Epílogo

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Epílogo

A agitação intensificou-se no interior do Savoia-Marchetti assim que aqueles nele presentes compreenderam o destino ao qual pareciam condenados. Fulco, ainda segurando a espada de D. Sebastião, recuou pelo corredor até a caixa aberta contendo as relíquias do rei, permanecendo de pé e imóvel, um dos braços apoiados numa poltrona próxima, enquanto fitava fixamente os despojos. Ao mesmo tempo em que aparentava estar num momento de intensa contemplação, o coronel também se concentrava para conseguir raciocinar, tentando pensar em algo o mais depressa possível.

Lorenzo e Antonello desistiram de tentar deter Luzia, decisão facilitada pelo fato de estarem levando uma surra da portuguesa, e passaram a buscar desesperadamente um meio de se salvarem. A dupla correu até um par de pára-quedas pendurados junto a alguns assentos do avião, apanhando-os num piscar de olhos. O primeiro, enquanto colocava o equipamento nas costas, virou-se para o comandante e, sem medo, resolveu descontar toda a raiva que acumulava dele já há um bom tempo:

–       Pode afundar com o seu precioso tesouro arqueológico, coronel! Nós estamos desertando!

Em seguida abriu a porta da aeronave num chute, resmungou mais alguma coisa em voz baixa e pulou. Já o amigo assentiu com a cabeça, fez uma careta para o superior e então também saltou do avião em queda, pouco depois os dois pára-quedas brancos sendo abertos acima do Mediterrâneo...

Todavia, Fulco nem sequer percebeu a insubordinação de seus soldados. Ele precisava pensar, pensar! Seu cérebro trabalhava a mil enquanto sua visão passava pela armadura, pelo elmo... As relíquias pelas quais tanto lutara...

Indiana deixou a cabine de pilotagem, na qual os controladores tentavam desesperadamente reverter a situação do vôo, passou pelo compenetrado militar fascista, que não o atacou, e juntou-se a Luzia. Os demais combatentes inimigos estavam todos desacordados. Só havia mais dois pára-quedas disponíveis.

–       O que vamos fazer agora, Indy? – indagou a moça, agarrada a uma poltrona e alternando o olhar entre a saída do avião e a caixa com D. Sebastião.

–       Se pudéssemos encontrar uma maneira de escapar com as relíquias... – murmurou o arqueólogo, que também não desejava deixar aquele valioso achado se perder novamente.

–       Indy... Eu não queria deixá-las para trás, mas... Não acha que nossas vidas são mais importantes? Será que ainda não viu isso, mesmo quase morrendo no reino do Preste?

Ela tinha razão. Não adiantaria nada salvarem as relíquias, mas não poderem viver para entregá-las às pessoas corretas, no caso, o povo de Portugal. Doía muito a alguém como o doutor Jones, que perseguia artefatos antigos e lendários há muitos anos, e também a Pessoa, que procurara concretizar o intento do falecido pai, permitir que os restos mortais do tão almejado rei tornassem a desaparecer... Porém era a opção mais sensata naquele momento.

–       Vamos dar o fora! – exclamou o norte-americano, decidido.

Enquanto pegavam os pára-quedas restantes, Fulco começou a soltar contínuas risadas, não demorando muito para que se transformassem em gargalhadas. Voltando-se para o coronel, Indy e Luzia ouviram-no falar, com os dentes cerrados e olhos de um indivíduo que já perdera a razão:

–       Vocês não passam de covardes! Sua retirada apenas evidencia a minha vitória! As relíquias são propriedade do Dulce, que me encarregou pessoalmente de levá-las até ele! Permanecerei com elas até o fim, visando a glória do bravo povo italiano!

O coronel estava totalmente enlouquecido, disposto a batalhar até o final para o cumprimento de sua missão. E isso incluía abrir mão de sua própria vida. Ela valia menos que seu dever.

Indiana Jones e as Relíquias de D. SebastiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora