Capítulo 14

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Peter e eu estamos indo a pé para casa porque o carro que ele costuma usar é, na verdade, de seu pai.

— Minha mãe não vai acreditar quando eu disser! — Cortei o silêncio.

Peter, que estava chutando uma pedra, inclinou a cabeça um pouco para baixo e olhou para mim.

— Sabe, achei que você fosse me odiar.

— Odiar? — franzi a testa. — Por quê?

— Eu sei lá, acho que porque eu fui embora.

— Peter, não foi culpa sua. — Sorri.

Assim que chegamos ao prédio, Peter parou e disse:

— Isso aqui não mudou quase nada. 

Adentramos o prédio, Peter ficou um pouco decepcionado pelo fato do porteiro não se lembrar dele, já que passávamos muito tempo conversando com ele, que era mais novo na época.

— Eu estou muito ansioso para ver a sua mãe. — Peter disse ofegante, enquanto subimos as escadas.

Abri a porta. Minha mãe vai se surpreender com a aparência irreconhecível de Peter.

— Mãe, cheguei!

— OH, MEU DEUS! — disse minha mãe, assim que chegou na sala. Ela abraçou Peter. — Peter, como você cresceu!

Peter sorriu de canto para mim. Será que eu sou a única que achei Peter diferente?

— Tia Jojô, senti sua falta! — Peter retribuiu o abraço.

— Aw, você não mudou nada! Afinal, você veio nos visitar?

— Bom, na verdade o meu pai conseguiu uma transferência para cá e, por sorte, estou na mesma escola que a Olívia. — Sorriu.

— Que bom que voltou! — minha mãe olhou o relógio. — Eu adoraria ficar aqui, mas, tenho que voltar para o trabalho.

— Tchau, mamãe. — eu disse.

— Tchau, Tia Jojô.

— Tchau, crianças. Olívia, eu deixei o frango no forno, almocem quando estiver pronto.

— Tudo bem.

Minha mãe acenou e fechou a porta atrás de nós.

— Viu, sua mãe se lembrou de mim.

— Eu também lembrei! — dei um tapa de leve em seu braço. — Mas você mudou. Afinal, quanto você mede? Eu era pouco menor que você quando foi embora.

— Acho que um e setenta e nove — Peter sorriu, debochado. — Olívia, você sempre foi baixinha.

Mostrei a língua em resposta. Quanta maturidade.

— E aí, você ainda tem vídeo-games?

— Acho que sim. Eu passo a maior parte do meu tempo estudando ou vendo filmes.

— E Anne e Mary?

Acho estranho ele perguntar isso, do nada, já que a relação entre eles nunca fora boa.

— Elas estão bem.

— Vocês ainda são amigas?

— Sim. Na verdade, elas inclusive moram aqui.

Peter ficou tenso.

— Tranque a porta, por favor. Eu lembro que elas jogavam balões com água em mim.

— Relaxa — sorri —, elas estão mais tranquilas. Eu acho.

— Acha? Anne derrubou café em mim!

Ri, deve ter sido hilário!

— Não ria, ela manchou meu casaco!

— Calma, Peter. Anne está na Virgínia e só volta amanhã.

— Ufa!

Ficamos em silêncio. Um cheiro incômodo começou a surgir. Eu e Peter nos entreolhamos. O frango.

Corri até a cozinha e abri o forno.

— Bom — Comecei a abanar o forno —, acho que da para salvar algumas partes.

— Oba! — Peter sorriu. — Estou morrendo de fome.

Essa é uma das coisas que eu mais amo em Peter, a capacidade de ver sempre o lado bom das coisas, é bem difícil alguma coisa abalar Peter a ponto de fazê-lo desistir.

— Hum. — Peter disse, com a boca cheia. — Isso está melhor do que eu imaginei!

— Que bom. — cortei mais um pedaço de frango para mim. — Peter, você e Ethan se conhecem há muito tempo?

— Na verdade, não, eu conheci ele porque era amigo de Joe. Por quê?

— Nada de mais.

— Vocês estão namorando?

Gelei.

— O que?! Claro que não!

— Então me dê uma boa razão para estar corando.

— São seus comentários bobos! Ethan e eu somos apenas amigos. — disse, mas percebi que Peter não acreditou e que estava desconfortável. — Peter, estou falando sério.

— Eu acredito em você!

Ah, isso não pode estar acontecendo. Preciso mudar de assunto.

— Qual seu filme favorito?

— Bom, tenho vários.

— Ah, fala sério, todo mundo tem um filme que gosta mais.

— Sério, eu não sei. Eu gosto de filmes de super-heróis.

Gargalho alto. Peter tem esse amor por filmes de super-heróis desde sempre. Nunca vou me esquecer do dia em que ele colocou uma panela na cabeça, pegou um martelo de seu pai e disse ser o Thor. Ou de quando ele passava cola nas mãos e fingia ser o Homem-Aranha.

— Ah, qual é? Foi você quem perguntou.

— Tudo bem, Thor.

— Ah, meu Deus, você ainda se lembra disso! — Peter escondeu o rosto nas mãos.

— Esse dia foi inesquecível!

Peter riu e começou a me encarar, sorrindo.

— Eu senti muito a sua falta, muito mesmo.

— Eu também. Por favor, não vá embora.

— Não, agora eu vou ficar. — Sorriu.

O momento está tão bom, não precisa acabar.

Peter pegou mais um pedaço de frango.

— Falando sério, esse frango está maravilhoso.

Agora, que estou observando a maneira que Peter come, seus comentários e tudo mais, percebo que ele realmente não mudou quase nada.

Minha lista de (não) namoradosOnde histórias criam vida. Descubra agora