Capítulo 2

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"É engraçado esse mundo, em que estranhos viram melhores amigos e os melhores amigos viram estranhos."

A manhã passou rapidamente. Reconheci algumas caras antigas, e desconheci muita gente nova. Camila me deixou a par de tudo que tinha acontecido durante o ano que fiquei fora. 

- A Jane finalmente assumiu que estava de olho naquele nerd. Não sei como ela teve coragem de largar a postura de patricinha para se tornar a senhora nerd, mas ela fez. As 3 meninas super poderosas - um trio de garotas insuportáveis, segundo ela - desandou, souberam que aquela mais quietinha estava armando pra separar a "chefona" do namorado. 

E assim foi, durante toda a manhã. Camila se autoconvidou pra ir almoçar na minha casa. Me senti despreparada para aquilo, acabei recusando o convite sem jeito. Resolvi fazer o oposto.  Afinal, minha casa ainda não estava pronta para receber visitas. Quando cheguei da aula minha mãe estava se arrumando para sair, era dia de folga dela e eu fui uma das incentivadoras para que ela se divertisse um pouco mais. Só não esperava que fosse justamente naquele dia.

-Mãe, a senhora vai sair?! 

-Sim, não te parece lógico? - Perguntou Eva tentando ser cômica. - Você chegou cedo. A Gabi está dormindo, mas daqui a pouquinho acorda com fome. 

- Eu havia combinado de ir almoçar na casa da Camila. Ela ainda esta estudando no "Batista".  - Graças a Deus, pensei. - Tudo bem, era para eu ter avisado antes.

- Mas se você quiser eu posso ficar, era só um encontro informal com amigas antigas. Posso desmarcar.

- Claro que não, vai la e arrasa. Mostra para o mundo essa mulher incrível e super humilde que é. Só me dê um tempo para tomar banho, ta bem?

- Ta bom, ainda mais sabendo que você nem gosta tanto assim de fazer isso. Coisa rápida. 

- Ha ha ha. Piadinha sem graça. 

Subi, jogando a mochila na cama e tratei de me arrumar. Quando desci vi que minha mãe ja tinha começado a arrumar as coisas de Gabi. Ela parecia uma princesinha. Seis meses de pura fofura e já conseguia ser linda. Bochechas salientes e cabelos de uma cor quase dourada, com cachinhos ainda ralos. Garota de sorriso fácil. Minha mãe nos observava, e agradecia a Deus pelo amor que nos unia.

- Vai agora? Posso te deixar na casa da Camila. 

- Ótimo!

Achei a ideia perfeita. Talvez com o carro chegando a Camila maneirasse no ataque de nervos ao ver que levei a Gabi. Eu não sabia exatamente qual seria a reação dela. Mas me lembro de quando éramos mais novas, eu sonhando com a ideia de ser mãe um dia e ela fugindo até dos olhares das crianças que passavam na rua. Prevenir sempre foi melhor do que remediar. Se eu soubesse disso antes minha vida teria tomado um rumo diferente.

Enfim, chegamos à rua onde Camila morava. Tentei me situar. 12 meses não eram 12 dias. Aos poucos as lembranças retornavam, uma praça onde trocávamos segredos. A casa do menino estranho do ginásio, e finalmente uma camisa com estampa de uma banda de rock na janela do quarto superior. 

- Achei a casa mãe, é aquela antes da próxima entrada a direita. 

Eva chegou do seu jeito pouco discreto, buzinando. Camila viu o carro pela janela do quarto, desceu as escadas correndo e quando abriu a porta se deparou com o pequeno ser no meu colo. Sua reação foi indecifrável.

- Bem... É... Ta tudo bem?!

Antes que ela pudesse pensar algo concreto, eu precisei explicar.

- Desculpa, ou eu trazia ela ou você teria que ir la em casa. Não podia deixar a Gabi sozinha, minha mãe precisou sair. 

Você ainda vai me amar? [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora