Capítulo 24

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Traída duplamente era como me sentia. Ainda não conseguia acreditar que Marion fosse capaz de armar tudo aquilo. Éramos tão amigas, praticamente irmãs. E o fato de Caleb cair em sua teia de mentiras, só me demonstrava que todo o amor que dizia senti por mim era mentira. Ele nunca confiou em mim. Não confiava que eu fosse incapaz de traí-lo.

Deslizei as mãos pelas minhas bochechas, quentes pela raiva, até meus olhos encontrassem o semblante preocupado do meu primo. Dentro de mim, tudo o que meu coração mais desejava era acabar de uma vez por todas com todo aquele sentimento que sentia por Caleb. Como eu podia amar-lo ainda, depois de todo o mal que ele havia me feito?

— Diga pequena o que aconteceu? Está tudo bem? — Valentim perguntou preocupado.

Não. Não estava tudo bem. Eu me sentia exausta física e emocionalmente. Precisava desesperadamente fugir daquele pesadelo.

—  Não há nada com que se preocupar Valentim, está tudo sobre controle. —  ele me olhou ainda mais preocupado, sem entender o que estava acontecendo — Tudo o que eu quero é chegar em casa o mais rápido possível.

—  Como não aconteceu nada? Olha o seu estado?

—  O que aconteceu não é da sua conta Valentim, por favor, entenda isso de uma vez por todas. —  respondi grossamente, mesmo que no fundo, soubesse que estava descontando minha raiva na pessoa errada.

— Desculpe, não foi minha intenção te incomodar, eu só estou preocupado com você Sophia. — Valentim se desculpou com uma expressão de frustração no rosto.

— Não precisa se desculpar. — eu respondi — Só me leve para casa, por favor. — completei amarga.

Continuei olhando para a janela com o olhar perdido entre as sombras dos ciprestes ao longo da estrada. Culpava-me por descontar minha raiva de Caleb e Marion em meu primo. Eram eles que precisavam ouvir o que estava entalado na minha garganta. Era neles em quem precisava lançar toda minha fúria.

Valentim continuou seguindo em silencio rumo à propriedade de minha família, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Mais uma vez, eu me sentia a pessoa mais perdida no mundo, mas eu me recusava arrastá-lo junto comigo para dor que estava sentindo. Mais uma vez as lagrimas tomavam o meu rosto, e o nó que eu sentia na garganta mal me permitiam respirar. Como eu poderia estar deixando novamente à pessoa que amava me magoar dessa forma?

Assustei com o carro freando de uma vez no meio da estrada, me virei assustada em direção ao meu primo, com medo de que tivesse acontecido alguma coisa. Mas tudo o que encontrei foram seus olhos frios me encarando de forma intensa. Ele havia parado faltando menos de cinco quilômetros para completar o percurso.

— O que aconteceu? Por que parou de repente? — perguntei confusa, sem entender o motivo daquilo.

— Desculpe parar dessa forma, mas como espera chegar em casa desse jeito?

— Que jeito? — limpei os olhos, tentando disfarçar as lagrimas que insistiam em sair — Não ver que está tudo bem?

— Sophia você tem todo o direito de querer não me contar o que aconteceu nesse jantar. Mas eu sei muito bem que você não está nada bem, por favor, não tente esconder o obvio. Sophia não precisa fingir para mim. — afirmou a voz assumindo um tom sério e grave, porém cheio de compreensão.

— Valentim, me desculpe pela forma que estou te tratando. — pedi depois de suspirar pesadamente. — Você não tem culpa de nada. Além disso, nada no mundo me dá o direito de ser rude com você.

Ele ficou me olhando receoso, mas por fim balançou a cabeça em sinal afirmativo.

— Está tudo bem pequena. —respondeu com um sorriso contido no rosto.

Quando Novembro AcabarOnde histórias criam vida. Descubra agora