A Ameaça Mascarada

1 - Ciúmes, Desculpas e Encontros

As aulas foram passando até chegar o intervalo, Carla se senta no lugar de sempre esperando o pessoal, até que vê ao longe James andando com Suzy. William chegou logo depois, virou para ela e disse:

— Carla, preciso do seu conselho.

— Não acredito nisso, não mesmo.

— Por que? Você não dá conselhos tão maus assim! Bom, eu acho.

— Não William, tô falando do seu irmão andando com a metida da Suzy.

Ele procura na multidão até que acha os dois.

— Por que? Tá com ciúmes? — e da uma risadinha.

— Não, claro que não, é que essa garota é metida e chata.

— Não acho não. Lembra semana passada que nós do 1º ano fomos fazer uma atividade com o povo da sua sala? Eu conversei um pouco com ela e é alguém muito legal.

— Tá defendendo ela agora, é? De que lado você está William, me responde! — Carla fazia drama.

— Para tá, você só pegou ranço dela porque acha que ela tá afim do meu irmão. Vim aqui te pedir um conselho e tu nem me ouviu.

— Foi mal, me fala. Que conselho você quer?

— Então, queria chamar o Maicon pra sair, o que acha?

— Acho que já devia ter feito isso faz tempo. Ele tem me contado mesmo que a relação de vocês tá quieta e que queria tomar alguma atitude, só não sabe direito qual.

— Ele te disse isso! Vem cá, o que ele mais fala de mim? — pergunta com curiosidade.

— Nada ué — finaliza a garota e dá uma risadinha, só que sua cara muda de engraçada para raiva no momento em que vê James e Suzy se aproximando.

— Oi Carla, oi mano — disse James.

— Oi gente — falou Suzy.

— Oi — responde William.

— Ai Carla, obrigada por ter deixado eu entrar no grupo de vocês, não vão fazer o trabalho sozinhos, vou ajudar em tudo — falou Suzy.

— Que bom, é o mínimo que você pode fazer — solta Carla e logo percebe que soou um pouco grossa e tenta corrigir — Quer dizer, é o mínimo que podemos fazer, tenho certeza que você vai nos ajudar.

— Sim, claro — diz Suzy meio sem graça.

William vendo que o clima estava ficando meio tenso inventa uma desculpa para cair fora:

— Então gente, vou lá falar com o Maicon e já volto — e saiu andando.

Jhonatan estava sozinho, Denyse tinha ido conversar com algumas amigas e ele aproveitou o momento para fazer algo que queria mas que também não tinha coragem: Pedir desculpas a Roberto.

Já fazia mais de um ano desde que Roberto tinha ido embora. Depois do que aconteceu com Maicon ele foi sem se despedir. Agora Jhonatan estava arrependido, o garoto era seu melhor amigo, seu companheiro, os dois passavam horas jogando vídeo game e se divertindo, por um preconceito ridículo tinha perdido sua amizade mas estava disposto a se desculpar. Passou as últimas semanas tomando coragem e finalmente conseguiu, não esperava que o garoto aceitasse as desculpas, só queria tirar esse peso das costas. Pegou o celular, foi nos contatos e ligou, chamou e chamou, cada toque era uma gota de suor frio que escorria de sua testa pois não falava com ele desde o incidente. Até que depois de um tempo alguém atendeu, uma voz que ele conhecia muito bem, do seu melhor amigo, uma pessoa que sentia falta.

— Alô, quem é?

— Roberto, sou eu, Jhonatan.

— Jhonatan? — a voz do garoto ficou tensa — Nem sabia que era você, apaguei seu número da minha agenda a muito tempo.

— Eu suspeitava disso. Olha só, queria te dizer uma coisa e por favor, não desligue, só me ouça e depois se quiser pode desligar.

— O que foi, fala?

Ele respira fundo, enche o peito de ar e diz:

— Me desculpa.

William procurava Maicon, não o achava, Aonde que esse garoto se meteu? Pensava, até que o viu conversando com um grupo de pessoas, não sabia quem eram mas num instante se lembra. Maicon fazia karatê, era uma coisa que ele levava a sério, gostava e se divertia, lutava como hobbie e às vezes até ia em campeonatos fora da cidade. Esse pessoal era seus colegas de lá, já tinha os visto uma vez quando esperou Maicon no final do treino para irem até a casa da Carla juntos.

Ficou com vergonha de se aproximar, pensou: Esses são os amigos dele de lá, talvez não goste de misturar sua vida escolar com a que tem fora. Até que o garoto o viu e o chamou:

— William, vem cá.

Percebe que não tinha opção e vai.

— Galera, esse é o William, o meu...

— Amigo, sou amigo dele.

— É isso, meu amigo? — responde Maicon meio confuso.

Uma garota de cabelo ruivo que estava entre eles disse:

— Ahã, sei, amigo né! — dá uma risada — Tá então, a gente se vê mais tarde no treino. Se cuida em Maicon e pelo amor de Deus, melhora essas notas — assim todos se despediram e a seguiram.

Maicon se vira para William sem entender nada e solta:

— O que você tem?

— Nada, ué, por que?

— Não sei, na hora que eu ia te apresentar pra galera você fez questão de dizer que era meu "amigo", parece que não queria que soubessem que somos... — de repente ele fica sem fala — O que a gente é mesmo?

— Então, a gente não é nada, somos amigos, e não sei, talvez você não quisesse que eles pensassem quem eu e você somos algo a mais.

Maicon da uma risada e explica:

— Tudo bem William, a galera do karatê é de boa, sabem que eu sou gay. São pessoas do bem e não preciso ficar fingindo que meus namorados são meus amigos pra eles.

— Bacana, você não precisa fingir que é outra pessoa.

— Não. Eles são como uma segunda família pra mim, e tenho medo de que deixem de ser.

— Por que?

— Por causa da minha mãe. Posso dizer que minhas notas não estão muito boas e ela disse que se eu não melhorar vai me punir, e essa punição é: me tirar do karatê. Ela não pode fazer isso comigo, não mesmo, quer me atingir aonde mais dói, não acredito. Tenho que melhorar até o fim do bimestre, senão, já era.

— Vixi, pena que nem te dar aula eu posso, tu é do 2º e eu do 1º. Mas não sei, vê com a Carla ou alguém da sua sala.

— Tenho que ver mesmo. Física, química e matemática é uma droga. As pessoas que inventaram isso eram desocupadas pra caramba. Tá certo que algumas coisas vou usar na vida mas nunca vou chegar numa padaria e pedir x=2 elevado a 4 de pão.

William começa a rir, pensava da mesma forma que ele.

— Por isso eu gosto de você, me faz rir. Até esqueci pra que eu queria te achar.

— Você estava me procurando? — pergunta Maicon — Pra que?

De repente William se lembra, toma coragem e fala:

— Você quer sair comigo? E sim, é um encontro. Não sei, tava pensando aqui e nunca tivemos um de verdade, quero dizer, um que tivéssemos a consciência de que era. Então, você aceita?