Capitulo 14

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Sergio subiu os degraus, para meu alivio. Não nos falamos. Ele foi fazer o exame e dessa vez a demora nao foi a mesma. Para falar a verdade, não houve demora. Minha mãe demonstrou preocupação quando o doutor veio antes do esperado. Ele havia feito uma tatuagem a menos de 3 meses. IMPOSSIBILITADO DE DOAR SANGUE. Me recordei do dia. Na praia dava para ver parte dela. Um dragão que começava nas costas e dava uma volta na barriga, proximo de onde ele tinha um sinal em comum com minha filha, não tinha como esquecer.

Meu choro ecou o corredor agora sombrio do hospital. Ele estava derrotado. Não suspeitava que fosse ficar assim. Uma porcaria de uma tatuagem, sempre odiei elas, agora então... Eu nao poderia culpa-lo por isso, mas poderia me culpar, se eu nao tivesse ido até o André, ou se eu tivesse saido logo, ou se eu nem tivesse me interessado por ele. Se eu decidisse contar outro dia, ou se nem fosse contar... Acho que estava pagando por tudo que fiz de errado. Mas minha pequena nao... Será que Deus seria capaz de me punir assim? Usando minha filha? Será que Ele nao poderia ter feito isso com outra pessoa? Tanta gente madura e errando o tempo inteiro, e quem sofre é minha filha. Ja estava sem esperanças, ja sentia que poderia me despedir dela... O tempo passava e a noite chegava. Precisava falar com uma pessoa.

- Desculpa...

- Por que voce nao me contou?

- Eu poderia estragar tudo... Voce desejava alguem perfeito. Uma garota pura... E eu passo longe disso.. - Sorri com lagrimas nos olhos.

- Voce esta enganada. Eu tinha um padrão para minha vida. Mas sei o que aconteceu, e voce pra mim é a tal pessoa perfeita que voce mesma disse. O que aconteceu só te faz alguem mais forte. É verdade que muita coisa vai mudar daqui pra frente... Eu tenho uma familia, e voce uma filha...

Abaixei a cabeça com meu olhar fixo no piso sem graça.

- É isso André, eu já nao sei se depois de tudo... voce ainda vai me amar...

-Marina, achamos um doador. Pra falar a verdade ele nos achou.

A noticia chegou bem de surpresa. Como assim? Depois de tanto procurar, um doador simplesmente nos encontra? Por um instante eu chorei muito, mas só que de felicidade, era impossível não chorar de gratidão. Abracei e fui abraçada inumeras vezes. Eu ainda nao acreditava. Mas era verdade. Minha pequena estaria salva. Eu quis saber quem teria sido o anjo doador. Afinal, uma aparição assim só poderia ser de outro mundo.

- Não me pergunte, ele nao quis se identificar. Mas veio com a intenção de doar sangue para a Gabrielle, ele ja conhecia o caso.

O doutor me deixou intrigada. Kamila me abraçou, rimos juntas, mesmo com o peso que Kamila carregaria a partir daquele momento. André me abraçou até tirar meus pés dos chão e me rodar. Parecia um sonho... Finalmente. Me esqueci dos problemas e duvidas que me angustiava no dia anterior. Quando temos alguem por quem viver, vale a pena morrer para todas as outras.  

Dali em diante as coisas estavam voltando ao normal, ou melhor, estava se direcionando ao que realmente deveria ser. Sem mais mentiras. No hospital a unica dificuldade era nao deixar a Gabrielle mexer nos curativos. As vezes ela choramingava. Aquele quarto era um tédio. Em um dos dias, fui surpreendida com o Sergio nos olhando da porta. Ainda nao conseguia falar com ele naturalmente. Ele saiu sem dizer nada. Minha mãe que eu pensei até aquele instante que estava dormindo na poltrona do quarto, resolveu pensar...

- Filha, estava pensando - isso é tenso - Apesar de tudo, ele é o pai.

Ela levantou e quando chegou na porta, me perguntou como quem nao quer nada...

-Vou ali tomar um café. Quer também?

Você ainda vai me amar? [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora