Dia 4

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Alice queria ser criança novamente. Voltar a sorrir com leveza e sem algum motivo aparente. Correr pelas ruas atrás de bolinhas de gude e convidar o vizinho para se juntar a ela. Como amigos. Como velhos amigos que deveriam ser para todo o sempre. Mas a realidade não era essa, e Alice se pôs a expulsar tais pensamentos da mente. 

Ah, doce infância

O cheiro adocicado de algodão doce lhe impregnava os sentidos. Girava e girava no gira-gira, o pescoço pendido para trás, absorvendo os raios de luz em sua pele pálida. Escutava o barulho das outras crianças ao seu redor se divertindo, o sorriso mal contido no rosto. Do outro lado, seu pai a fitava igualmente sorridente, o orgulho visível nos pontinhos esverdeados nos olhos comprimidos.

Seu peito doeu. Uma dor física. Soube que deveria parar de pensar.

A realidade a abateu, dura e cruel. Queria voltar no tempo mais que nunca. Estava presa em uma dimensão que não lhe pertencia. Desejava poder simplesmente esquecer e se livrar de todos aqueles demônios que a atormentavam.

Sentia muito medo. Medo de que não fosse boa o suficiente para chegar aonde queria, se era que havia um lugar para ela naquele mundo tão estranho.

Enxugou a lágrima grossa e salgada que escorria pela bochecha saliente, vestindo a máscara de indiferença. Sua mãe entrou no quarto e ela abaixou a cabeça para disfarçar o nariz vermelho.

Suzanna não disse nada. Ainda que Alice tentasse esconder o que sentia, seu rosto era um livro aberto de emoções. Até mesmo Suzanna, tão insensível para captar os sentimentos humanos, podia enxergá-los claramente e tocá-los se quisesse, tamanha solidez do calor dos pensamentos de Alice.

Caixinha de Sonhos da AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora