minha grosseria, se virando pra trás para me olhar, depois coloca seus fones de ouvido.
- Parece que alguém aqui não está num bom dia. - Fernando provoca, me olhando pelo retrovisor.
Quando Fernanda desce do carro e se despede de nós, meu coração começou a bater tão forte que doía.
- Então quer dizer que você já foi falar para o seu pai que queria voltar de ônibus pra casa depois da escola. - Fernando diz e vira o rosto pra trás para me olhar, enquanto esperava o farol abrir.
- Como soube disso? - Pergunto surpresa.
- Seu pai veio me perguntar ontem à noite se estava sendo um incômodo pra mim te levar todos os dias para casa, porque você estava achando que está me incomodando.Virei meu rosto e fiquei olhando pela janela, quando o farol abriu e ele se virou para frente.
- Então você gosta de receber castigos, né? - Vejo ele dando um sorriso malicioso pelo retrovisor.
Quando o carro parou na frente de casa, eu desci rápido com as chaves na mão e quis abrir o portão rápido, mesmo com as mãos tremendo. Mas Fernando já estava atrás de mim, antes mesmo do portão ser aberto.
Naquele momento eu percebi que ia realmente viver todos os dias o mesmo pesadelo sem acordar.
Entrei dentro de casa já chorando e ele fechou a porta atrás de si.
- Por que está fazendo isso comigo? Eu pensei que o senhor era bom.
- Mas eu sou bom Heleninha. - Ele sorri - Você se tornou ainda mais preciosa na vida do tio. Eu gosto de você, gosto muito. E você também gosta de mim, não gosta? Vai acabar gostando de tudo o que fazemos. É algo bom para nós dois.
- Como pode ser algo bom pra mim se me machuca, se dói. - O encaro aflita.
- É só questão de tempo até se acostumar. Eu só quero te dar prazer como você me dar.
- Como posso me acostumar com algo que me fez mal?
- Escuta, Helena. - Seu sorriso desaparece - Se você não colaborar, eu vou ter que realmente te machucar para você aprender como se comportar e eu não quero fazer isso.Corri em direção às escadas, na intenção de chegar no quarto e trancar a porta, entrar no banheiro e trancar a porta dele também. Mas tropecei no degrau e cai. Antes mesmo de conseguir me recompor, ele me pegou pela perna e me puxou, já colocando a mão em minha boca. Fiquei com medo dos castigos e por isso não tentei gritar. Só me rendi e me preparei.
- Não adianta tentar fugir de mim, Helena. Essas atitudes só pioram tudo, porque eu acabo ficando nervoso.
Fernando outra vez tirou as algemas do bolso e colociu em meus pulsos, mas sem grudar em nenhum cômodo, só fez minhas mãos ficarem juntas. Me jogou no sofá, tirou meus tênis e minha calça. Em seguida tirou o blaser novamente preto e a calça jeans, jogou os sapatos sociais de lado e ficou só com a blusa social.
Chorei desesperadamente e quanto mais eu chorava, mais ele sorria. Sua mão direita veio parar no meu pescoço e eu fiquei ainda mais assustada. Ele não apertava para que eu perdesse o ar e nem deixar hematomas, mas apertou o suficiente para me deixar desconfortável.
De repente ele começou a fazer com mais força e gritei de dor. Sua mão livre agora estava novamente minha boca.
Quando tudo finalmente acabou e ele saiu de cima de mim, vimos sangue escorrendo entre as minhas pernas e passando para o sofá.
- Ah, até que enfim. Já estava começando a achar que não era mais virgem. Se levanta, dá um jeito nisso, se não vai acabar espalhando sangue pela casa.
Fernando coloca sua roupa e tira as algemas de mim. Ele tenta me dar um beijo nos lábios e eu desvio, mas ele segura brutalmente meu rosto, me beija e vai embora.
Foi horrível ver meu sangue daquele jeito, eu nem sabia que tínhamos que sangrar, ninguém nunca conversou sobre aquilo comigo, até porque eu só tinha 10 anos. Fiquei ainda mais dolorida que ontem.
Subi as escadas com dificuldade e fui para o meu banheiro tomar um banho.
Depois de um tempo, desci para o andar de baixo, tirei o forro do sofá e coloquei na máquina de lavar. Ainda bem que não tinha ultrapassado. Voltei pra cozinha e peguei uma faca. Fechei meus olhos e juntei forças para fazer aquilo. Peguei um pano de prato e coloquei na boca e assim fiz um corte profundo na palma da mão.
Esperei o sangue escorrer um pouco e depois coloquei um ban-aid.Às 15hs, quando a minha mãe chegou, eu corri em direção a ela e pulei em seu colo.
- Mamãe, me desculpa! Eu sujei o forro do seu sofá com sangue. Eu estava comendo maçã e inventei de tirar as cascas e acabei me cortando. Eu queria ter lavado o forro, mas eu não sei lavar. Me desculpa, mãe. - Começo a chorar, lembrando do verdadeiro motivo do meu desespero.
- Filha, calma filha. - Minha mãe segura meu rosto e enxuga minhas lágrimas - Não tem problema, está tudo bem, a mamãe lava. O importante é cuidar desse machucado e me prometer que não vai mais pegar em facas, tudo bem? - Ela me abraça.
- Tudo bem. - Digo minha frase final, mas não consigo parar de chorar.
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DEGUSTAÇÃO | Eu morri naquele dia
Non-FictionO mundo está tão cheio de maldades, que às vezes dá medo até pisar os pés na rua. Mas o que fazer quando a maldade está dentro da sua própria casa? Era pra ser um dia comum, como qualquer outro. Helena não imaginava que teria sua inocência brutalm...