O céu perdeu sua cor.
Não sei se só esta tarde ou se a mãe natureza resolveu deixar minha situação ainda mais dramática transformando minha tristeza em nuvens carregadas.
Ótimo.
Finalmente eu paro o carro. E não reconheço onde estamos. Ligo o farol e vejo que paramos em frente a uma praia a qual não faço ideia de qual seja.
Perfeito.
E então olho para Ana no banco do passageiro com os pes sobre o banco encolhida de costas para mim, e todos esses detalhes perdem sua significância. Vejo que ela parou de chorar e não suporto mais essa distancia.
Abro a porta do carro e saio sem fechá-la. Dou a volta e abro a porta do carona bem devagar e Ana não se mexe. Ajoelho a sua frente e observo seu rosto de perto. Ela parece tranquila. Tão tranquila quanto a tempestade que se ergue sobre nossas cabeças.
Fecho os olhos por alguns instantes sentindo o cheiro doce dos seus cabelos. Quando a primeira gota de chuva fria cai sobre meus olhos sinto a mão de Ana sobre meu rosto. Apesar de querer ler a expressão dos seus olhos, do seu rosto, permaneço com os olhos fechados. Ela delineia meus traços com a ponta dos dedos e quando ela tenta tocar meus labios eu abro os olhos e seguro seu pulso.
Se eu deixar ela seguir o curso com os dedos vou me distrair e no momento quero saber o que ela esta sentindo. Quero que ela me deixe entrar
Ergo as mãos e traço um ponto de interrogação no meio de sua testa.
Suas mãos se movimentam rapidamente.
- Triste, nunca tinha discutido com minha mãe assim. - Ela lê minha expressão. - Não é sua culpa estou triste mas não me arrependo. Ela precisava ouvir a verdade.
Ainda não estou convencido mas não digo isso a ela ao inves disso pergunto,
- Por que começaram a discutir? Sua mãe não foi a melhor das anfitriãs mas não me ofendeu.
Ana se ajeita no banco e coloca as pernas uma de cada lado do meu quadril e me dá um olhar estranho.
- Não te ofendeu? - Seu rosto estava um pouco vermelho e ela movimentava as mãos mais rapido ainda. - Ela sabia! Eu disse a ela que você é alergico a frutos do mar, e o que ela faz? Faz mariscos, traz droga do oceano inteiro para a mesa de jantar! Ela não só ofendeu a você como a mim tambem.
Eu seguro suas mãos.
Calma. Eu faço com os labios.
Preciso faze-la entender que eu não sou tão fragil assim. Foi constrangedor e irritante ser tratado daquela forma mas ela não pode e não vai destruir seu relacionamento com a mãe por minha causa; por mais que Cristina pareça uma harpia venenosa.
Digo isso a ela. (Gentilmente omitindo a coisa da harpia)
Ela balança a cabeça. - Você faz parte de mim agora, se ofender a você me atinge tambem.
Eu suspiro e as gotas da chuva começam a ser mais frequentes mas não saio daqui enquanto não colocar na sua cabeça que ela não vai se afastar de quem ama por minha conta por mais que ela esteja certa. São os pais dela, não posso faze-la escolher.
- Ana, eu agradeço a você por me amar a ponto de sentir o que eu sinto, de permitir que sejamos o reflexo um do outro. Mas são seus pais. Eles te amam. Tem uma visão torta das coisas mas pode ser por que ainda não me conhecem bem. Você é a garotinha deles e eu sou o cara estranho mudo e surdo que quer tomar sua virtude. Não percebe que eles me veem como vilão? Uma icognita?
- Você quer tomar minha virtude? - Ela diz estreitando os olhos. E nesse momento sei que consegui acalma-la e faze-la pensar melhor. No fundo sei que dei uma justificativa para o preconceito do pais de Ana para comigo, mas que alternativa eu tenho? Me fazer de ofendido coitadinho e colocar mais lenha na fogueira?
Com certeza não.
Sorrio passando a mão na minha barba rala. Sacudo as sobrancelhas de modo sugestivo.
Ela cai na risada.
Daria tudo para ouvir isso agora.Ana quer sair do carro e demonstrar seu amor a chuva andando na orla mas a mãe natureza parece não querer concordar com a ideia. Um clarão e sinto o chão tremer sobre meus joelhos.
Não, com certeza não vamos sair assim. Balanço minha cabeça para Ana e fico de pé.
Ela me olha implorando mas não vou ceder. Perigoso demais. Okay, admito. Amo a chuva mas não gosto de raios. Tenho minhas razões.
Dou a volta e me coloco atras do volante. Meu cabelo e roupas pingam sobre o estofado mas finjo que não me importo.
Dou partida no carro, mas acho que ele não entendeu a mensagem.
Tento de novo...
E de novo
Nada.
Então olho o mostrador de gasolina
Merda.
Não acredito que dirigi tanto a ponto de:
1 - Não saber onde estamos
2 - Acabar com a droga da gasolina e,
3 - Estar com minha bela namorada rindo descaradamente de mim por ter esquecido de abastecer.Bato com a cabeça no volante algumas vezes. Deveria ter feito gargorejo com o caldo de mariscos da mãe de Ana, pelo menos eu estaria seco e com gasolina no carro... Hum, Pensando bem melhor não
Como diabos vamos sair daqui?
Vejo Ana mexer na sua bolsa e pegar seu telefone. Ela bate nele algumas vezes mas não vejo nenhuma luz se acender. Ela me olha culpada. Esqueceu de coloca-lo para carregar.
Minha vez de apontar o dedo rir de forma infantil. Ferrados, estamos bem ferrados
Até alguém bater na janela do lado do carona.
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Desculpem a demora mas o Enem faz isso com as pessoas.
OBRIGADA A TODOS QUE ESTÃO LENDO!
Não esqueçam de interagir, recebo mensagens e dicas com todo carinho!
Beijos.
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Medo, a Coragem [DEGUSTAÇÃO - DE GRAÇA NA AMAZON]
RomanceQuarenta e oito passos separam Jhon de Ana. Na companhia incessante do silêncio desde o seu nascimento, lhe restava apenas aquilo que a visão lhe permitia. Todos os dias seus caminhos cruzavam um com o outro. Jhon nunca havia tido coragem de agir...