Por mais quanto tempo eu ainda conseguiria manter o autocontrole antes de surtar por completo?
Caleb e eu estávamos juntos em uma viagem há quase três horas em profundo silêncio. Havíamos pousado em Florença capital da Toscana, em um vôo realizado pelo seu jatinho particular e agora seguíamos em um carro rumo ao Vale de Orcia. Uma região da Toscana atravessada pelo rio Orcia, salpicada com cidades e vilas pitorescas.
A medida com o que o carro ia avançando pela a estrada banhada por belas paisagens, meu coração se comprimia ainda mais dentro do peito. Além de triste, magoada e confusa eu estava me sentindo deslocada dentro do meu próprio país. Desde que minha mãe Giovanna, faleceu seis meses depois da tragédia do meu casamento, eu nunca mais tive coragem de voltar à Itália. A última vez que estive nessa região, fora em uma viagem de verão acompanhada pelos meus pais e Caleb.
Era inevitável olhar para aqueles campos, e não me lembrar dos momentos felizes que vivi ali ao lado da minha mãe. Era impossível não me lembrar do som da sua risada, dos seus cabelos dourados balançando ao vento, enquanto ela cavalgava pelo os campos de trigo. Sentia tanto sua falta, mesmo que meu pai se desdobrasse para preencher a lacuna que ela deixou em nossas vidas, era impossível esse buraco ser completado. Uma parte de mim morreu junto com ela naquele fim de tarde.
Deus, como eu sentia a sua falta.
Eu também não conseguia deixar de repassar mentalmente, o beijo que Scott havia me dado na última tarde. Sem duvidas ele me pegou de surpresa, eu sabia de seus sentimentos em relação a mim, mas não esperava por aquele beijo naquele momento.
Scott era a síntese de todas as coisas boas. E eu não poderia mentir em dizer que não fiquei mexida com aquele beijo, estaria mentindo para mim mesma. Eu poderia pedi para ele me esperar, mas não estaria sendo justa com ele. Também não seria justo pedi para que ele me esperasse, quando nem eu tinha certeza se um dia conseguiria amá-lo da maneira que ele merecia.
Caleb limpou a garganta.
- Você nasceu em Florença não é mesmo? - sua voz me trouxe de volta a realidade.
- Sim. - respondi sucinta.
- Mas cresceu entre Siena e o vilarejo de Pienza certo?
- Sim, por que esse assunto agora Caleb? - perguntei impaciente.
- Porque estamos na Toscana e você não parece muito contente com isso. - ele deu um sorriso malicioso.
E não estava mesmo. Ainda era muito doloroso, lidar com todas as lembranças que aquele lugar me trazia.
- Eu nunca mais voltei aqui, desde aquela ultima viagem que fizemos quando minha mãe ainda era viva. - suspirei cansada, deixando uma lagrima escapar. - É muito difícil está aqui sem ela.
Comecei a olhar para a janela, tentando esconder meus olhos marejados. Quando me virei, a surpresa: Caleb estava com a mão próxima ao meu rosto. Fiquei ainda mais surpresa, quando ele secou delicadamente com o polegar a lagrima que escapou. Afastei-me rapidamente, o que lhe fez recuar e voltar atenção a estrada.
- Sinto muito. - ele sussurrou quase para si mesmo.
Cansada e com pensamento confuso, suspirei e apoiei a cabeça no encosto do banco. Durante o restante do trajeto para Siena, Caleb tentou engatar uma conversa comigo, mas eu não disse uma só palavra. O que eu poderia dizer? Eu não estava nem um pouco feliz por estar ali com ele, ainda estava chateada pelos os últimos acontecimentos. Dentro da minha cabeça eu gritava a plenos pulmões, toda minha revolta contra ele.
Meia hora depois, Caleb parou a BMW em frente ao hotel que ficaríamos. Sob um tenso silêncio, ele desligou o motor do carro e saiu dando a volta para abrir a minha porta. Caminhamos juntos em direção ao imenso hotel com arquitetura medieval.
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Quando Novembro Acabar
RomanceCincos anos se passaram desde o dia em que Sophia fora abandonada no altar. Quando finalmente está pronta para seguir adiante com sua vida, deixando no passado todas as feridas que havia superado, um reencontro inesperado a fez perceber que estava e...