Capitulo VII

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Meus pés batem no chão molhado.

A chuva ainda me cerca mas não sinto mais o frio.

Depois de buscar meus pertences e o de Ana, tranco o carro e o deixo largado no meio-fio de forma displicente.

E começo a caminhar.

E caminho.

E caminho.

Caminho até os meus pés doerem, e minha visão ficar embaçada.

Caminho até meus joelhos se cansarem.

Não sei que caminho estou tomando mas, desde que eu mal sabia onde estava qualquer caminho serve agora.

Não preciso olhar para trás para saber que ela me segue. Não tentou me tocar ou se comunicar comigo. E percebo que ela está fazendo a mesma coisa que fiz por ela enquanto dirigia e ela esgotava suas lágrimas. Me dando espaço para me acalmar. Porem, não sei de que exatamente preciso me acalmar. Já sabia que isso aconteceria em algum momento. Onde ela tentaria me esconder por vergonha de mim. Vergonha de ter ao seu lado alguém como eu.

Deus, isso soa deprimente demais.

Eu não preciso disso. Mas ao mesmo tempo eu a quero na minha vida. Preciso encontra um meio termo para tudo isso. Um equilíbrio.

Vejo carros voando na pista em meio a chuva lançando seu faróis em meus olhos, alguns jogam água suja em mim, outros passam a centímetros de me acertar mas não saio da trilha que venho fazendo desde que deixei o ex namorado de Ana estirado no chão.

Ele não estava inconsciente. Depois de um tempo ele virou o rosto para chuva, e parecia sentir bastante dor desde que quebrei seu nariz, mas nada que o incapacitasse totalmente. Em algum momento ele estaria em seus próprios pés levando sua ignorância e insignificância para algum lugar seco.

Vejo um clarão a distância e o chão sobre meus pés parecem vibrar e isso me faz estancar no lugar. Minha respiração sai mais forte e novamente um tremor fraco chega ate meus pes. Estou tentando ignorar o fato que estou agindo como um menino assustado com um raio mas não consigo evitar.

Ana me puxa rapidamente para o acostamento quando um carro passa derrapando por mim.

Continuo respirando fundo, mas não esboço reação. Ela coloca as mãos em concha no meu rosto me segurando, seus olhos de corça parecem grandes demais para o seu rosto, ate mesmo quando a água da chuva escorre pelo seu rosto como lágrimas. Seus lábios se movem rapidamente como um murmúrio, uma oração.

Ela segura minha mão. E depois disso, caminhamos.

E caminhamos.

Mais e mais.

Quando faço menção de parar ela continua me puxando.

Quando um raio cai muito perto de onde estamos ela me abraça.

Nunca contei a Ana o porque de não… de não achar o espetáculo de luzes no céu um evento a ser admirado, mas ela me observou e entendeu o que me fazia parar a cada dez minutos enquanto caminhávamos

Ana sai e entra da autoestrada algumas vezes. Até que ao longe vejo uma pensão. É cinzenta e envergada, parece um casebre mas quando entramos é bem iluminada e morna.

Ana troca algumas palavras com o recepcionista gordo que dirige seus olhos em fenda para nos. Chego mais perto de Ana pondo a mão no seu ombro. Acho que meu olhar fixo e o sangue na minha camisa o faz recuar.

Bom.

Sim, não estou me sentindo muito simpático agora. Você pode me culpar?

Nos subimos as escadas de madeira de carvalho antigo e vamos até o nosso quarto que reflete o que aquele casebre é, pequeno, bem iluminado e morno.

Enfim estamos aqui.

E ainda não me decidi. Querer ou precisar? Ainda não acredito que estou cogitando a hipótese de encerrar o que nos temos bem aqui, nesse casebre pequeno, iluminado e morno.

Ana começa a vasculhar o quarto acende todas as luzes e desaparece no banheiro, quando ela volta esta vestida somente com um roupão e traz uma caixa branca nos braços acompanhado de outro roupão, que me entrega sem me olhar nos olhos.

Entro no banheiro e encaro meu reflexo no espelho. Eu a amo. Mais do que qualquer coisa. Mas temos questões a resolver. Muito precisa ser dito e feito. Não sei se será suficiente querermos ficar juntos. Fecho os olhos e levo as mãos a garganta. Toco meus ouvidos. Minhas cicatrizes. Toco minhas debilidades e forças e as sinto.

Abro os olhos

Tomo minha decisão.  

Dou um jeito nas minhas roupas rapidamente mas não me dou o trabalho de vestir o roupão e saio do banheiro.

Vejo Ana sentada na cama esperando mas percebendo meu olhar  e meu corpo ela se levanta

Meus passos são firmes enquanto caminho até ela.

Meus lábios são exigentes ao beijá-la

Minhas mãos são hábeis ao desamarrar seu roupão.

Ela está nua e dificilmente já pus meus olhos em algo tão extraordinário.

Já tomei minha decisão.

Não importa as consequências no momento. Não importa que deveríamos estar conversando agora. Preciso segurá-la mais perto, senti-la mais perto, tão perto que não saberemos onde um começa e o outro termina. Preciso fazer isso antes de encarar o que minha decisão significa para nos.




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