"Eva"
Eu não acreditava que estava ouvindo tudo aquilo. Quando Helena me segurou daquele jeito, fiquei surpresa e cismada, então fiquei encostada na parede fora do quarto dela e ouvi cada palavra daquela conversa que perfurou os meus ouvidos. Parecia um diálogo vindo de filme de terror.
Quando ouvi os passos do tio dela saindo do quarto, me escondi no banheiro que havia ali perto. Quando o vi descendo as escadas, fui para o quarto da Helena e a vi parada no meio dele.
Eu já estava me acabando em lágrimas e quando vi o rosto da minha amiga, me desesperei ainda mais. Corri em sua direção e a abracei forte. Queria que pelo menos um pouco de toda aquela dor que ela sentia, passasse pra mim. Eu não conseguia falar nada, eu só a apertava e ela me apertava de volta, também chorando.
- Que história é essa, Helena? O que ele fez com você? Por que você nunca me contou? Meu Deus, como eu nunca percebi isso? Me perdoa, eu sou uma péssima amiga. Por que você aguenta isso? Por que nunca denunciou? Por que nunca falou? Quando isso começou? Eu não vou aguentar guardar esse segredo, ele precisa pagar pelo que fez, eu quero matá-lo... - Começo a falar sem conseguir parar.
- Não Eva, você tem que me prometer que nunca vai contar a alguém, por favor. - Ela me implora.
- Por que Helena? Você não pode continuar passando por isso.
- Eu não me importaria se ele ameaçasse só a minha vida, eu mesma já tentei acabar com ela...
- Ah meu Deus, o que?! - Choro ainda mais, levando minhas mãos a boca.
- Mas ele também ameaça a vida dos meus pais. Se ele é louco de fazer isso comigo, com a filha do próprio irmão, ele também é louco de matá-los. Acredite, ele seria capaz de fazer isso, só para me ter só para ele. E tem mais, e se ninguém acreditasse em mim? Você viu como todos o amam e o acha maravilhoso, engraçado? Poderiam falar até que eu gostava disso tudo, já que eu passei tantos anos sem contar a ninguém.
- Desde quando? - Pergunto.
- Ele me matou aos 10 anos. De lá pra cá, eu só fico andando pelo mundo, porque por dentro eu já morri, amiga. E não se ache uma péssima amiga, você é a única coisa boa que consegue me fazer esquecer de tudo por um tempo.
- Desculpa por ter acreditado quando você dizia ser louca. Era maneiro ter uma amiga louca, sabe?! Quando você chorava e em seguida tinha ataques de risos e depois começava a chorar de novo.Nesse momento, Helena começou a rir histericamente e eu fui rápido até ela e a abracei. No minuto seguinte ela começou a chorar.
- Tudo vai mudar a partir de agora. Juro que vou te proteger, ele não vai mais triscar um dedo sequer em você. Ele não vai saber o endereço da nossa casa, eu prometo....
- Tudo bem por aqui? - Sou interrompida pela Monique que surge na porta.
- Tudo bem sim, mãe. - Helena começa a sorrir enquanto limpa as lágrimas e eu limpo as minhas. - Eva acabou de me contar uma história triste sobre uma prima dela e começamos a chorar que nem idiotas.
- Tem certeza que é só isso mesmo? - Monique pergunta, parada a nossa frente.Quis desmentir a Helena e falar que não, não estava tudo bem. Queria perguntar como ela não via o que acontecia bem debaixo do nariz dela.
- É isso mesmo, uma história muito triste, depois a Helena te conta. - Falei.
- Ok. Mas agora é hora de alegria e lá embaixo está cheio de sobremesas na mesa. O que acham de acabar com eles?
- Tudo bem. - Helena responde.
- Vamos descer então. - Digo e seguimos Monique.Me sentia pesada agora que tinha descoberto aquele segredo e me pergunto como Helena consegue carregá-lo a tanto tempo.
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DEGUSTAÇÃO | Eu morri naquele dia
Non-FictionO mundo está tão cheio de maldades, que às vezes dá medo até pisar os pés na rua. Mas o que fazer quando a maldade está dentro da sua própria casa? Era pra ser um dia comum, como qualquer outro. Helena não imaginava que teria sua inocência brutalm...