Minha luta não é contra algo visível. Não é algo que eu possa socar, bater e chutar para longe. Não é algo que saia por um sacudir de minhas mãos ou com um sopro. Minha verdadeira luta é contra a impaciência.
É contra o tempo.
Uma vez perguntei ao Jhon porque ele não usava um relógio, por que ele nunca parecia se importar em saber que horas eram. E ele me disse que era inútil. Que as pessoas tendem a querer controlar algo que se esvai independente do que você faça.
O tempo não espera por você, Ana. Então por que me prender e me limitar a números e ponteiros?
Gostaria de ter essa liberdade de pensamento. De ir contra tudo o que sempre me disseram desde a infância: “Seja rapida, você não tem tempo. Tempo para refletir, tempo para crescer e amadurecer, tempo para se formar, tempo para ser rica.” Era o que sempre me diziam. “Seu tempo esta passando, Ana”
Meu tempo esta passando, Jhon. O nosso tempo está. Não consigo pensar como você.
Não consigo pensar assim. Principalmente aqui. Agora. Parada em frente a casa dos pais dele.
Mas preciso de respostas. Então bato na porta. Toco a campainha.
Bato palmas. Grito.
Nada.
Dou a volta pelos fundos da casa e a grama parece morta, e o
jardim sem vida.— Não tem ninguém aí.
Levo um susto. Me viro e encontro a origem da voz. Uma garotinha de olhos negros me encara.
— Se foi. — Ela diz. — Um arrepio de mau agouro me sobe e desce pela minha espinha com essas palavras.
Me agacho e fico da sua altura.
— Quem se foi?
— O moço que não fala.
— Sabe para onde ele foi?
Ela balança a cabeça em negativo agitando as tranças, mas aponta para o ponto de ônibus.
Ônibus por que, se ele tem um carro? — Penso eu.
— Beatriz?
Ela olha para a varanda e corre em direção a mulher que provavelmente é a sua mãe.
— Já disse para não ficar xeretando!
— Mas mãe… ela não sabe que eles foram embora. — a menina choraminga.
Eles?
— Espera! — Digo me aproximando da cerca que dividia os fundos da casa. — A senhora pode me dizer o que aconteceu?
Seu semblante preocupado castiga meu subconsciente. Ela se aproxima devagar.— Não sei se posso dizer muito.
— O que a senhora souber será o suficiente.
Ela suspira. — Eles deixaram a casa faz dois meses. Não tem mais ninguém morando aí. — Ela faz menção com a cabeça em direção a casa vazia.
— Eles se mudaram?
— Não, não chegou a ser uma mudança. Depois que o filho deles sumiu as coisas ficaram estranhas. Eles vinham cada vez menos para casa. Até que o marido parou de aparecer e Maria vinha algumas poucas vezes sozinha para cá. Até que não a vi mais.
Engulo suas palavras em seco.
— Mas como assim Jhon desapareceu? Ele foi embora?
— Isso é que eu não sei dizer ao certo. Um dia estavam todos juntos em casa e no outro escutei gritos e o choro de Maria. Ela veio até mim e perguntou se eu o tinha visto, mas não pude ajudar. O mais estranho é que se o rapaz sumiu, por que Maria não chamou a polícia?
Pisco diversas vezes tentando processar a informação. Além de ter desaparecido da minha vida, também desapareceu da casa dos pais?
Congelo meu rosto em uma faxada tranquila.
— Sabe de mais alguma coisa?
— Não, infelizmente. Era uma boa família.
—Tudo bem, obrigada. — Dando as costas a mulher.
— Espera, quem é você?
Penso por alguns segundos.
Meu sorriso faz minha bochecha e dentes doerem.
— Ninguém importante.
O chão parece grudento e vertiginoso enquanto vou em direção ao carro.
Giro a chave e o motor ganha vida.
Dirijo por dois quarteirões.
E volto para o mesmo lugar. Levo minhas mãos ao ventre sentido o meu bebe. O nosso bebe.
Acho que agora entendi o que Jhon dizia sobre o tempo e como não lutar contra ele. Não são os números que os ponteiros apontam que fazem o meu tempo. Sou eu quem faço o meu tempo.
E é desta forma que será feito.
Esperando.
Esperando até que a noite caia.
Ninguém desaparece assim.
Tomara que eu não seja presa por isso, mas estou prestes a arrombar a casa dos pais de Jhon.
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Medo, a Coragem [DEGUSTAÇÃO - DE GRAÇA NA AMAZON]
RomanceQuarenta e oito passos separam Jhon de Ana. Na companhia incessante do silêncio desde o seu nascimento, lhe restava apenas aquilo que a visão lhe permitia. Todos os dias seus caminhos cruzavam um com o outro. Jhon nunca havia tido coragem de agir...