Capítulo VI

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POV ANA

Eu nunca havia entendido peso da palavra conquista. E neste momento eu assumo que odeio essa palavra. Odeio quando ela é posta em um sentido romântico. Como é posta em relação a outra pessoa, como se fosse algo a se possuir. Na época eu fora uma jovem tola e inocente a romantizar essa palavra. Toda minha tolice me levou ao erro. Me levou a ele.
Conquista. Nada mais é que um fingimento. Uma injustiça. Me forçou a acreditar numa imagem que ele projetou. A fachada de homem gentil e educado. Compreensível. Quando um homem sem caráter quer conquistar algo, alguém, ele é qualquer coisa, finge ser qualquer coisa pra obter seu prêmio, seu objeto. E eu cai. Me senti desejada, satisfeita. Ate ele se cansar e demonstrar ser um homem mesquinho e vil.

Quando sai do carro esperava terminar tudo rapidamente. Eu o mandaria embora e Jhon não precisaria se envolver, nem ao menos respirar no mesmo ambiente que ele.
Mas sinceramente não esperava que ele me abraçasse e tentasse me beijar.

Desvio o rosto quando escuto a porta do carro bater e estremeço como se tivesse levado um tiro. Me afasto dele com um empurrão
Não era para ele ter saído do carro, ele não precisa lidar com isso. Não hoje quando ele já teve o pior lado da minha mãe.

— Vai embora Pietro. - Tento soar o mais ameaçadora possível, ser corajosa, quando não me sinto nenhuma dessas coisas.

Ele toma conhecimento de Jhon se aproximando de nos e não sei qual será a reação dele em saber que o meu ex esta prestes a se tornar o babaca que sempre foi.

Eu me viro para ele segurando seu braço e pisco para olhar empolado e frio que Jhon sustenta. Eu tenho que fazer alguma coisa. Se Jhon usar a linguagem de sinais vai ser munição para Pietro. Ira ridicularizar e tentar minimizá-lo. Eu não vou suportar isso. Não de novo.

Tento dizer a ele para não se envolver, para se acalmar e não tentar se comunicar comigo, mas o olhar confuso de Jhon só me deixa mais preocupada. Ele usa as mãos hábeis para exigir respostas e tento impedi-lo mas é tarde. Pietro começa a resfolegar como o porco que é dizendo;

— Um mudinho?! Ana, você me deixou por um cara que nem pode falar nem te ouvir? Não acredito que me deixou por isto.

Jhon me põe a sua frente buscando meu olhar mas no torpor da minha raiva meu gestos simples parecem difíceis de ser executados e torço para que ele entenda. Contudo não consigo manter mais o contato visual com ele por vergonha. Vergonha que pela segunda vez no dia as pessoas a minha volta tentam machucá-lo. Não tenho força para explicar tudo a ele agora e torço para que confie em mim.
Meu coração se aperta quando ele ergue o rosto aos céus como se me encarar o fizesse mal, mas quando vou chamar sua atenção as risadas de Pietro continuam a invadir meus ouvidos até que tombam meu humor de vez.

— Um mudinho, pelo amor de Deus!

E ele ri e ri e ri…

E eu me enfureço, enfureço, enfureço…

Quando percebo meu tapa sai mais forte do que esperava e estou satisfeita.

Até ele me agarrar pelo braço com força.

Depois disso a cena a minha frente se desenrola em uma dança de socos e grunhidos. E não posso fingir que não estou surpresa ao descobrir como Jhon faz com que Pietro dance conforme sua música.

Um único soco que Jhon recebe faz com que ele encerre a luta.
Pietro está no chão com um baque surdo. Não tenho certeza se perdeu a consciência ou não, mas isso não me comove. Corro até meu namorado e toco suas costas através da camisa encharcada e ele se afasta de mim como se minha mão fosse fogo em meio aquela chuva fria que nos banhava. Seu olhar é distante, frio…

Ter esse olhar dirigido a mim é torturante, impossível de não ser atingida. E apesar de todo medo que tenho sobre o que ele pode estar pensando sei que será resolvido. Sei que isso vai se esclarecer. Porque o que temos não foi fruto de  uma conquista, de um fingimento ou de um momento de agrado ao ego de ninguém. Estamos juntos para crescer e nos conhecer, nos descobrimos como nos mesmos juntos assim como uma árvore que entrelaçam suas raízes para ser sustento de algo maior. Hoje o clima não parece favorável mas essa chuva só serve para nutrir nosso solo.

Não importa o que aconteça, essa base não se perde com uma chuva qualquer.

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