Parecia que eu estava despencando do sonho para o pesadelo. A realidade com certeza era mais amena. A Kamila parecia não acreditar no que ouviu. Ela não retrucou. Mas não dava para esconder a pessima surpresa. Minha amiga que tinha chegado contente para salvar um vida, teve a sua abalada em um instante. Ela se sentou na cadeira onde estava antes.
- Me perdoe Mari, me perdoe. Eu não consigo acreditar... parece tudo tão...
Ela estava em choque, sem palavras, sem reação, sem emoção. Eu por um momento afirmo que não sei quem tomou mais a minha mente. Minha dor e preocupação era mútua. Eu andei na direção oposta, mais lagrimas. Será que elas realmente vão cessar um dia? Segurei por poucos instantes, e voltei até a Kamila. Me ajoelhei proximo a ela, fiz ela me olhar, seus olhos estavam como vidro. Algumas lagrimas rolavam sem nenhuma mudança no rosto dela.
- Mila, vai dar tudo certo. Eu sempre vou estar do seu lado.
O rosto dela começou a ganhar alguma expressão. Mesmo sendo de dor, eu estava mais calma. Minha mãe não acreditava no que estava acontecendo, se aproximou de mim.
- Filha, eu preciso falar com voce.
Me levantei e nos afastamos, o André tomou meu posto e ficou com a Kamila.
- Olha, lembra que o doutor disse que a Gaby perdeu muito sangue? Houve um ferimento na cabeça tambem. Eu nao quis te contar para nao te deixar mais preocupada. Mas precisamos desse doador antes que seja tarde.
***
-Mãe?
- Oi filha, to aqui do seu lado.
Só pra variar eu perdi os sentidos novamente, estava realmente fraca. Completamente debilitada. Meu corpo ja estava fraco, minhas emoções confusas. Procurei o André e ele nao estava mais la. Segundo minha mãe ele correu quando ouviu a noticia. Ele tambem nao sabia. A Kamila estava no lado de fora, em uma area verde do hospital. Eu realmente não sabia o que fazer, não tinha saida, não havia solução. Tudo que podia ser feito eu ja fiz. Me afastei de minha mãe e caminhei até uma janela de onde podia ver a Kamila, e talvez pela primeira vez na vida, conversei com Deus.
- Olha, eu não sei o que fazer. Sei que ja fiz muita coisa errada, mas minha filha não. Ela não tem culpa de absolutamente nada. Deus, ela é tão fragil, tão fraquinha. - a imagem dela sozinha numa maca de hospital me deu uma dor no peito, solucei e continuei - E eu preciso dela. Por favor, cuida dela e da Mila pra mim, eu nao sei por onde ir... O André sempre me fala de voce, como o medico dos medicos. Se depender da minha fé pra mudar esse quadro, eu creio. Eu creio de toda a minha alma. Muda tudo isso, por favor...
Enxuguei minhas lagrimas e me agarrei a boneca de pano da Gaby que tinha ficado comigo. Vi alguem com uma capa escura no meio das arvores do portão principal. E me imaginei vivendo assim, a espreita da felicidade, esperando ela acontecer... Fui até a Kamila. Tinha medo do que estava passando naquela cabecinha. Ela percebeu minha presença.
- Marina, me perdoe.
- Shi, Kamila, pare de loucura. Voce nao pode ficar se culpando.
- Mari, nao é isso... Eu precisei fazer uma coisa.
- Não importa, vamos esquecer isso.
- Mari... eu...
Ela não concluiu, olhou para a entrada do hospital, o carro de André. Me aliviei até ver ele tirando o Sergio do banco carona. Fui na direção deles, Kamila esboçou uma vontade de me segurar, mas não o fez. Senti os passos dela vindo atras de mim.
- André, para que voce trouxe o Sergio?
- Mari, minhas duvidas se transformaram em certeza.
Ele olhou para Kamila, e eu entendi. Ele continuou:
- E ainda que nao soubesse, voce deixou bem claro desde o carro que a Gaby é sua filha. Mas tive a confirmação da paternidade dela. E voce ja parou pra pensar que o pai pode ter o mesmo tipo sanguineo da filha? - Comecei a entender. - Vou levar ele agora pra fazer o exame.
Sergio não subiu logo. Ficou me encarando.
- Então quer dizer que é verdade? Eu sou pai daquela menina mesmo? Voce nunca pensou em me contar? Porque voce nao abortou?
Dei um tapa no rosto dele como nunca tinha dado em ninguem.
- Nunca mais fale isso. Eu nunca precisei de voce para educar minha filha. Voce não precisa registrar, nem interferir na vida dela.
Não pesei as palavras. Ele me olhou com a mão no rosto ainda.
- Tudo bem, eu nao vou interferir.
Ele ia saindo e percebi que joguei a ultima chance da minha filha no lixo. André correu na direção dele.
- Hei, pra onde voce esta indo? - Segurou-o pelo braço
- André, ela pediu pra nao interferir, ganhei um tapa no rosto e só me chamaram porque precisam do sangue. Ela passou mais de um ano sem me contar o que houve...
- E se contasse voce ia forçar ela abortar. Largue de criancice. Sua filha esta morrendo e talvez só voce possa ajudar ela. Voce pode ter sido um menino durante muito tempo, mas nao acredito que vai continuar sendo. Espero que o homem e pai grite mais alto.
E assim ficamos os tres, esperando a decisão dele.
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Você ainda vai me amar? [Em revisão]
RomansaDepois de ser enganada, Marina foi forçada a crescer e encarar de frente os problemas que não deveria ter, pela ordem cronológica das coisas. O peso da traição e o abandono do pai tenta sufocar uma garota que um dia foi cheia de sonhos. Você acompan...