Capitulo VIII

1.7K 209 56
                                    

POV ANA

O que me acorda não é o toque gentil dos seus lábios, nem suas mãos acariciando meus cabelos ou o seu corpo junto ao meu. Não. Nenhuma dessas coisas, mas sim o frio que há nos lençóis ao meu lado, onde ele deveria estar.

Meus olhos ainda estão embaçados mas não impedem que as imagens de ontem a noite passem diante de mim. Ninguem nunca havia me tocado com tanto afinco, desejo e respeito.

Traço linhas com a ponta dos dedos pelo meu corpo e seus beijos ainda estão aqui. Ele nunca perdia a chance de olhar em meus olhos, me fitava como se eu fosse única, como se fosse… como se fosse a ultima vez que me veria. Um arrepio percorre me corpo e quando percebo estou ofegante só com o pensamento.

Balanço minha cabeça com minha tolice. Ele não faria isso. Eu sei que ele não fará isso. Mas mesmo assim é um pouco decepcionante que ele não esteja aqui depois da nossa primeira vez.

Levanto da cama e procuro meu celular, carteira e carregador que estão jogados em uma cômoda e vejo que os pertences dele não estão onde ele deixou ontem a noite. Pela segunda vez em menos de vinte minutos tenho um mal presságio mas dessa vez esse se prende a minha garganta e fica difícil de engolir.

Pego meu telefone e conecto ao carregador e assim que o ligo ele explode em mensagens e ligações dos meus pais. Perguntando onde eu estava, se estava bem, e pedindo para retornar a ligação.

Estavam preocupados e não é para menos. Sai de forma tempestuosa de casa depois de cuspir algumas palavras duras a minha mãe. Ainda doi lembrar do olhar magoado que ela me deu mas não me arrependo do que fiz. Não iria admitir aquilo bem na minha frente. Amo Jhon mais do que amei alguém na vida, tenho admiração por ele e o que ele se tornou depois que o conheci. Ele sempre dizia que eu era como o sol e ele a vegetação que florecia sobre a minha luz. Sorrio com esse pensamento. Apesar de ser mudo e surdo Jhon tem muito a dizer, ele sempre tinha a coisa certa a dizer.

Então, essa intolerância, e olhar superior que minha mãe dirigiu a ele, como se a surdez era o que definia sua vida e carater me fez apontar o dedo para minha mãe e dizer que ainda bem que não herdei a superficialidade de julgamento dela; que nunca esperava que fosse mesquinha o suficiente para não amar a pessoa que eu amo e que quero ao meu lado. E que se não gostasse dele, que seja, mas  respeito por ele era o minimo que deveria ter enquanto se considerava humana.

Disse que era preconceituosa.

Ela, obviamente não deixou barato e questionou minha capaciadade de raciocinar. Mas o que mais me doeu foi achar que Jhon tem uma semi-vida, que nunca seria capaz de me defender ou de me proporcionar proteção por ser um fraco.
Naquele momento minha raiva foi tanta que duvidei que a mulher que estava a minha frente, que sempre foi gentil comigo e meu pai, era mesmo a minha mãe. Não sabia mais como lidar com aquilo e sai de lá com Jhon a reboque o mais rápido que pude. Não iria chorar na frente deles. E Jhon... como foi dificil olhar nos olhos dele depois disso. Vergonha e raiva me cobria. Não pude protegê-lo dessa situação. Não pude evitar. Se tivesse feito algo não teria encontrado meu ex babaca, não teriam brigado e principalmente não estaria com essa sensação ruim no peito. Onde esta você Jhon?

Respondo as mensagens dos meus pais de forma curta e direta, dizendo que estou bem e que conversaríamos mais tarde. Minha mãe responde na hora pedindo desculpas e querendo conversar agora mas não estou pronta para isso e tenho outras coisas na cabeça no momento. Sei que vamos nos entender e que vou perdoá-la, mas não é o momento de dizer que ou ela tem respeito pelo Jhon ou teremos sérios problemas.

Meu relógio marca dez horas da manhã. E digo a mim mesmo que as onze me permito entrar em desespero. Preciso fazer o check out ao meio dia. E oro em silencio para que ele já esteja de volta de onde quer que ele esteja.

Tomo meu banho e fico sentada na cama lamentando sobre a acessibilidade da tecnologia para surdos e mudos. Jhon não tem a droga de um telefone, se recusava a ter um. Não gostava de mandar mensagens por escrito, dizia que não poderia digitar no teclado tão pequeno e já que não podia usa-lo para sua principal função preferia não ter um. Da próxima vez comprarei um tablet e vou fazer ele carrega-lo ate quando for ao banheiro.

Parece que uma batalha de bandas esta acontecendo dentro da minha cabeça porque a dor se ergue me deixando tonta e acabo de perceber que meu peito doi não é só por angustia. Meu amor pela chuva esta sendo posto a prova por que acho que vou ficar resfriada.

As onze e meia eu surto. Pego tudo o que é meu e desço as escadas correndo para falar com aquele recepcionista nojento.

Enquanto fazia o check-in ontem ele deu encima de mim me chamando de delicia e que tinha um quarto especial só para mim se eu quisesse. Soltei um filão de palavrões que deixaria qualquer caminhoneiro orgulhoso, e ele me disse outras coisas desagradeis de volta. Mas quando senti a mão do Jhon em meus ombros ele recuou. Não contei ao Jhon porque ele já tinha lidado com muito naquele dia e não precisava daquilo.

Não posso negar que murcho um pouco com a decepção quando chego no hall da recepção e ele esta totalmente vazio exceto pelo recepcionista.

- Bom dia, por acaso tem algum recado para mim? -- Eleonor esta escrito no seu crachá. Que tipo de homem se chama Eleonor? Seu olhar é rude ao me avaliar da cabeça aos pés.

- Pareço algum garoto de recados?

- Não, mas acho que faz parte do seu trabalho ter um pingo de educação.

Ele me olha por longos segundos e por fim diz:

- Não tem recado nenhum para você, seu namoradinho saiu daqui muito antes de amanhecer as pressas e fechou a conta, deve ter sido uma noite muito ruim para ele porque...

Tem um zumbido na minha cabeça que não me deixa entender o que ele esta balbuciando… Não. Ele não pode ter ido embora e me deixado aqui, sozinha… Meu Deus não. A recepção parece ter perdido seu ar abafado por que de repente estou com muito, muito frio.

Sinto uma mão segurar meu cotovelo e quando dou por mim estou sentada em uma das cadeiras do hall. Um copo dagua esta na frente do meu rosto segurado por uma mão tatuada, que esta ligada a um braço igualmente desenhado que está ligado a um corpo que reconheço.

Pietro. Meu ex namorado.

⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙⊙

POSTAGENS IN LOCO
TEM MAIS VINDO POR AÍ
BJSSSS

Medo, a Coragem [DEGUSTAÇÃO - DE GRAÇA NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora