Dia 13

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Alice estava em um dia ruim. Não tinha feito o cabelo e, dessa forma, teve de sair com um rabo de cavalo. Alice detestava rabos de cavalo e como ficava com o penteado. A roupa também refletiu seu estado de espírito e, por conta disso, pegou uma calça jeans e uma camisa qualquer, saindo de casa em seguida.

O ponto de ônibus estava normal. Na verdade, ela nem ao menos teve curiosidade de olhar para os lados. Havia nada de interessante para se olhar mesmo.

O ônibus não demorou a chegar. Cheio, como sempre, Alice pagou o cobrador e passou pela catraca. Para a sorte da garota, dois lugares ficaram vagos naquele instante, um ao lado do outro, então ela sentou na ponta e deixou o lado da janela vago. Um cara parou perto da sonhadora e Alice se virou de modo que desse para ele sentar no banco vazio. Assim que se acomodou, ela vislumbrou um cara loiro, o cabelo baixinho e a pele tão branca quanto a dela.

Nada mal, pensou.

Ele não cheirava a nada, mas o calor que sua pele emanava a puxava de um jeito inexplicável. Sentia-se em casa ao lado dele e, por alguns segundos, quis deslizar para mais perto e se aconchegar nos braços com músculos na medida certa. Logicamente não o fez, mas chegou para mais perto discretamente, de modo que seus braços se tocassem.

Alice poderia muito bem ter sentido os tais choques elétricos, tamanha sensação agradável. Ela não os sentiu e, tinha que admitir, não acreditava que pudesse algum dia. Choques elétricos eram mitos. Entretanto, o calor entre suas peles os atraía de modo que não conseguiam se separar.

Talvez o cara loiro tenha notado o que Alice fez, mas nada disse. Continuaram assim por um bom tempo, o braço esquerdo da garota em contato com o direito do rapaz e todo aquele mau humor se esvaiu de sua alma. Ela ainda mantinha o semblante fechado, mas por dentro hiperventilava.

Alice teve medo que o ponto de descida dele chegasse e ela perdesse o contato, assim como não queria que o seu chegasse também. Podia parecer clichê, mas ela não queria sair dali tão cedo. Alice estava em paz consigo mesma em meio a tantos problemas que estava passando.

Pensou em puxar assunto, mas o que iria falar? Assim que descessem do ônibus, nunca mais iriam se ver e tudo terminaria. Quando ele tirou o braço do seu para coçar o rosto, Alice sentiu frio no local antes unidos. Parecia que estava dentro daqueles romances, com todos os sentimentos confusos que as mocinhas viviam com o cara certo.

A sonhadora ficou surpresa quando ele uniu os braços novamente; quis gritar de felicidade, mas se conteve e continuou com a mesma expressão rabugenta. Ele pareceu sorrir, mas Alice não teve coragem de olhar para confirmar.

Em um dado momento, a perna do loiro tocou a dela e ambas não estavam nem um pouco perto como seus braços. Ao invés de gritar de felicidade, o rosto de Alice se esquentou de vergonha e teve vontade de rir pelo nervosismo. Não se fez de rogada e as manteve unidas, assim como os braços. Queria que ele se virasse e falasse com ela. 

Por que só Alice tinha que tomar uma atitude? 

Ela poderia muito bem cometer uma loucura, mas não o fez. Seu lado racional ainda estava ligado e permaneceu daquele jeito, apenas curtindo as sensações que faziam seu corpo esquentar.

Para sua infelicidade, seu ponto chegou. Levantou como se nada tivesse acontecido, pegou a mochila e jogou nas costas, indo em direção à saída. Sua camisa estava um pouco curta, qualquer movimento revelaria a cintura. A bolsa nos ombros fez isso. Alice captou os olhos do rapaz presos em sua barriga lisa, logo em seguida subindo para os seus.

Ela desviou os olhos, sorrindo torto.

Queria que ele pedisse seu número, seu Facebook, perguntasse seu nome... Mas nada aconteceu. Desceu do ônibus feliz e triste ao mesmo tempo. Aquilo nunca teria dado certo.

Caixinha de Sonhos da AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora