Prólogo

731 17 4
                                    

Indiana Jones

E as Relíquias de D. Sebastião

 

Prólogo

O logo da Paramount surge na tela... E se transforma num monte de comida sobre um prato.

A mistura, que se assemelha a uma repugnante lavagem, é carregada por um rapaz de uniforme policial e quepe caquis, um cassetete pendurado ao cinto. Segue sozinho por um escuro e úmido corredor, ratos gordos fugindo para dentro de frestas no chão e buracos nas paredes conforme o humano se aproxima. Por pequenas aberturas no teto, alguns pálidos raios de sol logram penetrar naquele asqueroso ambiente.

O guarda pára diante de uma espessa e pesada porta de metal enferrujado no final do corredor, devidamente trancada. Depois de um longo bocejo, visto que não dormira bem na noite anterior, ele dá duas pacientes batidas na entrada do cárcere e, depois de alguns segundos sem resposta do lado de dentro, resolve ele mesmo abrir o pequeno buraco retangular na extremidade inferior, por onde costumavam ser entregues as refeições aos presos. Ele empurra o prato através da passagem e vai embora bocejando mais uma vez.

Dentro da cela de aproximadamente quatro metros por três, suja, fria e incômoda, desprovida de qualquer colchão ou superfície macia para dormir e com apenas um orifício no piso para as necessidades fisiológicas, um prisioneiro encara a comida com desgosto. Raivoso, desfere um decidido chute no prato, fazendo toda a gororoba voar ao redor, colorindo temporariamente as cinzas paredes da cadeia. E, desalentado, porém decidido a encontrar uma maneira de sair dali, o bravo doutor Jones dá um suspiro.

Não tinha idéia precisa de há quanto tempo estava ali. Fora encarcerado após ser desprovido de seus fiéis chapéu, jaqueta e chicote, vestindo agora uma camiseta imunda e rasgada, calças em não melhor condição e botas surradas. O que sobrara de sua agitada aventura na Serra dos Martírios, e com isso tudo já contava meses longe de casa e da universidade!

Indy senta-se bufando. Sua situação não era nada animadora. Confinado numa prisão política, incomunicável e tratado de forma pior que a um cão! Se não tivesse baixado a guarda, talvez não houvesse sido capturado pelas tropas do governo na pousada em Vila Nova dos Martírios, logo após a descida da serra. E sabia que seus algozes desejavam saber o que havia encontrado lá, e por qual razão travara feroz duelo armado com membros do Movimento Integralista no sertão. Sem dúvida uma história e tanto...

Perdido em meio a lembranças opacas devido à carestia e embrionários planos de fuga, Jones ouve passos no corredor e logo depois a porta da cela é destrancada e aberta. A figura de um soldado caqui aparece, informando ao prisioneiro num tom de voz que tenta impor autoridade:

–       O comandante quer vê-lo!

A contragosto, Indy levanta-se com cara fechada, é algemado e acompanha o guarda para fora.

Brasil, 1938.

O prisioneiro foi conduzido até uma sala cujo aspecto não diferenciava muito do resto da construção, já que também era sombria e mal-cuidada. Sobre uma mesa havia alguns aparelhos de comunicação, como rádio e telégrafo, e um mapa do país numa parede, ao lado de um retrato do presidente Getúlio Vargas. Doutor Jones foi sentado e amarrado por dois guardas a uma cadeira velha que dava a impressão de que ia desmontar a qualquer momento sob o peso do arqueólogo, no centro do local. A alguns metros de distância, uma porta de ferro foi aberta rangendo, e o comandante surgiu, rígido e sempre enigmático. Indy sabia o nome dele, ouvira da boca de um dos vigias certo dia. Filinto Müller, homem na chefia da polícia política do atual governo brasileiro, que vinha mantendo relações amigáveis com a Alemanha de Hitler.

Indiana Jones e as Relíquias de D. SebastiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora