"Eva"
Com trinta minutos que eu tinha ido ao mercado, voltei pra casa. Estava com quatro sacolas nas mãos, coloquei-as no chão para pegar a chave em meu bolso, mas quando fui abrir a porta, ela já estava aberta. Será que eu tinha esquecido de fechar?
Entrei desconfiada, coloquei as sacolas na mesa e chamei pela Helena, mas ela não respondeu.
Fui ao banheiro e sua toalha estava esticada no box e o chão estava seco, sinal de que ela ainda não tinha tomado o banho.
Voltei pra sala, peguei meu celular e liguei para ela. Escutei o toque do celular dela vindo do quarto, fui até lá e o encontrei jogado em sua cama.
Tentei manter a calma, porque se eu me desesperasse, não iria conseguir raciocinar.
Helena não iria sair sem me avisar e sem levar o celular. Na verdade, Helena não saia sozinha."Calma Eva, calma. Ela vai voltar. Seja já pra onde ela foi, ela vai voltar."
***
Depois de passar duas horas, eu não conseguia mais fingir que nada tinha acontecido. Não, a Helena não ia fazer isso.
Andei de um lado para o outro sem saber o que fazer. Comecei a chorar por me sentir tão inútil naquele momento.
Não adiantaria ligar para a polícia, porque eles não iam registrar um desaparecimento de apenas duas horas, mas eu sabia que duas horas era tempo demais em relação a Helena que não saia sozinha nem para ir à esquina.
Peguei o celular da Helena, como eu sabia a senha, digitei o número da casa dos pais dela. No terceiro toque, o pai dela atendeu.- Alô?
- É... olá... bom dia, Cristiano, é a Eva. - Gaguejo.
- Olá querida, bom dia. Tudo bem por aí? - Sua voz era animada.
- Na verdade, mais ou menos. - Confesso.
- Como assim? Cadê a Helena? Aconteceu alguma coisa com vocês?
- Heleninha saiu há duas horas e ainda não voltou e não levou o celular.
- Ela costuma fazer isso? - O tom animado na voz do Cristiano começa a mudar.
- Não, ela não sai sozinha aqui.
- Ai meu Deus, você avisou a polícia?
- Eles não iam registrar um desaparecimento de duas horas, mas Cristiano, eu sei que a Helena não iria sair por duas horas sem me avisar e sem levar o celular.
- Não fala isso, Eva. Ai meu Deus, cadê a minha filha? O que eu faço daqui? Eu não consigo pensar em nada, estou em pânico.- O que foi, Cristiano? - Ouço a voz da Monique de fundo e ele não responde.
- Cristiano, sei que vai soar estranho, mas eu preciso te perguntar uma coisa. - Respiro fundo.
- O que?
- O seu irmão, o Fernando, ele está aí no Brasil?
- Não. Ele viajou para Munique há um mês, está de férias com a família aí na Alemanha também.
Gelei.
- Você alguma vez falou para ele o nosso endereço? - Perguntei enfim.
- Logo quando vocês viajaram ele me perguntou e eu falei por alto. Mas o que isso tem a ver Eva? O que você está insinuando?
- Foi ele. Ele a pegou. Helena está em perigo, Cristiano. - perdi o controle - O Fernando veio até aqui, eu não acredito. Não pode ser, ai meu Deus, o que ele está fazendo com a minha amiga agora?
- Como assim, menina? Que mal o meu Irmão iria fazer a minha filha? - Cristiano pergunta chocado.- Que mal? Todo o mal do mundo! O seu irmão estuprou a Helena durante sete anos, todos os dias depois da escola, bem debaixo do nariz de todos vocês e ninguém nunca percebeu nada. Fernando é o monstro que toda mulher teme encontrar na rua e Helena tinha que conviver com ele dentro da própria casa. Ela não veio pra cá para ter experiência nova, ela está fugindo dele. E agora ele a encontrou de novo. - Despejei todas aquelas palavras e chorei furiosamente.
Cristiano não respondeu nada e escuto o barulho do telefone caindo e depois a ligação também.
Fiquei sentada na cama, imóvel, não sabia o que fazer. Meu Deus, como era horrível se sentir sozinha. Chorei, era a única coisa que eu sabia fazer.
Dez minutos depois o meu celular toca, era os pais da Helena.- Cristiano, me desculpa, essa não era a melhor forma de vocês ficarem sabendo de uma coisa dessa, mas eu não aguentei mais guardar esse segredo. Eu estou com medo...
- Eu não acredito que ele fez isso com a minha menininha. - Ele chora - Estamos viajando essa noite mesmo. Vou falar com os seus pais para irem conosco, você precisa deles. Eu vou matar o Fernando com as minhas próprias mãos.
- Por favor, venham logo. Eu estou com muito medo do que ele pode fazer com a Helena.
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DEGUSTAÇÃO | Eu morri naquele dia
Non-FictionO mundo está tão cheio de maldades, que às vezes dá medo até pisar os pés na rua. Mas o que fazer quando a maldade está dentro da sua própria casa? Era pra ser um dia comum, como qualquer outro. Helena não imaginava que teria sua inocência brutalm...