Capítulo 2: O rei oculto

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Capítulo 2

O rei oculto.

Indy e Luzia assistiram ao nascer do sol sentados numa das mesas do famoso café Martinho da Arcada, cuja origem remetia ao século XVIII. O arqueólogo tomava uma caneca de café e a encantadora jovem, por sua vez, bebia delicadamente uma xícara de chá. Jones não conseguia ocultar sua fascinação pela jovem, que dissera a ele ter vinte e três anos de idade. Fitava-a maravilhado a todo instante, e ela, que já percebera isso, aparentemente ignorava a opinião que o norte-americano tinha a seu respeito. Ao menos naquele momento, isso não a interessava nem um pouco.

–       Aqui é bem agradável... – murmurou ele, já há alguns minutos sem dialogar com a portuguesa.

–       Sim, era o local preferido do meu pai... Ao menos foi o que minha mãe me disse.

–       Por quê? Você nunca o conheceu?

–       Nunca. Ele faleceu há algum tempo sem saber que tinha uma filha, mamãe jamais contou a ele, mesmo eles tendo trocado cartas por vários anos. Ela me revelou quem era meu pai apenas quando completei vinte e um anos, desde então me mudei de Évora para Lisboa e passei a procurar saber mais sobre ele e como vivia.

–       Sinto muito... Eu também nunca tive a oportunidade de me comunicar muito com meu pai...

–       Ele também veio a falecer?

–       Não, ele está bem vivo! O problema é que sempre colocou a necessidade de encontrar um artefato místico de dois mil anos acima de educar e dar carinho ao próprio filho.

–       Mas ele ainda vive. E nunca é tarde demais para se reaproximar dele. Não perca essa oportunidade, Indiana, pense nisso.

–       Eu vou tentar...

Seguiram-se alguns instantes com ambos encarando um ao outro, até que um garçom chegou com um prato de biscoitos amanteigados que foi colocado sobre a mesa. Apanhando um deles, Indy perguntou a Luzia antes de dar a primeira mordida:

–       Como se chamava seu pai?

–       Ele era poeta, infelizmente não sendo reconhecido em vida apesar da mágica do que escrevia tocar fundo a alma... Fernando Pessoa.

–       Está brincando? Eu já ouvi falar dele! Tenho um amigo chamado Marcus que aprecia literatura e já leu algo que seu pai publicou em inglês! Aliás, você é bastante fluente nessa língua, quase não tem sotaque!

–       Obrigada. É que passei um tempo na Inglaterra durante a adolescência, então acabei me aperfeiçoando.

As construções e monumentos da Praça do Comércio imersos no céu alaranjado do alvorecer eram algo bonito de se ver. Os dois contemplaram calados tal cenário digno de uma pintura durante dois ou três minutos, até que Jones voltou-se novamente para a jovem e falou:

–       Só ainda não entendo como alguém tão... Enfim, como alguém como você estava num botequim do porto repleto de capangas do Ramirez!

Luzia deu uma graciosa risadinha e então explicou:

–       Como eu disse venho pesquisando muito sobre meu pai, e acabei descobrindo uma obsessão dele. Na verdade até diria que é uma obsessão de quase todo o povo português nestes dias difíceis, porém papai conseguiu algo mais concreto a respeito. Segundo os diários dele, adquiria periodicamente através de Ramirez, sem saber que era por meio de contrabando, manuscritos antigos provenientes do Marrocos. Eu passei então a freqüentar os lugares onde Joaquim tem influência na esperança de poder falar com ele pessoalmente sobre o que exatamente meu pai descobriu, já que não deixou anotações precisas.

Indiana Jones e as Relíquias de D. SebastiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora