Capítulo 8: Fulco e sua embaixada

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Capítulo 8

Fulco e sua embaixada.

Na manhã seguinte a viagem prosseguiu, os aventureiros percorrendo o solo etíope em seus camelos, Maputo e Luzia protegendo-se do sol por meio de turbantes e Indy através de seu chapéu. E, conforme venciam aquela terra repleta de acidentes de relevo, avistavam, ora afastados, ora próximos, os elementos que a tornavam única.

Destacavam-se na paisagem igrejas, capelas e mosteiros, vários deles construídos muitos séculos antes, dado o remoto estabelecimento do cristianismo copta naquela região. Alguns dos santuários situavam-se no topo de montes e serras, pendendo sobre escarpas e precipícios, ficando assim quase inacessíveis a visitantes. Mas o que mais maravilhou os estrangeiros foram os antigos templos escavados junto à rocha de encostas. Segundo as crenças locais, os primeiros deles haviam sido estabelecidos por um homem branco que trouxera a religião cristã à Etiópia, por volta do século IV. Talvez algum distante apóstolo de Cristo, já que segundo a tradição alguns deles evangelizaram regiões longínquas, como Tomé, que supostamente pregara na Índia.

Toda essa memória era reforçada pelo constante elo entre os etíopes e os israelitas durante a Antigüidade, desde o bíblico monarca Salomão até Baltasar, rei-mago considerado originário da Abissínia. Aquela era mesmo uma terra mística, lendária e devota, a cujo rico repertório de grandiosas histórias se somava, agora, a procura pelo lugar onde repousava o desaparecido D. Sebastião.

–       Indy... – chamou a portuguesa, olhar perdido no vasto cenário.

–       Sim?

–       Quem foi o primeiro português a viajar por estas terras?

–       No final do século XV, o rei de Portugal, D. João II, enviou duas expedições em busca do lendário Preste João, cujos relatos já se propagavam pela Europa há tempos: uma por mar circundando a África, comandada por Bartolomeu Dias, que acabou por ser o primeiro a contornar o infame Cabo das Tormentas, e outra por terra, composta por Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva. Os dois atravessaram os domínios árabes no caminho disfarçados de mercadores, mas apenas Pêro conseguiu chegar ao reino abexim, que identificou como sendo o do Preste, porém desprovido de todas as maravilhas que os mitos apontavam. Como era costume dos anfitriões não deixar que os visitantes estrangeiros partissem, Pêro da Covilhã acabou permanecendo na Etiópia pelo resto de sua vida, nunca mais vendo a esposa que tinha em Portugal. Casou-se de novo com uma mulher local e teve muitos filhos e terras, de acordo com o que se conta.

–       Vocês estão procurando então o Preste João? – inquiriu Maputo, sorrindo. – O rei poderoso que os brancos vinham buscar nestas terras? Quando eu era criança costumava ouvir algumas histórias sobre ele, boa parte delas criadas pelos europeus... Porém havia os que insistiam existir um soberano escondido em algum desfiladeiro no sul, governando uma grande cidade toda esculpida entre as montanhas, descendente direto dos reis das Escrituras. Poucos foram confirmar se isso é verdade ou não, e um número ainda menor conseguiu retornar. Esses, porém, juram de pés juntos terem visto o Preste e seus súditos. E, entre outras coisas fantásticas, afirmam que por lá ninguém nunca adoece.

–       Como assim? – perguntou Jones, olhar cheio de curiosidade.

–       Se vocês conseguirem chegar até lá, talvez descubram...

O arqueólogo coçou o queixo coberto por uma barba rala e fitou Luzia, que parecia igualmente intrigada com o relato do guia. Até que ponto a lenda do Preste João era verdadeira? O que realmente encontrariam ao fim daquela jornada? Estavam confusos, e realidade e fantasia se misturavam cada vez mais conforme avançavam por aquele território que, inegavelmente, tinha um quê muito forte de mágico.

Indiana Jones e as Relíquias de D. SebastiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora